
Entre as várias atividades, reflexões e palestras, destaco a fala de abertura 'O catador de sonhos', proferida pelo Sr. José Luis Zagati, criador do Mini-cine Tupi. Movido pela sua paixão por cinema, ele, um catador de papel, proporciona, gratuitamente, sessões de cinema para crianças e demais pessoas da periferia.
Sem obrigação nenhuma e sem recursos para isso, Zagati reinventa modos de ser humano a partir das condições que se lhe apresentam. Nessa condição de senso comum, como podem dizer certos/as intelectuais, Zagati possibilita uma série de reflexões que desbancam as pretensões de que a arte e o conhecimento têm lugar específico, ingresso e hora marcada para serem produzidos.
Em consonância com reflexões contemporâneas em arte, no gesto de Zagati se pode ver o quão inútil é seguirmos tentando prender o conhecimento e a arte dentro das fronteiras da academia, dos museus e dos palcos, distante do cotidiano e da realidade.
Tanto a dança quanto a cultura visual são áreas de conhecimento que, para construir seu campo, dialogam, se relacionam e refletem com diferentes áreas de conhecimento. São conhecimentos articulados por corpos não ensimesmados, numa dialogicidade que configura saberes sem pautar-se nos manuais canonizados.
Ser contemporâneo talvez seja a atitude de seguir desobstruindo os caminhos trancados pelos entulhos canônicos, modernos, normativos que ainda prescrevem os espaços e os modos de se apresentar da arte e do conhecimento. Do grafite no muro ao quadro da Monalisa no Louvre, do pedestre apressado atravessando a rua ao dançarino contemporâneo correndo no palco, o que muda são os espaços onde estão e a relação que com eles se estabelece. Pois, todos são formas de conhecimento.
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