31 de julho de 2010

So what happens now?


Eu não espero que meus romances durem muito tempo
Nunca me iludo que meus sonhos vão se realizar
Sendo acostumado ao problema, eu o antecipo
Mas, de qualquer maneira, eu odeio isso.
Você não odiaria?

Trecho da música "Another Suitcase In Another Hall" do musical Evita, de Andrew Lloyd Webber e Tim Rice, interpretação de Madonna.
Imagem capturada em:
http://www.rosebudeotreno.com/top-10-filmes-mais-bonitos-do-cinema/

Para que serve um blog?


A pergunta se mostrou quando Jaqueline, a personagem de Cláudia Raia na nova versão da novela Ti Ti Ti, disse que nos Anos 80, expressava-se a rebeldia pichando muros e hoje se escreve em blogs, coisa que qualquer um pode fazer.

Bem, meu blog completou um ano ontem, 30 de julho, sou um desses "qualquer um" que picha rebeldias na internet. Todavia, minhas rebeldias não são tão rebeldes quanto as de três décadas atrás. São apenas pensamentos não enquadrados, avessos à metodologia acadêmica, meio soltos, flexíveis, cotidianos, partidos do movimento das minhas vivências, dançantes e dançáveis, por isso, dançamentos.

Nesses doze meses de existência virtual, o propósito do 'dançamentos' foi ganhando corpo, empreendendo (mu)danças, reconstruindo-se ao longo das contaminações minhas na vida e da vida em mim. Juntos, nesse dúzia de meses, fomos nos contaminando, alterando nossos propósitos, trocando variadas informações.

Bricolagens de filosofia, dança, imagem, poesia, música e cotidiano misturados pela minha maneira de construir relações, dão os tons do que tem sido o 'dançamentos'. Um espaço onde escrevo, digo, danço sem precisar das satisfações metodológicas. É um ambiente onde posso ser eu com a mais aberta das regras.

Embora existam certas 'Rainhas de Copas' da academia que cortam inúmeras cabeças e arrotam em bom tom o que seja 'o conhecimento', faço do 'dançamentos' uma forma particular de me relacionar com o que me cerca e elaborar pequenas falas, que são sim, uma forma de conhecer e de dar a conhecer.

Sem interesse em ibope, sigo como Alice, desinteressado por livros que não suscitam imagens, ou, como Chapeleiro Maluco, questionando a diferença entre corvos e escrivaninhas. Sigo dizendo coisas sabendo que poderei ser ouvido, visto, lido. Esperança boa, de multiplicar relações, que me faz seguir tendo bons dançamentos.

Imagem: ilustração criada por Wolney Fernandes

30 de julho de 2010

para não mais ado(l)escer


Encontrarás - Natasha St. Pier e Miguel Bosé
Verás - Madonna
Otro amor vendrá - Lara Fabian
Si voy a perderte - Gloria Estefan
Ente tu y mil mares - Laura Pausini

A chave do segredo de quanto quis e não pedi
Será minha glória pessoal
Pode ser tão falso e tão cruel
Tenho que ser como sou
Não posso dividir-me mais entre mil mares

Perdido entre versos


Não posso ser o que não sou
Pesa tão pouco o que me dói
Mas na alma dos meus versos
Está a chave do segredo
De quanto eu quis e não pedi.

Sei que perdi a razão
Fui atrás do coração
E apesar do que amei
Como jamais havia amado
Não soube amar você, eu sei.

Encontrará...
É loucura e não tristeza o que me parte em duas a voz
Encontrará...
Quanta ferida
Que beleza saber
Que ainda resta muito amor
Que se você se vai ou se me deixa
Vou voar bem longe da dor
Encontrará...
Que perder você, não minto, não me custa.

