30 de setembro de 2010

Barbies. Rainhas. Estrelas. Mulheres. (solos)








Exposição 'Black Barbie' - Barra Shopping de Salvador/BA
Acervo do colecionador Carlos Keffer

Fotos: Odailso Berté

(signi)FICA!



Quando ficar significa tanto, pois traz a permanência daquilo que dignifica a humana condição: 'Amo, logo existo'.

Coreografia Song '99 - Dimitris Papaioannou

29 de setembro de 2010

Sex and the Tea


Quando adentramos no processo de customização da perda do amor, instauramos uma espécie de ‘chá das cinco’ para honrar ou blasfemar a Eros – o deus amor. Criamos um cenário meio cult e épico, momentos onde recitamos trechos de romances e poemas, nos reportamos a inúmeras cenas de filmes românticos, proferimos discursos e críticas acerca da falibilidade ou veracidade do amor a partir desse difícil momento em que ele nos mostra suas outras artimanhas que não são tão românticas.

Tomar um ‘chá de sumiço’ seria uma alternativa melhor para tornar esse processo menos dramático? Abandonar os afazeres cotidianos, mudar completamente a rotina, ou ainda, sumir da realidade posta seria mais eficaz? Para certas pessoas, reorganizar a vida, as coisas, o cotidiano, sumir da realidade na forma em que ela vinha sendo organizada até então, pode parecer uma possibilidade saudável para não beirar momentos deprimentes quando se trata de esquecer o amor que acabou.

E o ‘chá de consolo’, como pode nos ser útil nesse momento? Como compensamos a falta do amor perdido? A sublimação pode funcionar como um procedimento metafórico, ou seja, nos contentarmos com uma coisa em termos de outra. Certas substituições podem satisfazer a vontade que nasce da falta do elo perdido: amigos, festas, passeios, compras, estudo, etc. Sem contar as coisas ‘ilícitas’ que, por vezes, acabam entrando na lista de alguns amantes (de)cadentes. São possibilidades que inventamos no afã de driblar a nostalgia.

Em que medida o ‘chá de trepadeira’ pode resolver a fossa pós relação? Vale a pena compensar a falta do amor que se foi entrando no jogo do ‘prazer por prazer’? Certos de nós, ‘homo sapiens’, ou, quem sabe, ‘homo sexyens’, acreditam que a melhor forma de deletar as marcas deixadas pelo ex-amor é adentrar no ramo do sexo fácil para provar novos sabores e assim apagar o gosto do antigo. E o sexo pode ser, assim, um motivo para afogar mágoas num cálice de paliativos gozosos.

E que efeito pode trazer o ‘chá de cadeira’ nesta situação de abraços partidos? De que serve a esperança numa hora dessas? Alguns de nós se põem no modo de espera, ou seja, constrói uma agridoce ilusão de que o outro vai voltar e por isso fica sentado esperando. Outros, se colocam na postura de espera do novo amor, alguém que surja, capture e arrebate o coração esperançoso que ainda acredita no amor, apesar da rasteira que este lhe deu.

Nesse ‘chá das cinco’, que pode ser a qualquer hora do dia ou da noite, vamos nos alternando nos sabores que queremos sentir, nos efeitos que esperamos, nos novos modos de ser e estar que achamos viáveis, nas posturas a serem tomadas e nas palavras a serem usadas quando a questão for ‘amor’. E assim, entre as enxaquecas, enjôos e possíveis mal estares da perda do amor, que algumas das posturas, decisões e chás tomados nos façam ficar bons por nós próprios, entendendo que o ex-amor é um outro autônomo e não uma personagem do nosso enredo romântico.

Foto: Odailso Berté

28 de setembro de 2010

Eu (in)vejo Alice


Alice, desde que você chegou de camiseta, ainda não consegui dizer que já vi você muitas vezes, porém hoje, mais atentamente e de um jeito incomum, eu (in)vejo você. O fato de você reclamar a importância das imagens nos livros sempre me causou enorme admiração. Mas agora, o motivo é outro.

Queria eu ser um desenho como você. Pudera eu ser apagado nos erros e refeito com maestria. Quisera eu receber um olhar minucioso, cálidos reparos e retoques dedicados daquelas hábeis mãos. Pois sei de como elas amam essa arte. Sei também de como elas perseguem e adentram a visceralidade do ato de desenhar e concebem cada imagem como um ser estético com o qual se pode dialogar.

Alice, que bom que você veio. Nesse tempo em que me fogem as maravilhas de outrora, a vontade de ser um desenho bonito resignifica o viver de cada dia. Você viu como as pessoas lhe elogiam quando saímos juntos? Fico tão feliz. Já lhe disse que você parece a Marilyn Monroe? Sim, olha só a inquietude do seu vestido. Ah, também adoro você equilibrando essa xícara na cabeça? Ganhou-a do Chapeleiro? Seu autor é muito astuto. Ouvi dizer que, ainda bem pequeno, ele desenhava a Mulher Maravilha nas revistas da mãe dele. Imagine só, um 'geninho' desde criança.

Hoje iremos juntos para a escola, mas temos que acomodar seu coelho e seu gato para que não atrapalhem a aula. Aliás, eles já estão bem camuflados assim. Já lhe disse que gato é meu bicho preferido? Bem, Alice, cuide de seus bichos enquanto eu estudo mais um pouco e assim, pode ser que esse meu sonho animado, de ser um desenho, tome jeito e me deixe ser eu outra vez. Eu, um des(d)enho humano. Às vezes acho que quando Deus me desenhou ele não estava namorando.


