Nesses tempos em que meu habitat muda de ano em ano, o que me assegura estabilidades são as certezas ventiladas de poesia. As escolhas que me trouxeram para onde estou ainda não são permanentes, e nunca serão.
Escrevo por você e para você, oráculo perdido dentro em mim, homem que se alterna em dádiva e dúvida. Bom ou não, são as canções que ainda ventilam minhas certezas. A ligação do pai distante, a saudade da mãe que não mais poderei abraçar, a perda do amor que ainda amo... Todas me fazem nadar de braçadas no lago de lágrimas que eu mesmo chovi.
Como o namoro distante da flor no jardim com a lua no céu, fase a fase, meia, cheia ou minguante, germina ainda o amor em mim. Apesar dos mistérios da meia noite, das lendas de lobisomem e do seu lado sombrio que agora experimento, não temo e não deixo de amá-la, lua. Sou essa flor, gerânio, cravo, ou outra espécie comum, sem nome bonito, que seguirá noites e noites a fio, esperando pelo teu banho de luz, pois "sem o teu nome a claridade do mundo não me hospeda".
Por mais que pareça piegas, clichê e senso comum o que agora escrevo, o faço porque comigo é assim. Assim penso, sinto, faço, vejo, quero... Bobo demais? Ingênuo? Errante? Ilusório? Pode ser, tudo isso e mais um pouco. Mas ainda insisto, se deixar isso é crescer, "me cura de ser grande".
De hoje em diante silencio meus discursos externos, os filosóficos e os bem articulados. Quero me dizer na linguagem que aprendi de ti, das sutilezas, das pequenezas cotidianas, do jeito de mato meio gago de ser, das imagens precárias e poéticas, dos escritos e desenhos na madrugada, dos problemas resolvidos sozinho. Direi quieto, aqui, nesse espaço virtual onde posso ser eu sem obrigações, nesse espaço inspirado por ti.
Sim, é piegas e clichê... Riam, mas vou dizer: como o pratogonista de 'O Salvador da Pátria', feio, sujo e improvável, que quando criança tanto me emocionava sem eu saber por que, sigo crendo em amor de 'lua e flor'. Sigo sonhando como a feia na vitrine, tomado por sombras, apaixonado por o que não é perfeito e nem belo o suficiente para atrair todos os olhares.
Continuarei mais encantado com a rede que com o mar, sereno e sedento por deitar na margem de ti, amando como jamais poderia, se soubesse como te contar.
Inspirado a partir da música "Lua e Flor" de Oswaldo Montenegro
Foto: Wolney Fernandes
Trechos de poesias de Adélia Prado