Depois de mim, outro, quem sabe
E como eu, só mais outro
E no espaço que eu deixo
Dá-lhe o meu amor e um tempo novo
Tudo o que eu já não mais espero.
Eu voltarei a ser o que fui
Forte a partir de mim mesmo
E você, perdido entre meus versos
Descobrirá tarde o segredo
E entederá o quanto dei a você.

Encontrará...
É loucura e não tristeza o que me parte em duas a voz
Encontrará...
Quanta ferida
Que beleza saber
Que ainda resta muito amor
Que se você se vai ou se me deixa
Vou voar bem longe da dor
Encontrará...
Que perder você, não minto, não me custa.

Música 'Encontrarás' - Natasha St. Pier e Miguel Bosé
Imagem do Espetáculo 'Café Müller' de Pina Bausch
Capturada em:
http://fradeimagenseventuais.blogspot.com/2008/05/pina-bausch-caf-mller-sluiz-2008_06.html

(S)Alto


Sobre viver, já posso afirmar que aprendo a sobreviver. Talvez não completo como desejaria, mas ganhando forças com o cotidiano amigo que com todos os seus doces pesares vai me cortando os caminhos e permitindo que eu corte caminhos também.

Entre pequenos e grandes saltos vou desfiando novelos enrolados, novelas amarradas, nove enojados modos de dizer que ainda posso ado(l)escer nos (des)casos de amor. Casos que ocorrem, causos que conto, causas que influenciam, casas que habito e arrombo.

Minha vã filosofia, minha vadia fome de amar (pre)juizos, meu desnutrido acalando de embalar saudades tensas. Ainda sou aquele corpo infante e infame, masculino e feminino, que só quer um colo e um gole de aconchego. Sem demagogias no querer, leciono minhas lições de aversão à traição, meu tesão pela reciprocidade, minha alegria em chorar.

Quisera eu achar a pena da asa de um anjo, que voe sobre mim, um guardião que me dê esperanças invisíveis, utopias possíveis, impossibilidades reversíveis. E assim eu possa divertir minha inteligência com pecados perdoáveis, traquinagens lícitas, vícios ingênuos, amores livres e saltos mais altos.

Imagem do Espetáculo 'Vollmond' de Pina Bausch
Capturada em:
http://arirossner.photoshelter.com/image/I0000Crd8h4XWh7Q

20 de julho de 2010

(des)Temido


Visitei meus erros, ontém e hoje, estavam todos em casa, me esperando na sala. Fui ver meus pecados, eles estavam no banheiro, não me esperavam, mas sabiam que eu ia. Por acaso, encontrei meus desatinos, puseram o dedo em minha cara e disseram que não presto.

Não tive como correr. Me cercaram, tiraram minha roupa, tocaram em mim com seus sexos arretados, usurparam do meu, execraram minhas ambiências todas e disseram que eu merecia mais. Fui obrigado a concordar. Eles revelaram os meus mistérios gozozos e os gloriosos. Quando dei por mim, estávamos no quarto. Era eu o monstro sobre a cama? Desnudo? Exitado? Enxotado? Intocado?

Era eu o menino calado, mas muito falado. Comentado pela estranheza dos seus modos. Monstrinho bem criado. Largado ao mundo, sem mãe logo cedo, com pai que chega tarde. Perdido no mundo, achado na vida, dorme com medo e acorda destemido, outras vezes, pelo contrário. De um desuso inútil se sente posse, outras vezes, super homem, heróizinho de nada. Mas até disso ele faz cantiga, verso em prosa ou se encosta em "Poema" de outrem.