Fotos: Odailso Berté
Desenho: Wolney Fernandes

27 de setembro de 2010

com porta menta(L)


Quando presentes, princípios, pesares, prazeres e poemas são todos pentelhos do mesmo saco.


Foto: Odailso Berté

26 de setembro de 2010

Quando a imagem da tela vem das imagens da vida


“Não quero falar muito. A melhor maneira de matarmos um filme é falarmos sobre ele”. Quando um mestre fica sem saber o que falar, gostaria de ter um duplo de si, fazer um dueto consigo mesmo e cantar seu próprio acompanhamento. Este é o drama do diretor italiano de cinema Guido Contini (Daniel Day-Lewis) que se vê sem inspiração para o roteiro de seu mais novo filme. Sua imaginação não teve treinamento moral, ela é o jardim de Deus onde brincou o diabo.

Ele deu um passo errado e todos os outros saíram errados. Sobre o que trata o seu novo filme? Ele pode contar sobre o enredo, o elenco, a música. Mas por que todos perguntam pelo roteiro? O público não está interessado no roteiro, mas em como a câmera passa de um rosto para a lua, em como se chora, sorri, enrubesce... E isso não está no roteiro... Está no cotidiano do artista, nas questões vividas, nas pessoas que mais lhe marcaram, essas sim, suas musas:

A Mãe (Sophia Loren), seu colo e afeto, uma ausência que se faz presente quando bate o desalento. Seu amparo dizia: “Olhe a lua que sorri mandando sua benção para você.” Amores virão, mas nunca como o materno que num beijo de boa noite nos mantém para sempre perfeitos. Na aflição o abraço da mãe é o sonho carinhoso do qual não se quer acordar. Mas junto da ternura ficam também os firmes conselhos: “A ninguém mais cabe achar o seu caminho, só a você”.


Saraghina (Fergie), a prostituta que o fez passar de menino a homem, que lhe ensinou como fazer uma mulher feliz apostando naquilo que a natureza lhe deu. E a puta lição de vida para sempre decorada foi: “Colha a flor antes que você perca a chance e viva o dia de hoje como se fosse o último”.


Luisa (Marion Cotillard), esposa de um marido que faz filmes e, por isso, ele vive numa espécie de sonho no qual seus atos nem sempre são o que parecem. Ele pode criar temas românticos na sua imaginação, ele engendra fantasias, as vive e as dá. Mas ele não sabe distinguir seu trabalho de seu lar. Ele é o gênio, o diretor e ela a fã, a atriz, a amante. Infinitos sonhos tiveram a compartilhar num tempo em que cantavam juntos a noite toda ao telefone. Mas, como a respiração, ele abre a boca e só saem mentiras. Seu esforço de mentir e trair é exaustivo. E exausta ela confessa: “Não me admira não ter roteiro, pois está ocupado inventando sua vida”.


Carla (Penélope Cruz), a amante, uma brincadeira de faz de conta. A menina selvagem que ao se apaixonar por esse galã (des)conhecido, foi como se entrasse num quarto errado, onde o homem, na cama, não tem a mínima idéia de quem ela seja, mas a deseja. Enquanto ele vive sua vida sem dela se lembrar, ela insiste: “Eu continuo aqui... Vou ficar aqui te esperando com as pernas abertas”.


Lili (Judi Dench), a figurinista, seu constante incentivo a criar. Atenta à vontade do público de sorrir, amar e sonhar por meio dos filmes. Essas são propriedades infantes e assim, diz ela: “Se deixar de ser criança nunca irá fazer outro filme”.


Stephanie (Kate Hudson), a jornalista deslumbrada pelo estilo e beleza do cinema italiano e do uomo romano que despe as mulheres com os olhos. Curiosa tanto em relação aos limites do que se pode mostrar num filme quanto ao que o diretor não mostra no filme. Para ela, a vida é real com o cinema italiano.


Claudia (Nicole Kidman), atriz e inspiração ao mesmo tempo, cabelo e maquiagem para um papel que não se sabe o qual. A personagem que ao invés de ser a mulher por trás dos grandes homens, prefere ser o homem. Mulher fantasia sobre um pedestal, compartimentada e escondida entre os elementos que compõem sua personagem. Insatisfeita com o amor mediado pela câmera ela se mostra real: “Não consigo continuar com esse papel”.


Sem roteiro, sem inspiração, sem elenco... Sem filme. Sem mais invenções, o mestre confessa: “Não existe filme, não posso mais fingir”. Seu corpo se aproxima dos 50, mas sua mente dos 10, ele é a pessoa que nunca cresceu. O único filme que poderia fazer agora é o de um homem tentando ter o seu amor de volta. Um recomeço, uma história de reconciliação...

Título: Nine. Direção: Guido Contini. Ação!


Quando deixamos nosso eu criança sentar em nosso colo, o roteiro da vida se abre e a criatividade desata dançando solta. Assim se mostra "NINE" (2009), do diretor Rob Marshall, fazendo da ausência de roteiro um roteiro poético e caloroso, a ponto de provocar êxtase e saudade.

maravilhas bem vindas a mim


De um reino não muito distante, vieram todos estar comigo: um herói, uma rainha, um príncipe e uma menina maravilhosa. Trouxeram cores, coragem, imaginação e esperança ao meu sonho menino. Disseram que o amor que eu buscava já era uma vez, mas que das lágrimas de hoje um mar poderá se abrir.


