21 de janeiro de 2010

Ronaldo Fragânsias de Pina


Longe dos pavilhões da Bienal em São Paulo, tive meu Fashion Day em casa, ao vivo, pela internet. Sou seguidor confesso da coreógrafa Pina Bausch, mas não era, até então, do estilista Ronaldo Fraga. Dele, apenas boatos: “Estilista transgressor”; “Estilo cotidiano de moda”... Enfim, fui a ele, por causa dela.

Bendita ida!

Enquanto os outros desfiles, dos quais vi partes dos melhores momentos, eram lisos, retilíneos, sisudos e neutros de picardia... Ronaldo, na sua coleção Outono-Inverno 2010, trouxe dança para a passarela. Uma dança não-dança, a dança de Pina Bausch. Trechos da vida passando, desfilando. Sob um holofote azul, uma dançarina tocava um manso acordeão. Cadeiras ao longo da passarela... Nuances do doce/amargo Café de Pina.

Modelos/personagens iam e vinham trazendo em seus looks/figurinos referências dos odores, cores e dores dos memoráveis espetáculos Bauschianos. Em cada peça, uma cena.

O rosto de Pina aparecia do avesso, em cada modelo, cabeças viradas, na passarela e na platéia. Foi como ver muitas Pinas desfilando... Ruivas, morenas, louras... Arremessando histórias, perguntando-nos performativamente: O que nos move? O que faz com que nos vistamos? Não como nos movemos ou nos vestimos.

Para selar a amarração moda – cotidiano – arte – vida, nos moldes bauschianos, as modelos de Ronaldo finalizaram o desfile indo até o público e cumprimentando as pessoas. Gesto singelo que desconcertou a estrutura sisuda da Fashion Week. Nesse estilo de moda/arte, não entender nada é entender tudo.

Majestoso feito de Ronaldo, deixar fragânsias coreográficas emPINArem na passarela.

Veja um trecho do desfile aqui

Imagem: Odailso Berté

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