Imagem capturada em:
http://www.vibeflog.com/bergdk/p/11676543

18 de julho de 2010

Festa das Doces Lembranças


Jeito de Mato - Paula Fernandes e Almir Sater
Paisagem da Janela - Elba Ramalho
Noites Com Sol - Flávio Venturini
Carnalismo - Tribalhistas
Nascente - Ed Motta e Fávio Venturini

Fogo que queima na memória
Vejo uma igreja, um vôo pássaro e um velho sinal
Não são miragens e peço um amor que me conceda noites com sol
Um ser humano é o meu amor, músculos , carne e osso, pele e cor
À luz do dia contemplar teu corpo, sedento

Imagem: Wolney Fernandes

Por não estar lá


Lembro de acordar na cidadela da rainha do mundo e do menino mensageiro natural... Certo medo antes de adormecer e uma expectativa destemida ao despertar... Reluzente lembrança olhar ao longe o morro da igrejinha, onde as crianças vêem pousar anjos no entardecer.

A sensação é de querer ter estado lá mais uma vez, ser mais um menino compartilhando das mensagens de coisas naturais, entrar na casa da rainha, comer doce, (re)encontrar as doces pessoas que ainda trazem histórias inscritas nos seus corpos... Estar mais perto de quem (re)conta essas histórias com som de canção, faz arrepiar o coração e umedecer o olhar.

'Meu amor, cadê você? Eu acordei... Não tenho ninguém ao lado', diz Adriana nos seus "esquadros" e repito olhando para o travesseiro que dormiu comigo. Pedindo a atenção do meu olhar está a palma de minha mão, interrogando-me acerca de se estará meu destino escrito em suas linhas. Digo que gostaria tanto que estivesse e pudera eu saber lê-lo e interpretá-lo de ponta a ponta. Mas, apesar da intuição incomodativa, não sou vidente, e a única coisa que leio na palma da minha mão é um 'M', de Madonna, de Mãe... De aMor, de Mensageiro.

A 'outra estrada' de Flávio me mostra que... 'Faço por não saber o que virá ao acordar, que arde no peito o que resta pra sonhar... Peço, vem revelar o teu mistério em meu quintal! Pois, se deixo pista no meu caminho, já não há mais ilusão, então, deixo cair sementes da minha mão'. Peço sequência naquele passado dizer de amor oferecido. Me rebelo contra a sensatez, decido pular precipícios, repito teu canto de ofertório, semeio possibilidades de amar.

Enquanto ensaio vidências, ofertas, semeaduras e saudades, aguardo o som daquela voz, a imagem daquele rosto, o toque daquelas mãos, que também não sei ler, só beijar e deixar que me pintem, que me peguem.

Imagem: Wolney Fernandes
Trechos das músicas:
Esquadros - Adriana Calcanhoto
Outra Estrada - Flávio Venturini

17 de julho de 2010

Sonho criança de conhecer a 'Ana Raio'


Se passaram 16 anos desde que a novela 'A História de Ana Raio e Zé Trovão' foi exibida pela primeira vez e eu pude ver de perto, em novembro de 2009, a musa protagonizada por Ingra Liberato. Hoje, as tantas fotos, figuras e recortes que colecionei naquela época já não tenho mais.

A esperança de conto de fadas da mulher em busca da filha perdida... A saga do reencontro de Ana Raio e Maria Lua... O enredo e o cenário itinerantes... As narrativas misteriosas da velha mendiga Biga, primorosamente interpretada por Angela Leal.

Ficou a lembrança de um tempo bom, de perder e sonhar, de admirar e se emocionar com histórias e personagens que edificaram parte dos encantamentos que ainda trago.

Pantanal - Madeleine

16 de julho de 2010

Chove saudade em tempos presentes


Da janela ao lado da minha cama, misturada ao escuro da noite e às luzes da cidade, vejo a chuva, que caiu em pé e correu deitada o dia inteiro. O vendedor de guarda chuvas, em profético marketing, gritava que 'choverão quarenta dias e quarenta noites'. Eu, que por vários dias me molhei na chuva, me converti, comprei um pretinho básico pra me salvar do dilúvio.

A lembrança premente de agora é das noites frias de Curitiba, em julho de 2008, quando conhecia, por voz, escritos e imagens, a pessoa que chamei de "mensageiro natural, de coisas naturais". Expectativas tantas gerou em mim, de uma 'festa de doces' numa cidadezinha no meio do cerrado goiano, cercada por histórias de serpente, anjos e uma mulher que nasceu para ser rainha do mundo.