Fotos: Odailso Berté

25 de setembro de 2010

eletrojustificativa


Jogo as decepções no ventilador e sinto-as baterem no rosto atualizando as dores do peito. Assim tento justificar a mim mesmo que aquele amor bom acabou.

Entrei no inferno de homens de toalha... Mandei recado carinhoso... Simulei um encontro... Me vesti de super herói para aventuras virtuais... Contatei gente do Vaticano... Atendi chamados suburbanos... Violentei meus princípios e fumei um primeiro cigarro...

E no entanto, nada aconteceu. Percebo que eu e meu dote não subimos nesse ibope, estamos ainda trancados nas boas lembranças de quando tudo se excitava sem nenhum esforço. Agora, só más e per turbações que vão e vem sem gozo de verdade.

Para os afagos amistosos não me soarem paixão, preciso resignificar a dor, apagar aquele esplendor e encarar esse ventilador.

E nesse ato que ventila a dor percebo que algo aquele ser me deixou: uma capacidade mais aguçada de ‘ver’. Como uma espada injusta conseguiu dar-me visão além do alcance para ver melhor como são e como serão os amores.

Esquecendo dos inúmeros ditos que ainda me beijam o corpo, vejo que a poesia é carne que, quando escrita, justifica o sentir do autor.

Foto: Odailso Berté

Sex and the Lie


Convivemos o tempo todo com mentiras, na tv, na política, na moda, na família, na arte, na academia, nas amizades e no amor. Será que nós humanos temos a mentira como algo intrínseco ou até genético? Por que a mentira parece tão prazerosa para algumas pessoas?

De fato, há pessoas capazes de inventar um câncer para esconder caprichos pessoais que consideram inconfessáveis. Há também aqueles que simulam viagens de trabalho em direções opostas do verdadeiro rumo para o qual, de fato, se deslocaram. E ainda, alguns que subornam uma ‘consulta espiritual’ para se safar de uma fuga que parece injustificável.

Por que certas pessoas juram amor ao passo que atravessam o coração do outro com a espada da mentira?

Algumas dessas pessoas, quando descobertas, colocadas na parede, questionadas acerca de suas lorotas e até perdoadas, simplesmente perdem o interesse afetivo, não sentem mais atração sexual pelo outro. Quando a verdade vem à tona, o tesão se acaba. Haveria na mentira uma espécie de fetiche sexual?

Mesmo as mentiras do ‘Pernalonga’, tem perna curta, já dizia ‘o velhinho’ ditado popular. Sempre há um rabinho que desponta evidenciando a falha do disfarce. Sendo assim, onde reside nossa humana dificuldade em sermos verdadeiros? Por que nos parece mais atraente mentir? Seria porque, por vezes, a verdade pode ser mais monstruosa que a mentira?

Em tudo, deveria prevalecer a verdade, quanto mais no amor. Amar implica transparecer sem receios aquilo que se é, mostrar o que se faz, fazer o que se gosta, dar o que se quer receber. Quando a relação é de amor não é preciso medo de ver(dade) exposta e o que não presta (men)tira para fora. Ser verdadeiro é deixar-se ‘ver’ e ‘tirar’ da relação os disfarces todos.

Imagem capturada em:
http://www.transgender.org/rtc/rtnews/rtnew_feb02.html

24 de setembro de 2010

inteligência é ver


"O ato da inteligência é ver e comparar o que vê. Ela o faz, inicialmente, segundo o acaso. É-lhe preciso procurar repetir, criar as condições para ver de novo o que ela já viu, para ver fatos semelhantes, para ver fatos que poderiam ser a causa do que ela viu. É-lhe preciso, ainda, formar palavras, frases, figuras, para dizer aos outros o que viu."

Citação do livro "O Mestre Ignorante" de Jacques Rancière
Foto: Odailso Berté

Sex and the Ego


Será que o ‘Id’ realmente tem razão em brigar com o ‘Ego’? Seria o ego um cara tão ensimesmado que não cansa de repetir para quem quer que seja: ‘você tem que me amar’? Por que sofremos com o fato de não sermos mais amados e nem desejados pela pessoa que amamos? Será que o 'ego' é um cara redundantemente 'egocêntrico'?

Um sentimento de impotência e inferioridade parece compor a nossa maquiagem corporal quando nos vemos desnecessários aos desejos do ser amado. Feiúra, burrice, infantilidade, insegurança, má combinação de roupas, performance sexual insatisfatória... Características que pensamos ser nossas e que podem ter sido o motivo de nos tornarmos desinteressantes.

A nefasta sensação de ter sido trocado por alguém, supostamente, mais interessante abala as estruturas da auto-estima. É aí que o ego inflama e se faz mil e uma perguntas acerca de como tem se portado na trajetória da relação. Até mesmo um super ego passa à beira de um colapso ao imaginar-se problemático ou defeituoso a ponto de tornar-se indesejado.

