25 de setembro de 2010

eletrojustificativa


Jogo as decepções no ventilador e sinto-as baterem no rosto atualizando as dores do peito. Assim tento justificar a mim mesmo que aquele amor bom acabou.

Entrei no inferno de homens de toalha... Mandei recado carinhoso... Simulei um encontro... Me vesti de super herói para aventuras virtuais... Contatei gente do Vaticano... Atendi chamados suburbanos... Violentei meus princípios e fumei um primeiro cigarro...

E no entanto, nada aconteceu. Percebo que eu e meu dote não subimos nesse ibope, estamos ainda trancados nas boas lembranças de quando tudo se excitava sem nenhum esforço. Agora, só más e per turbações que vão e vem sem gozo de verdade.

Para os afagos amistosos não me soarem paixão, preciso resignificar a dor, apagar aquele esplendor e encarar esse ventilador.

E nesse ato que ventila a dor percebo que algo aquele ser me deixou: uma capacidade mais aguçada de ‘ver’. Como uma espada injusta conseguiu dar-me visão além do alcance para ver melhor como são e como serão os amores.

Esquecendo dos inúmeros ditos que ainda me beijam o corpo, vejo que a poesia é carne que, quando escrita, justifica o sentir do autor.

Foto: Odailso Berté

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