O contexto agora não é o mesmo, mas a festa e o mesnsageiro são tão reais que posso tocá-los em minha saudade, sentir seu gosto e me encher de vontade. Esse mensageiro menino chega mais longe, é um "cavaleiro marginal lavado em ribeirão, cavaleiro negro que viveu mistérios, cavaleiro e senhor de casa e árvore, sem querer descanso nem dominical".

A tarde de hoje, entre caminhadas, cabelos molhados e espera por livros, serviu para presentear. Escolher a dedo e olhos o que será dedilhado e olhado pelo senhor de casa e árvore, o mensageiro que logo virá. Aqui estão todos junto de mim, 'a bagagem' de Adélia, 'as abelhas' de Sue e 'o dia' de Maria, à espera. Juntos (re)lemos os comentários, ouvimos músicas, acompanhamos a chuva em pranto doce e até cantamos, bem baixinho, em castelhano... 'No quiero estar sin ti...'

Dormiremos assim, ouvindo a chuva, chorando baixinho, com tanta saudade dos carinhos da mãe, do abraço forte do pai, dos beijos do meu amor. Assim saudoso, sofrido e sozinho sonharei mensagens naturais, de casa e árvore...

Música inspiradora "Paisagem da Janela"
Versões de Elba Ramalho e Flávio Venturini
Imagem capturada em:
http://agentenaoquesocomida.blogspot.com/

15 de julho de 2010

para lembrar dançar 1


1) I surrender - Celine Dion
2) Caminhos de sol (porto além de mim) - Yahoo
3) Si tu no estas aqui - Sin Bandera
4) Way back into love - Hugh Grant & Haley Bennett
5) Esquadros - Adriana Calcanhoto

Penso que poderia, por um desejo, esperar por cada sonho
O fruto que se tem é o bastante para querer
Passearei em um céu sem estrelas
Para arranjar um pouco de espaço pelas esquinas de minha mente
Prestando atenção em cores... de Almodóvar... de Frida Kahlo

No Seu Lugar


1) My heart - Lizz Wright
2) No seu lugar - Kid Abelha
3) Just for you - Lionel Ritchie
4) The greatest reward - Celine Dion
5) O que eu também não entendo - Jota Quest

Lágrimas e toque lembram tudo o que sou
Sem você eu perco tempo
Os meus braços estão abertos
Você me faz quem eu sou
Se isso não é amor, o que mais pode ser?

Silêncio de Estrelas


1) Eu só sei amar assim - Zizi Possi
2) Estrela estrela - Vitor Ramil
3) Noite de estrelas - Maria Bethânia
4) Mal necessário - Ney Matogrosso
5) Vilarejo - Marisa Monte

Eu quero cada gesto, cada palavra, cada segundo
Estrela, no corpo nu da constelação, é bom saber que és parte de mim
Piso descalço na terra do teu corpo, suave gosto, cheiro de mato
Sou o seu amor profundo, o seu lugar no mundo
Vem andar e voa

Brotos que acordam sonhando


Amando mais... Sedento pelo corpo que me surpreende em gestos, imagens, sons e prazeres diversos. É mais vida que me faz querer, é mais gosto que me deixa transbordar, é mais eu que me vejo ser, assim, em você, poema matinal.

Acordo na sensação boa e manhosa de que já é próximo e datado o tempo de permanecer mais junto. Fico buscando palavras melhores, criando neologismos para tentar conceituar esse dadivoso amor que brota em várias partes do corpo, em tronco rígido, raizes que arrepiam, galhos que pegam, flores para beijar e frutos que jorram e escorrem.