As relações são mutantes, não podemos mandar nos sentimentos e nos desejos dos outros e, por vezes, nem nos nossos, eles variam, se expandem, se esvaem. Mas nosso ego acostumado a ser acariciado pelo amor do outro não se conforma em ser tirado do foco central. Seria por extinto que o ego age assim ou trata-se de um entrave a ser superado? Por que o fato de viver sem amor nos deixa tão inseguros? Por que ter outro que nos queira é algo tão necessário?

Nosso ego, ou, nosso eu, que é corpo, necessita de outro corpo, de calor, de prazer, de afeto. Tornar-se um desafeto é algo custoso que demora a fazer sentido diante da real necessidade que temos de ser amados. Será que isso Freud explica?

Foto: Odailso Berté

23 de setembro de 2010

Danças que movem moinhos no corpo da gente


O Teatro Castro Alves, de Salvador/BA, com a série TCA 2010 – Ano XV, vem alargando horizontes no quesito dança ao possibilitar que o público baiano prestigie diferentes espetáculos, mais ocidentais, mais orientais, mais velozes, ou, mais serenos. São inspiradas configurações de dança que pisam o mesmo palco e deixam diferenciados rastros nas pessoas que a elas acorrem.

Nos dias 04 e 05 de setembro de 2010 o Grupo Corpo pode mostrar toda sua velocidade e habilidade com os espetáculos ‘Ímã’ (2009) e ‘Lecuona’ (2004), ambos criados pelo coreógrafo Rodrigo Pederneiras.

‘Ímã’, conforme seus criadores, parte dos princípios de interdependência e complementaridade que regem as relações humanas. Um intenso tráfego de dançarinos velozes e habilidosos que entram e saem, se unem e se dissociam, marca a trajetória cênica que transfigura uma corrente ininterrupta de forças que se atraem e se repelem. A intensidade cênica é fortemente focada no corpo que dança, corpo ágil, virtuoso e atento em realizar uma movimentação profusa e veloz. Corpos imantados pela proposta a ser desempenhada.

‘Lecuona’ é uma homenagem ao músico e compositor cubano Ernesto Lecuona (1895-1963). Doze de suas canções românticas embalam os doze pas-de-deux que se seguem alternando cores, ciúmes, amores, saudades, rancores e desprezo. A poética linear, composta por performances que arrancam suspiros da platéia, dá margem para uma situação cênica diluída entre o fazer de cada casal. O final apoteótico completa o êxtase do público ao remontar um salão espelhado para uma valsa de seis casais. A música toca e os corpos dançam.

No dia 22 de setembro foi a vez do grupo japonês Sankai Juku brindar o público com sua serenidade e profundidade por meio do espetáculo ‘Tobari – Como num Fluxo Inesgotável’, concebido por Ushio Amagatsu. O grupo é formado por dançarinos da segunda geração do Butô. O Butô, que hoje compõe as bases da dança contemporânea japonesa, surgido nos fins da década de 1950, foi uma reação vanguardista à repressão e agressão ocidentais após a segunda guerra.

‘Tobari’ é uma palavra poética que pode significar um tecido que separa um espaço em duas partes, a passagem do dia para a noite, o presente e o futuro. A singeleza e perspicácia gestual possibilitam a elaboração de sentidos múltiplos, vistos e imaginados. Ao moverem-se, os corpos maquiados de branco exalavam pó, que, atravessando a iluminação e relacionando-se com o céu estrelado do cenário, trazia presente a lembrança de que nossos corpos são compostos por pó de estrelas. Diferente da lógica ocidental, ‘Tobari’ demonstra uma outra lógica estética organizativa onde a expressão dissolve a fronteira e/ou dualidade teatro x dança. O corpo enuncia, esboça e comunica uma espécie de celebração serena que emerge da sua íntima relação com o universo.

Foto: Odailso Berté

21 de setembro de 2010

corpos livros a dançar


"O livro é a igualdade das inteligências. (...) livro - pensamento tornado matéria à disposição dos homens da matéria, discurso ao mesmo tempo mudo e tagarela, errando ao acaso entre aqueles cujo único negócio é pensar."


Citação do livro "O Mestre Ignorante" de Jacques Rancière
Fotos: Odailso Berté

sedes verdes


Quando as sedes se cruzam por verdes caminhos... De saber, de saborear, de recordar, de esperar.

Foto: Odailso Berté

20 de setembro de 2010

Wonder Woman

Mas, toda vez que me sinto mal, tento me lembrar do que uma garotinha me disse uma vez. Ela tinha bastante personalidade - tão feia que era bonitinha. E dava para perceber que ela também sabia disso.

- Carrie? - ela pergunta. E se em outro planeta eu fosse uma princesa? E ninguém deste planeta soubesse?

De certa forma, aquela pergunta ainda me deixa meio embasbacada. Quero dizer, não é verdade? Quem quer que sejamos aqui, podemos muito bem ser princesas em outro lugar. Ou escritoras. Ou cientistas. Ou presidentes. Ou quem diabos queiramos ser que todo mundo diz que não podemos.


Citação do livro "Os Diários de Carrie" de Candace Bushnell
Imagem: detalhe da capa do mesmo livro

Ti Ti Ti filosófico


"As camponesas pobres dos arredores de Grenoble fabricam luvas; pagam-se-lhes trinta centavos a dúzia. Mas, desde que se emanciparam, elas se aplicam a olhar, a estudar, a compreender uma luva bem confeccionada. Elas adivinharão o sentido de todas as frases, de todas as palavras dessa luva. Acabarão por falar tão bem quanto as mulheres da cidade, que ganham sete francos por dúzia. Trata-se somente de aprender uma língua que se fala com tesouras, agulha e linha."

