
Essa digna homenagem para Pina Bausch, como pretendido pelos seus criadores, sem reproduzir nada do que fez a homenageada, consegue, no entanto, colocar, o espectador, como ela fazia, num patamar de produção de múltiplos e afetivos sentidos. Mesmo só sabendo dessa homenagem depois, o durante da obra transpirava um odor bauschiano repleto da originalidade dos corpos que a conceberam.
A obra provém de um coletivo de construções compartilhadas que exacerba seu ineditismo no simples fato de recortar da vida uma sala de estar onde os artistas vivem/são/estão/atuam durante a execução da obra. A sinceridade cotidiana, sem caricaturas de representação cênica e sem cargas de texto ou movimento, sutiliza a delícia e o nojo de sermos humanos. Retezamentos, epilépticas preces, tímidas buscas de carinho, atenções concedidas e negadas, indiferenças, proximidades e fotográficas lembranças convivem entre a mobília doméstica.

Mesmo por detrás de uma grade (que já era parte do espaço onde a obra foi instalada), as situações cênicas eram captadas como um domínio público. Não só pela proposta interativa, era possível ver cada espectador, a seu modo, encontrar-se na obra, dado que, nenhum abismo separava a "vida cênica" da "vida real", era tudo a mesma vida. Crianças, adolescentes, adultos e idosos dialogavam com a obra, conversando, perguntando entre si, dizendo um para o outro suas interpretações, refletindo em simultâneo com a obra. Isso faziam com tal propriedade/dignidade/simplicidade às vezes escassa nos ambientes da academia e da crítica de arte. Uma crítica empírica e "leiga" mostrando que nem todo o senso comum é tão comum quanto se pensa.

Isso foi uma digna situação da arte contemporânea que, despretenciosamente, propaga seu sadio veneno através dessa deliciosa maçã que era engenheiro. Essa maçã, que era engenheiro, não é um fruto artístico proibido, pode ser comida, degustada, bebida, sentida, abraçada, entendida, mal interpretada e até ignorada. É um artefato cultural aberto à pesquisa, à interpretação. Assim sendo, essa fascinante maçã, que era engenheiro, interpela os ditames da divindade artística clássica, poderosa em criar abismos entre a arte e a vida. Todavia, essa e outras maçãs contemporâneas não podem mais ser explusas, pois já se tornaram parte do paraíso - espaço/tempo - de agora.
Fotos de João Meireles
Meu, tem como eu ver isso?
ResponderExcluirSei lah, quem sabe um video?
:S
Olá Odailson
ResponderExcluiruau..adorei o texto. aliás, um dos melhores que li nos ultimos tempos, sobre dança contemporânea. traz uma dose acertada de poética e atinge muitos pontos fundamentais, sem bla bla bla nem precisar falar dificl. parabéns pela bela escrita.
do la de cá...me fez sentir mais saudade desse povo especial do construções compartilhadas.
com quem tive o prazer de compartilhar alguns movimentos e aprender mais...pois participei do processo na criação da trilha sonora, em parceria com edbrás. por agora estou morando em sp, vislumbrando as possiblidades dos novos encontros , que hao de vir!
saudações dançantes :)
Nãna Dias
Olá Odailson
ResponderExcluiruau..adorei o texto. aliás, um dos melhores que li nos ultimos tempos, sobre dança contemporânea. traz uma dose acertada de poética e atinge muitos pontos fundamentais, sem bla bla bla nem precisar falar dificl. parabéns pela bela escrita.
do la do de cá...me fez sentir mais saudade desse povo especial do construções compartilhadas!
com quem tive o prazer de compartilhar alguns passos e aprender mais...pois participei do processo na criação da trilha sonora. por agora estou morando em sp, vislumbrando as possiblidades dos novos encontros , que hao de vir!
saudações dançantes :)
Nãna Dias
Oda, reencontrei o texto. Estou lidando de novo com o trabalho, para apresentarmos na semana que vem, na PID. Estivemos aí em Rosário na Argentina, e parece que continua viva essa convocação de experiência para as pessoas que você fala. Que bom que você falou: posso reencontrar a obra, a cada momento que precise, também no trajeto do seu olhar escrito.
ResponderExcluirAbraços,
[agora] Eduardo Rosa