Amor de lua e flor, encantado pelos pormenores, que (re)estabelece as (de)cadências, que espera a visita bem do jeito que a Raposa esperava o Pequeno Príncipe, horas, dias antes. A felicidade da espera já preenche os espaços e rega as 'brotações' corpo afora.

As abelhas me disseram que 'as pessoas podem começar de um jeito e com o passar da vida terminar completamente diferentes'. Com esse conselho, regado a mel e assegurado por ferrão, e com sutilezas que vão se dando a ver nas (entre)linhas das escrituragens afetivas, sigo regando as forças que me 'brotam' alternadas entre intensas e serenas.

Dormindo e acordando, sonhando estar, deitar e ficar... Brincar na margem, adentrar, brotar, suspirar e gemer junto. Como se na lembrança ainda fosse possível subir no frondoso flamboyant, repousar na sua copa, espiar horizontes...

14 de julho de 2010

Mel e Ferrão, Ternura e Firmeza, Mulheres e Abelhas


Que das abelhas não se veja apenas o ferrão e a dor da picada, mas a beleza de sua organização, sua inteligência de enxame e a doçura suplementar do seu mel.

"A Vida Secreta das Abelhas" (EUA, 2008), dirigido por Gina Prince-Bythewood e baseado no livro, de mesmo nome, escrito por Sue Monk Kidd, tece metáforas, imagens e diálogos que encantam os olhos, aquecem o coração, aliviam amarras, aproximam distâncias e flexibilizam tempos.

Uma colméia de fêmeas, um enxame de divas... Em 1964, Carolina do Sul/EUA, durante as lutas pelo fim do apartheid e a conquita do direito ao voto pelos Negros/as. Mulheres, Marias, Negras, Abelhas que com ferrão e mel, firmeza e ternura, criam estratégias de sobrevivência e formas de se relacionar em meio ao racismo infundado.


Lilly (Dakota Fanning) é uma adolescente que desde os quatro anos de idade se culpa pela morte da mãe, figura da qual, ela só tem lembranças, saudade e dúvidas. Lilly foge do pai ríspido e Rosaleen (Jennifer Hudson), a empregada, foge do racismo. Por intuição/razão/propósito ambas chegam na casa de August (Queen Latifah), June (Alicia Keys) e May (Sophie Okonedo), três irmãs que são apicultoras.


Nessa colméia, muitas revelações e enfrentamentos ocorrem. Modos de ser e amar, fardos de lamentações, perdas, aflições e afeições. Possibilidades esperançosas de que as pessoas podem começar de um jeito e com o passar da vida terminar completamente diferentes. Proposições éticas de que o que importa é o que você faz com a verdade. Esboços poéticos de que os escritores imaginam coisas que não vemos...


Imagens capturadas em:
http://www.fanpop.com/spots/the-secret-life-of-bees/images/12143823/title/secret-life-bees-screencap
http://www.cinemaemcena.com.br/ficha_filme.aspx?id_filme=6941&aba=detalhe

13 de julho de 2010

Um casal de pais


Quando a paternidade difere do paternalismo em gênero e afeto, a normose (patologia da normalidade) manifesta seu gestual moralista e seu discurso normativo. Dois homens gays podem ser pais? Que competências teriam eles para educar uma criança? Onde mora a perversão, no preconceito ou no amor entre dois homens?

"Patrik 1.5" (2008), filme sueco dirigido por Ella Lemhagen, narra o cotidiano de um casal de homens gays que tenta adotar um filho e conviver com a vizinhança do seu bairro. Um tanto distante do ideal que o casal desejava, o filho que lhe chega não é uma criança de um ano e meio, a qual poderiam educar e ensinar a respeitá-los, mas um adolescente infrator, violento e homofóbico.

A tragicomédia que se desenrola aproxima realidades opostas, onde os extremos, sem nenhum encantamento, vão se dando a conhecer numa relação em que importa deixar o outro ser quem ele é. Importa permitir que o outro assuma seus medos e enfrente suas vergonhas. Importa perceber que em dado momento, quando se conhece o outro e se dá a conhecer a ele, o (pre)conceito se torna inútil e infundado.