Citação do livro "O Mestre Ignorante" de Jacques Rancière
Imagem: obra "As Costureiras" de Tarsila do Amaral, capturada em:
http://pesponteando.blogspot.com/

Sex and the Image


Como é difícil aceitar o fato de virarmos desimportantes para o ser amado. Isso nos leva a revisar os nossos sentimentos. O que amamos de fato, uma pessoa real ou a imagem que construímos dela? E que imagem mostramos de nós próprios nos relacionamentos que criamos?

Nos apaixonamos por uma imagem misturada, feita da realidade do outro, das nossas expectativas e daquilo que o outro inventa de si mesmo. Edificamos castelos de amor, canções e presentes, acreditando no conforto que essa imagem transparece. Mas um dia ela se desgasta, borra, se apaga, se esvai... Fica um fundo bruto, frio e inexpressivo. E aí se inicia um processo doloroso, um beco que parece sem saída. É preciso desconstruir a imagem para poder se desapaixonar e seguir sem tantos danos.

Como diz Martha Medeiros, isso “exige que você reconheça que foi seduzido por uma fantasia, que você é capaz de se deixar confundir, que o seu desejo de amar é mais forte do que sua astúcia. Significa encarar que alguém por quem você dedicou um sentimento nobre e verdadeiro não chegou a existir, tudo não passou de uma representação – e olha, talvez até não tenha sido por mal, pode ser que esta pessoa nem conheça a si mesma, por isso ela se inventa”.

Aos que inventam falsas imagens de si nos relacionamentos afetivos, Martha chama de ‘desonestos do amor’, “aqueles que fabricam idéias e atitudes, até que um dia cansam da brincadeira, deixam cair a máscara e o outro fica ali, atônito”. Corrupção não é só uma questão política, é também afetiva. É preciso cautela na hora de eleger o bem amado.

Encontrar pessoas incorruptíveis nos relacionamentos ainda é algo possível? Ou, precisamos aceitar que as relações afetivas são enredos fantásticos onde atuam imagens que se esvaem quando a cortina se fecha? Seria o amor uma comédia pornô onde o que convém mesmo é curtir, gozar e rir dos dramas românticos? Amor, por que tão sério? Rsrsrsrsrssr...

Amamos imagens e somos imagens. Umas eternas, outras passageiras, umas ternas, outras que ferem, umas ilusórias, outras verdadeiras. Somos imagens apaixonantes e imagens que podem virar desimportantes. Que imagem eu sou? Que imagem eu invento de mim? Que imagem eu amo?

Citações do texto "Desconstruções" de Martha Medeiros, disponível em:
http://www.dejovu.com/mensagens/ver/?3843/Descontru%E7%F5es
Imagem capturada em:
http://www.imagensporfavor.com/buscar/1/coringa.htm

19 de setembro de 2010

Sex and the Phantom


Quando uma relação acaba, como se desfazer daquilo que fica? O sentimento acaba junto com a oficialidade do término? O que fazer com a presença que permanece? Como afugentar o fantasma do ex-amor?

O sentimento não descola do corpo tão facilmente, tampouco se esvai sem razões. A proximidade se distancia, mas o amor edificado ao longo da duração da relação segue assombrando o cotidiano.

Desfazer-se do sentimento construído pode ser fácil para uns e um tormento para outros. Depende da intensidade com que se deu a entrega, ou, a prudência ao fazê-la. Para que, ao fim da relação, o fantasma dela não permaneça nos assombrando, será preciso que não nos entreguemos por inteiro? Amar com ‘um pé atrás’ pode garantir que o fantasma do ex-amor não nos assuste?

A ‘romântica mediunidade’ de conviver com o fantasma da relação terminada talvez consista na dificuldade que temos de nos despedir do amor. Para Martha Medeiros, “despedir-se de um amor é despedir-se de si mesmo. É o arremate de uma história que terminou, externamente, sem nossa concordância, mas que precisa também sair de dentro da gente”.

Seguindo a sabedoria de Martha, pode ser que esse fantasma nos assombre por não conseguirmos nos desvencilhar daquele “amor que nos justificava como seres humanos, que nos colocava dentro das estatísticas: Eu amo, logo existo”. Sendo assim, qual o melhor ritual de ‘sEXorcismo’ para afugentar esse fantasma? Só o tempo pode dizer...

Citações do texto "Despedida" de Martha Medeiros, disponível em:
http://www.dejovu.com/mensagens/ver/?3847/Despedida
Imagem capturada em:
http://www.escala1sexto.com.br/board/viewtopic.php?f=27&t=7569&start=0

It's raining


Hoje quem me acordou foi a chuva
Serena, ela encostou de gota em gota na minha janela
Disse que me faltam os pingos nos 'is'
Que minhas goteiras tendem a aumentar
E que nem o guarda chuva impedirá que a saudade me molhe

Foto: Odailso Berté

18 de setembro de 2010

(Só)Frida mesmo


Por entre os livros só Frida me olha
Não se contenta em me ver à penas
Parece perguntar sem tintas no olhar:
Se já não andas direito, onde estão tuas asas?

