27 de abril de 2010

SOS pensador


Venham, venham todos... Vejam o triste semblante do pensador. Ele tenta sorrir, refazer, resignificar... Mas as tentativas esbarram nas palavras bonitas.

Olhem para ele, parece morrer aos poucos. Tamanha desilusão vive a pobre criatura. Sim, ele tenta resistir, aliás, esse tem sido seu lema: "Resistir".

Mas quando ele busca o consolo, é no próprio consolo que mora a fonte da angústia. Lamentavelmente ele dá voltas em torno de si, tropeça nos livros e nas lembranças e se pergunta: "Qual o sentido de minhas escolhas"?

Bem, me digam... Como salvar este coração agoniado, se a areia dos seus olhos é a mesma que acolheu suas pegadas? Como ele poderá se reencantar pelas palavras que tanto lhe foram preciosas e que ainda cantam em seu ouvido sons de amor?

Você, que se comove com esta situação, ligue e contribua. Ou então, venha pessoalmente. Sua ajuda pode salvar uma vida! (risos)

Imagem: "O Pensador de Rodin (Versão da Praça da Sé)", capturada em: http://flickriver.com/photos/lfcastro/tags/sp/

23 de abril de 2010

Os pés cansados do pensador


Fiz mais do que posso, vi mais do que agüento. E a areia dos meus olhos é a mesma que acolheu minhas pegadas.

Eu lutei contra tudo, eu fugi do que era seguro. Descobri que é possível viver só, mas num mundo sem verdade.

Depois de tanto caminhar, depois de quase desistir, os mesmos pés cansados voltam pra você. Sem medo de te pertencer...

Meus pés cansados de lutar, meus pés cansados de fugir. Os mesmos pés cansados voltam pra você.

Texto da Música "Pés cansados" de Sandy.
Imagem da Escultura "O Pensador" de Rodin, capturada em: http://www.beneti.com.br/?p=34

19 de abril de 2010

Infâmia


Infame vida sem fama, seus holofotes estão circuitados. A carga dosou bordas afora.

Ouviu? Os aplausos não soaram. Sua celebridade borrou a maquiagem, seu virtuosismo tornou-se banal, qualquer um faz isso.

Famoso às custas de nada, seu palco caiu, fama de lama.

Ah, mais um fã que não te ama. Ídolo desidratado, idolatrado com flores murchas.

Todos riem de você. És um péssimo comediante. Sem graça.

Pêsames pela Framboesa de Ouro. Te louvam em couro, palhaço de beco, dance para nós, só lamento, tiro nos pés.

Siga a sós.


Imagem do desfile da coleção Outono/Inverno 2010 de Ronaldo Fraga, capturada em: http://www.portaisdamoda.com.br/noticiaInt_detalhes~id~20246~fot~1~n~coreografia+no+desfile+inverno+2010+de+ronaldo+fraga.htm

Paradoxo

O cheiro gostoso do sanduíche de carne de sol confronta com o odor fétido do lixo na chuva.
A chuva molha e no mesmo instante o vento seca.
A ardência dos pingos suaviza ao escorrerem.
O calor do corpo suado é interrompido pelo frio da chuva varando as roupas.
Chove lá fora e queima aqui dentro.


Imagem da Coleção Outono Inverno 2010 de Ronaldo Fraga, capturada em: http://oglobo.globo.com/cultura/modainverno2010/mat/2010/01/19/ronaldo-fraga-se-inspira-em-pina-bausch-desfila-com-modelos-sem-rosto-na-spfw-915562308.asp

Pelo tridente de Poseidon

O Pensador pensa a dor
Caminha na chuva, invade a tempestade de ruas alagadas
Pede passagem em meio ao turbilhão fluvial
Visita o mar mesmo já estando afogado em lágrimas
E este lhe cospe muitas gotas no rosto
A negra tormenta vem andando sobre as águas e lhe encharca as vestes
Ele não teme a ameaça das ondas bravias
Que antes das pedras e areia querem quebra-se no seu corpo
Anda pensador andarilho
Indigente de si
Viajante em palavras de amor
Para se encontrar, o que você tem que perder?
Dez tinos molhados
Atinados à seco
Lavados à mão
Regados de sonhos
O que cabe a você está longe, marujo inundado.

14 de abril de 2010

Órfão com dois acentos

Pensador órfão, com dois acentos. Desarticulado total, não maluco beleza. Cético em todos os graus possíveis. Mas ele ainda ama.

Por ser assim, desespera dos seus sonhos, mesmo os palpáveis. Pois evidências machucam sua consciência e apontam para aquilo que lhe dá medo e lhe deixa impotente, sozinho, sem mãe e amor.

Pensador, homem ferido. Homens ferem uns aos outros. Desconfiado sim, mas assíduo discípulo de um amor verdadeiro que rima com projeto de vida.

Lá vai ele, sem saber como pisar direito. Na chuva. Teve poucas forças pra levantar da cadeira. O vento veio e não trouxe cores. Trouxe uivos e rumores bem sombrios.

Os dois acentos que deflagram a orfandade desse homem são o 'amor' e o 'vazio'. Porque metade dele ama incondicionalmente e a outra foi tomada por um vácuo existencial.

Sai dessa, pensador.

9 de abril de 2010

Na Loja de Doces da Madonna



A diva faz jus de ter o nome de 'Nossa Senhora'
Estive na sua loja e provei dos seus doces
Até hoje estou meio grudento
Para recordar a sensação
Basta deixar o corpo se envolver nas melodias
Preces para ela não adiantam
Ela não é santa e nem milagreira
É pegajosa e doce
CÉU DA MINHA BOCA
Composto por Odailso Berté e Wolney Fernandes
Da obra "O Filho do Homem" de René Magritte

Eu, contemporâneo de Agamben?!

O coração de um homem pode ser habitado por distâncias, incertezas e desalentos, mas seu empenho em aderir ao seu tempo através de um distanciamento que permite interpelá-lo não cede lugar para esmorecimentos.

Ser contemporâneo é ser intempestivo e inatual. É manter o olhar fixo no tempo em que se vive para perceber nele não as luzes, mas o escuro. É não se deixar cegar pelas luzes do século e conseguir ver as obscuridades que outros não vêem.

Contemporâneo é aquele capaz de escrever, desenhar, dançar mergulhando o lápis, o pincel, o corpo nas trevas do presente e assim apreender uma resoluta luz para interpelar e transformar o seu tempo, compará-lo com outros tempos e ler nele, de modo inédito, a história.

Texto baseado no livro "O que é o contemporâneo" de Giorgio Agamben
Foto de Daniel Rocha, do Espetáculo "Água" de Pina Bausch
Capturada em: http://valkirio.blogspot.com/2009/07/pina-bausch-ii.html