É prática comum o modo como os adultos ensinam as crianças a repetirem a palavra 'gay' como um palavrão vulgar para chingar e agredir outras pessoas. E é surpreendente um pequeno diálogo do enredo, quando um menino questiona um dos protagonistas:
- Você é gay?
- Sim.
- E o que é ser gay?
- É quando você ama outro menino.

Ensinamos as crianças a repetirem coisas, a reproduzirem palavras, a replicarem idéias sem ensinar-lhes o que, realmente, elas significam. Domesticamos, matamos, domamos e maltratamos os corpos, as identidades e as diferenças justificando esse conjunto de atitudes violentas como valores morais. O que, na verdade, são danos morais contra a humanidade. Causamos danos morais juntificando-os como valores morais!

Imagem capturada em:
http://www.cinemaemcena.com.br/ficha_filme.aspx?id_filme=10030&aba=detalhe

11 de julho de 2010

De quem se encanta mais com a rede que com o mar

Nesses tempos em que meu habitat muda de ano em ano, o que me assegura estabilidades são as certezas ventiladas de poesia. As escolhas que me trouxeram para onde estou ainda não são permanentes, e nunca serão.

Escrevo por você e para você, oráculo perdido dentro em mim, homem que se alterna em dádiva e dúvida. Bom ou não, são as canções que ainda ventilam minhas certezas. A ligação do pai distante, a saudade da mãe que não mais poderei abraçar, a perda do amor que ainda amo... Todas me fazem nadar de braçadas no lago de lágrimas que eu mesmo chovi.

Como o namoro distante da flor no jardim com a lua no céu, fase a fase, meia, cheia ou minguante, germina ainda o amor em mim. Apesar dos mistérios da meia noite, das lendas de lobisomem e do seu lado sombrio que agora experimento, não temo e não deixo de amá-la, lua. Sou essa flor, gerânio, cravo, ou outra espécie comum, sem nome bonito, que seguirá noites e noites a fio, esperando pelo teu banho de luz, pois "sem o teu nome a claridade do mundo não me hospeda".

Por mais que pareça piegas, clichê e senso comum o que agora escrevo, o faço porque comigo é assim. Assim penso, sinto, faço, vejo, quero... Bobo demais? Ingênuo? Errante? Ilusório? Pode ser, tudo isso e mais um pouco. Mas ainda insisto, se deixar isso é crescer, "me cura de ser grande".

De hoje em diante silencio meus discursos externos, os filosóficos e os bem articulados. Quero me dizer na linguagem que aprendi de ti, das sutilezas, das pequenezas cotidianas, do jeito de mato meio gago de ser, das imagens precárias e poéticas, dos escritos e desenhos na madrugada, dos problemas resolvidos sozinho. Direi quieto, aqui, nesse espaço virtual onde posso ser eu sem obrigações, nesse espaço inspirado por ti.

Sim, é piegas e clichê... Riam, mas vou dizer: como o pratogonista de 'O Salvador da Pátria', feio, sujo e improvável, que quando criança tanto me emocionava sem eu saber por que, sigo crendo em amor de 'lua e flor'. Sigo sonhando como a feia na vitrine, tomado por sombras, apaixonado por o que não é perfeito e nem belo o suficiente para atrair todos os olhares.

Continuarei mais encantado com a rede que com o mar, sereno e sedento por deitar na margem de ti, amando como jamais poderia, se soubesse como te contar.


Inspirado a partir da música "Lua e Flor" de Oswaldo Montenegro
Foto: Wolney Fernandes
Trechos de poesias de Adélia Prado

De quem acredita em jardins de afeto

Anos depois daquele 'caso' inventando, depois de ter jurado não mais cair nas ciladas afetivas, eis-me aqui outra vez, aos tropeços entre as lembranças, os presentes, os abraços, os beijos desse amor outro que ainda palpita no corpo.