Foto: Odailso Berté

trilha de ouvir e trilhar


Quando tudo isso que vivo me faz lembrar aquilo
Vejo que a nuvem passou e deixou a chuva em mim
Nesse processo de entender o sentido das escolhas
Entre balas, baladas, novelas e navalhas
Para não ficar sozinho
Acabo sempre ficando com uma pergunta que não cala:
Como eu vou viver?

Foto: Odailso Berté

16 de setembro de 2010

Sofia sempre menina


O espanto filosófico vem da curiosidade infante. Nada como um dia após o outro para que estéticas relacionais se (re)posicionem agregando outros gostos à vida nossa. Assim, crescemos, dançando em torno de curiosos desejos.

Foto: Odailso Berté

14 de setembro de 2010

Doce (Dú)Vida


Quando um gosto de infância perpassa o estudo, se troca idéias, se partilha gostos, se constrói conhecimento, se faz perguntas, se brinca com as dúvidas.

12 de setembro de 2010

Sex and that City


Estaria correto o dito popular de que só percebemos o valor de algo quando o perdemos? Será que nós humanos precisamos primeiro experimentar para daí tecer as compreensões? Só depois de sentir na pele saberemos o gosto?

Pode ser que não seja assim, de modo geral, para todos, mas algo disso procede. Me descubro hoje, apaixonado pela cidade que deixei. Nossa convivência durou apenas um ano, mas estava tão preocupado com decisões pessoais que não dei a ela a chance de se dar a conhecer.

Zombei dela, acreditando que ela era o motivo da crise que vivia naquele período, todavia, ao contrário disso, percebo que foi ela que me deu as condições de perceber o rumo que de fato me cabia trilhar.

Não desfrutei de sua beleza, não me deixei tocar por seus formas, pouco andei por seus caminhos arborizados, caçoei do seu semblante ‘capital com jeito de interior’. Como o passado sempre nos alcança, hoje me dou conta de que a virada que empreendi começou lá e eu não soube respeitar aquele momento crítico.

Neguei seu abraço e corri para minhas seguranças. Quando disse que nada aconteceu de bom pra mim lá, fui inerte ao ambiente, desconexo, não deixei o tempo dar-me o tempo necessário para que a mudança cumprisse seu tempo de gestação. No embaraço, fugi de seus braços.

Hoje, noutra cidade que não faz jus ao seu nome, pois em nada me salva, percebo onde é que o sonho mora. Seriam só problemas de adaptação? Não, mas sim de adequação e predileção. Limitado por minhas próprias escolhas e alheio ao que realmente importa, descrevo a mim mesmo essa paixão interurbana e me contento em tentar uma reaproximação por vias tímidas.

Dos cremes, caldos e coxinhas. Das calçadas, parques e vilas. Das lojas, sebos e shoppings. Das chuvas, calores e poeira. Dos cinemas, danças e estudos, quero com paciência provar o gosto, namorar cada detalhe e fazer amor com aquela cidade. Tarde não significa nunca, e talvez, agora, eu volte mais maduro, como a cidade merece.

Nossa canção tocou na hora errada, mas meu desejo acanhado só pede um novo tempo para uma franca amizade. Meu romântico e descompassado coração pede seu alento para efetivar e afetivar a mudança que você, cidade, me ajudou a empreender. Você me apresentou o amor. Acredito que nosso caso terá várias temporadas e, quem sabe, filmes também. Pelo menos é o que me inspira o recado, entregue por mãos pedagogicamente confiáveis:

“bju de goiânia que tbém sente saudades de vc.”

Escrito ao som de "Sex and the City Theme" - Groove Armada
Imagem capturada em:
http://guilhermeribeiroimoveis.blogspot.com/p/uma-cidade-modelo-goiania-go.html

11 de setembro de 2010

ponteiros, mãos e nós


O avesso dos ponteiros - Ana Carolina
Seamisai - Laura Pausini e Gilberto Gil
Nada pra mim - Ana Carolina
Music of my heart - NSYNC e Gloria Estefan
Que se danem os nós - Ana Carolina

O tempo faz tudo valer a pena
E para que reste o recordar amanhã
Tenho só essa canção
Pensarei nos dias de antes
E nas esperas que te levaram para longe

folk theory


Venho andando pelos dias afora, afoito, aferindo-me as pressões demandadas pelas atuais lições de vida e morte que recito sozinho.

Fico e vou, volto e permaneço. Convicto, decido tomar a atitude, a água, o remédio que me faça mudar de idéia. Mas eu já sou essa idéia, negá-la agora, é desistir de um pedaço bom de minha existência.

Voluntariamente descubro minhas lacunas, destruo minhas lamúrias, destrono minhas leituras. Vergonhosamente comovo minhas pálpebras, como minhas unhas, movo minhas mãos.

Melhoro um pouco o humor, reparo as arestas do olhar e atuo bem perante meu público particular de convivência. Misturo tão bem a agonia e o prazer que, por determinado momento, convenço a mim mesmo que vou partir dessa para outra.

Sou outra vez, aquele moço entre canções platônicas, amores pré-socráticos, desejos cartesianos. Sinto tanto e experimento pouco, filosofo para extrair sentido disso que escrevo e assim encontrar outros modos para não (d)existir, nem morrer de (r)ir.