O nervo segue exposto, não mudei, sigo passional, intermitente, submerso nas coisas que acredito... Aqueles amores de séries, filmes, músicas, poesias... Será coisa de artista ou de menino preso na infância?

Sigo ouvindo a música que embalou esses dias, que fala de amor e toque. Me contenho para não abrir a caixa que guarda cartas, imagens, um coração... Encantamentos que perdi. Sinto fome e quero me (retro)alimentar dessas recordações, mas, por mais que eu queira, elas não me trazem mais seu autor.

O tom de voz mudou, a poesia se esgotou, o corpo enrigeceu, aquela pessoa escapou... Só restou o signo: Gêmeos. Qualquer semelhança, mera coincidência?

Ainda não desisti daquilo que acredito ser verdade. Seja por fé, crença, tesão, necessidade ou insegurança, ainda sou discípulo do amor. E sei que ele não termina agora, me acompanhará por muitos e muitos dias. Das minhas verdades darei testemunho enquanto viver, mesmo se não for compreendido.

Lá na frente, quando nos vermos, apesar da seca e estiagem de agora, sei que ainda verei beleza, ternura, poesia, paixão... Desejos brotarão em mim, porque seguirão aconchegados em sementes no terreno desse amor fecundo, que ao pensar em você ainda germina e sonha dar flores, 'roxa e branca, da comum e da dobrada'.

9 de julho de 2010

Das cotidianidades pequenas


Sexta-feira na Bahia é dia de branco. Vesti preto. Inocência premeditada? Ao bater duas da tarde a entrega da conta foi feita. Obrigação cumprida. Novo rumo ao trabalho.

Diante de quem me sentirei desnudo? De quem me chefia de modo indireto, me olha por tabela e aparenta ares de delicadeza? De quem ocupa cargo menor, carrega o tom da tinta forte, me olha com certa inocência? De quem se desvela em dúvidas, instaura minha exitação, me olha e reconstrói meu mundo?

Dos tempeiros comprados já não suporto o sabor. Prefiro a coisa caseira, de fogão simples e panela velha. Já basta de artificialidade rotineira. A fala desvairada irrita, não se articula direito, eleva o tom, reclama bobeiras... Afff!!! Cala a boca, Magda!

Passei no cinema, mas a torta de limão e o chá-mate Leão, tostado, me pareceram mais eternos do que 'Shrek Para Sempre'. Do que resta da tarde chuvosa, escrevo, leio, ouço música e recordo tempos de amar.

Já pus a roupa preta para lavar. E dos olhares sorrateiros que nem comentam a proposta, quero distância. Providenciarei meu (dis)curso naquilo que me cabe .

Imagem capturada em:
http://eddson.wordpress.com/2008/04/27/tu-tens-um-medo/

8 de julho de 2010

Salve Rainha Madonna, os degredados filhos de Eva


Sem medo do corpo
Amante da natureza humana
Não derivamos do pecado, mas do sexo
E sexo é jeito de ser
É gesto que diz de mim, de nós, de mais
Amor se faz com corpo
Que pede, dá e goza
Nada mais ou menos sagrado que isso
Vergonha na cara ou na bunda?
Quem teme é que peca
Quem condena, adora
Santidade não está fora do corpo
Transa nele, com ele e só a partir dele
Se há alma, ela é orgasmo puro



Musica: "Erotica" - Madonna
Imagens do livro "Sex" - Madonna
Video-clip "Erotica" - Madonna

7 de julho de 2010

(T)ATO


Quando aquele ponto crível da trajetória aponta no alto da colina dos afetos, qual a melhor atitude cor(p)oral a ser tomada? Que cor deixar (trans)parecer no rosto acanhado? Que palavras soar pela fixação oral? Quantos quilos a mais deixar pesar nos ombros para desfigurar a postura corporal?

Entre finalizar ensinos de filosofia e adentrar em construções de dança me movo sedento pelo novo e tão esperado lugar de construir, mover, pensar, fazer (mu)danças. Quão bom é curtir essa novidade almejada, merecida, alcançada. Novidade que vem como suporte, sustento, suspensão, substância... Nesse momento em que se interpõem o perder, o rever, o deixar, o esquecer... Pois algo de não quisto se desvela colina acima.

Bonito e esperançoso é olhar o casal apoiando a mão, com sutileza, um na perna do outro. Como se trocassem sonhos pelo tato, lembranças da noite passada, desejos de um bom dia... Esperança de um amor assim ainda palpita no corpo que sou. Palpita por entre meus dedos, na superfície dessa (p)alma aberta mesmo quando a mão está fechada.

4 de julho de 2010

Extraviando pedaços


De volta ao local que, carinhosamente, chamo de quarto, retomo lembranças, disfarço assuntos, instalo afazeres. É um dom, embora não goste do termo, poder multiplicar as palavras, dosando-as entre poéticas e dramáticas, para articular uma (sobre)vivência adequada quando as pessoas amáveis nos surpreendem a ponto de desarrumar a confiabilidade que nelas depositamos.

Não tenho o direito de mudar a vida de ninguém, tampouco de permitir que entristeçam a minha. Este que fala, só sou eu pedindo amor e cuidado. Acredito não ter sido próximo o bastante para exigir isso, mas fui transparente no sentir, no desejar e no proceder... Nunca exigi mais que reciprocidade.

Aleatoriamente sigo pensando que o ideal de amor que ainda tenho é apenas um ideal, elevado demais, poético demais, simples demais na minha simplória compreensão. Sinto muito, pois experimentei elementos tão próximos desse ideal, elementos (por)táteis, dóceis e sensatos... Até o momento em que as cores verdadeiras deram os tons, e o borrão desconfigurou a imagem. Pois como diz a canção pop que ouço, quando um homem ama, dá pra sentir isso no toque dele.

Se esperar ainda vale, esperarei por esse amor que amo. E concluo essa fala comum, disfarçada com adornos, com uns versos do livro que comprei para mim, coisa que há tempos não fazia (pensar em mim). Fale por mim, Matha Medeiros:

"eu diria do amor que o amor é reto
que o asfalto do amor acaba
mas o amor continua
desbravando o mato"

Imagem e trecho do livro 'Cartas Extraviadas' de Martha Medeiros.

2 de julho de 2010

Beleza insubordinável


Mesmo no árido deserto das mutilações humanas, desabrocham flores belas e fortes capazes de semear vida por todos os cantos. É caso da ex-modelo e atual embaixadora da ONU, Waris Dirie. Africana, circuncidada, fugitiva, sobrevivente, insubordinável, modelo... Modelo de mulher.

O filme "Flor do Deserto" (2009), dirigido por Sherry Horman, narra a tragetória da bela mulher privada de sua sexualidade, impedida de sentir prazer, mutilada em sua feminilidade. Vítima-amostra das tantas que não conseguem, ou, não querem atravessar o deserto para fugir.


O deserto africano que Waris atravessa, para tentar recompor sua dignidade noutro lugar, é metáfora do deserto, da aridez, da escassez de vida causados pelas atrocidades que a humanidade é capaz de produzir para legitimar interesses, costumes, poderes e saberes.

Quem detém o direito de privar outro ser humano de sentir prazer? De onde provém o mandamento que exige que o sexo seja 'cortado' e 'costurado'? Por quem diabos essas 'navalhas', 'tesouras', 'linhas', 'agulhas'... foram criadas?

Ainda serão necessárias muitas (re)significações nos modos de ser homem e de ser mulher.

Imagens capturadas em:
http://www.cinemaemcena.com.br/ficha_filme.aspx?id_filme=10732&aba=detalhe