9 de setembro de 2010

Re (vi) vendo um sorriso

Todos os dias ao entardecer, o velhinho passeava em torno do lago do parque. Uma volta apenas, descia as escadas com dificuldade e se sentava no mesmo banco em frente aos bambus. Tomava um livro branco que trazia embaixo do braço e, lentamente, ia passando página por página, lendo cada detalhe com seus tristes olhos.

Parava de quando em quando, suspirava. Lágrimas desenhavam caminhos pelo seu rosto. Ao fechar os olhos, era como se um sorriso se desenhasse a sua frente. Naquele momento, pensar era ver. Uma espécie de empirismo romântico, de quem experimenta, pensa e sente ao mesmo tempo, tomava conta de seu semblante. Imagens pareciam fulgurar em seu corpo moldado pelo tempo.

Ele não tinha mais a agilidade do dançarino que fora um dia. Só o vigor de uma filosofia em forma de dança permeava seu jeito de ser. E ele seguia lendo seu livro infantil, “As Rosas Inglesas”, escrito por uma antiga e polêmica cantora batizada com o nome de Nossa Senhora.

Todas as tardes o mesmo livro, o mesmo banco, as mesmas lágrimas, como se por meio disso ele pudesse replicar uma inesquecível vivência. Tantas imagens num mesmo olhar, um beijo em sua mente, amor de tanto tempo, um sorriso a contemplar.

Sorriso de um homem que um dia o amou. E que junto dele se sentara nesse mesmo banco para ler e sorrir diante da mesma historinha. Jovens sonhando um mundo brincante. Todavia o tempo passou, a distância fez esvair uma parte no amor.

E o velhinho seguiu revivendo a cada dia sua história infante. Quando seus olhos cor de tamarindo já não mais podiam ler, só olhava, deixando as lágrimas desenharem caminhos em seu rosto e as imagens desenharem em seu corpo uma saudade risonha. E só, assim, quis ele envelhecer, deixando o tempo perpetuar-lhe em imagens aquele sorriso tímido tão bem desenhado em sua lembrança.


Escrito a partir da música "I see your smile" - Gloria Estefan
Imagem do Bosque dos Buritis, Goiânia/GO, capturada em:
http://www.panoramio.com/photo/30136823

Sex and the 'Tic Tac'


Existe mesmo um tempo certo para cada coisa? Mesmo o que dura um segundo pode ser precioso? É só o tempo em que se está junto que valida uma relação? A distância ajuda ou atrapalha? Eterno é só enquanto dura?

Se tomamos por base a fluidez com que os contatos entre pessoas hoje se estabelecem e se dissolvem, de fato, relacionamentos durodouros tendem a sucumbir. Histórias de amor parecem, cada vez mais, enredo de filme de arte.

Concordo que o contato, a presença, o corpo a corpo, 'the face to face', a convivência, são possibilidades para que os acordos de uma relação se concretizem. No dia a dia é que o verbo se faz carne, o 'eu te amo' se efetiva e se afetiva.

Todavia, os pares não podem empreender uma simbiose constante, afinal trata-se de indivíduos particulares, com seus tempos e espaços próprios. Há de se ter um certo distanciamento crítico. Mas haveria uma necessária demarcação de tempo para a distância? Quanto tempo se resiste estar longe de quem se ama?

Um casal que namora por quase três anos e, fazendo as contas, passaram juntos (no mesmo espaço e tempo) em torno de sete ou oito meses, tem garantia de uma relação promissora? O que significa estar junto fisicamente?

É com corpo que amamos. É no corpo que se dá o amor, o desejo, a saudade. O sentimento de pertença, de ser junto, é físico, se dá no corpo, mesmo quando se está distante.

Quando não é possível 'estar junto' vale a pena 'ser junto'? Qual dos dois pode ser mais passageiro, 'ser' ou 'estar'? Amor se justifica por ser ou por estar? É o 'tic tac' que demarca a validade de um amor?

Deixemos o 'tic tac' passar e vejamos o que de ontológico permanece em nossos corpos amantes.

Imagem capturada em:
http://racabrasil.uol.com.br/cultura-gente/113/artigo57530-2.asp

8 de setembro de 2010

Sex and the Site


1)passivo afim fala para Todos: alguem afim de uma sacanagem hoje a tarde
2)pauCAM (reservadamente) fala para Pica_grande: e ae, é grande mesmo?
3)EuGozoNoSeuCu (reservadamente) fala para Todos: ????????????????
4)GP LASCADOR (reservadamente) fala para Todos: Gp, 23 anos, Moreno Claro, 1,83, 81 kg, 19 cm de caceta, Macho, Safado, discreto, Ativasso, fudião! Sigilo Absoluto!
5)moreninho sexyy fala para dou breja e cú: OLA PODEMOS CONVERSA
6)afim de real (reservadamente) fala para Todos: estou indo pro centro afim

'Alguém afim de real, agora?' Real ou virtual? São muitos os personagens, os discuros e as narrativas virtuais sobre sexo. Inventam-se fantasias mil no 'cabaré virtual' dos sites. Virtualidade e realidade coexistem somando as possibilidades do prazer.

A tecnologia online, sem dúvida, tem contribuído para uma das características do corpo que é formar o pensamento por imagens. O bate papo, nos sites de relacionamento, possibilita fazer sexo com imagens, sons e palavras.

É real o sexo virtual? Afinal, um corpo precisa de outro para sentir prazer sexual? Para um orgasmo é suficiente apenas a imagem do corpo?

As chamadas 'fantasias sexuais' podem ser formadas pela imaginação humana, que é um jeito de pensar. A imaginação emerge no corpo a partir de imagens, experiências, lembranças, ações e projeções.

Ao invés de 'fantasias', temos realidades, experiências, vontades, imaginações e pensamentos sexuais. Não dá pra saber o que vem antes, quem gera o que, imaginações e experiências, pensamentos e ações, são todos atrelados um ao outro.

Se o sexo pode ser feito por meio desse conjunto de imagens que o corpo experimenta, produz e carrega, então sexo e site são coisas que combinam? Exceto qualquer tipo de abuso indevido, as experiências dos sites de relacionamento, seja na virtualidade ou a partir dela, possibilitam relações afetivas e sexuais, expressando traços dessa combinação.

Como Madonna, penso que nunca se deveria ter vergonha, de quem se é, do próprio corpo, dos desejos, das fantasias sexuais. Intolerância, sexismo, racismo e homofobia existem por causa do medo que as pessoas tem dos próprios sentimentos e do desconhecido.

O corpo ainda não está obsoleto para o sexo. Sexo é corpo, um, dois ou mais corpos. Depende da imaginação. Nesses novos espaços que o corpo tende a habitar, pode ser que com o tempo se ouvirá dizer: "Imagem, muito prazer em te comer!"

Imagem do livro "Sex" de Madonna

7 de setembro de 2010

Sex and the Body


Somos animais filosóficos que se perguntam sobre vida, morte, política, tempo, sexo, etc. Ponderamos acerca da nossa corporeidade, sexualidade e afetividade, ou, pelo menos, temos essa possibilidade.

Corpo, sexo e afeto tem de estar sempre juntos? Que sentido tem 'fazer por fazer'? É possível sexo sem afeto? É, e bem o sabemos.

Nenhum sentimento moralista ou religioso está em jogo. Apenas questões próximas do velho binômio sexo x amor. Como fazer um sem o outro? Há uma necessidade biológica de prazer sexual no ser humano, aceita, válida e notória. Se é que sexo precisa ter sentido, onde encontramos sentido para transar?

Que sentidos se produzem em nós quando transamos sem amar? O sexo vale por si só ou necessita do afeto? Pessoas que necessitam que esses dois elementos andem juntos, são, necessariamente, problemáticas e antiquadas?

Os mistérios gozozos são infinitos. Mas, será que fazer sexo com amor seria só mais uma fantasia sexual? Penso que a carnalidade sexual está impregnada de sonho, desejo e sentido. No sexo os corpos se encontram e, sem romantismos adocicados, há um grau de intimidade recíproca nesse ato. Há afetos compartilhados, pois trata-se de entrar no corpo do outro, tocar-lhe o corpo de modo mais intenso e caloroso, não só com mãos que meramente 'pegam'.

Quem sabe existam certos corpos que encontram prazer na afeição. Afeiçoar-se é um modo de dar e receber, de relacionar-se, onde o cuidado com aquilo que se entrega ou se recebe molda o jeito de tocar, perceber e gozar. Quando o corpo se afeiçoa e afeta o outro, pode ser que o sexo não vire só gozação. Sexo e afeto são jeitos do corpo entrar em (con)tato com outros corpos, são modos do corpo proceder. Corpo, sexo e afeto são como fontes de vida e de prazer.

Para muitos, pensar/fazer sexo assim pode não ter sentido. E nem precisa. Para outros, o gozo chega inundado de afeição. De minha parte, empresto as palavras de Martha Medeiros e digo: "tragam flores para meus vasos sanguíneos". Doem afetos para (m)eu corpo humano.

Frase de Martha Medeiros no poema 32 do livro "Cartas Extraviadas"
Imagem: detalhe da capa do livro "Sex" de Madonna

um anjo veio me falar...


Vontade alada, como a borboleta se debatendo no vidro da minha janela, confia nas tuas cores e voa longe das dores.

Foto: Odailso Berté

6 de setembro de 2010

you'll see


Silenciosamente os olhos ficam vermelhos e umedecem, diante de um 'Edgar' que se volta para as coisas simples da vida.

Apenas uma fragilidade 'água com açúcar' perante cenas emotivas de novela? Não, esses olhos já estão marejados de imagens memoráveis...

Imagens de sublimes encantos cotidianos, colhidas em outros olhos. 'Então chora, Edgar...'

resposta provisória


Quando não se sabe mais o que dizer, o que ler, o que pedir, o que ver, o que ser. Uma vida incolor a levar... De tragédias afetivas, philosophias sem corpo e heróis fictícios.

os demais serão só para esquecer


Por isso esperava, com o rosto molhado, que chegasse com rosas, desenhos animados e riscados, camisetas pintadas, livros e dvds... Mil rosas para mim.
Porque você sabe que essas coisas me encantam, não importa se é bobeira ou infantilidade, sou assim.
E ainda que me pareça mentira, que minha vida se escape imaginando que você volte a passar por aqui...
Onde a cada tarde, como sempre a esperança me diz: ‘quieto, talvez hoje, sim...’

Trecho da música "Rosas" - La Oreja de Van Gogh