23 de maio de 2010

In ser tez as


O que é a certeza? Ela provém do certo ou esclarece o certo? Quem vem primeiro, o certo ou a certeza?
De onde tiramos a certeza quando as condições se fazem pueris? É possível vê-la em algum horizonte distante, ou além das frestas de uma janela trancada? Tiramos a certeza de algum lugar, ou, construímos ela?
Acertar a verdade de algo é quase um desafio de horizonte ôntico e epistêmico. Nada fácil para um homo sapiens bicho de corpo, porém não impossível.
Construímos verdades e alicerçamos certezas a partir das tênues evidências que colecionamos ao longo da trama existencial. Colar as peças desse quebra-cabeça circunstancial implica empenho processual e poesia para não perder o encanto vital, pois a tarefa é árdua.
Certeza não surge, nem se adquire, pode ser construída, entre prazer e agonia, dúvida e espanto, para se safar do (in)certo.

17 de maio de 2010

Duvideodó


Quanto de ceticismo pode adentrar no romantismo?
Essa inquietação não diz respeito a movimentos literários ou correntes filosóficas, mas a relações entre pessoas.
Quanto de dúvida pode haver num romance?
De onde provem a dúvida? Da imaginação de um? Da explicação do outro?
A filosofia diz que é prudente duvidar, pois instiga o conhecimento. Todavia, é doloroso o processo de sentir a dúvida configurando-se entre sentimentos e pensamentos. É quase como desconhecer o interlocutor.
Não cabe duvidar no amor.
Mas se essa atitude cética persiste, independente da vontade, o que de fato a move?
Quem vence nesse round? Dúvida X Amor.
Bem que a filosofia, para além de perguntas, podia dar alguma resposta, de vez em quando...

16 de maio de 2010

Se amor é assim...


Amor também é um produto do corpo, é um processo físico, material e concreto que sofre quando não pode tocar.

Conjugar o amor é amar a partir de coisas cotidianas simples: um filme pelo qual se espera ou há tempos se deseja ter, um presente escolhido com esmero, um passeio a um lugarejo simples, um querer intenso de superar distâncias, uma coleção de trocas recíprocas onde cada um pode ser o que é, muitos desejos repartidos para oportunizar prazer de ser, estar e fazer da maneira mais gostosa possível, uma foto de uma paisagem estética precária que traz presente os traços admirados pelo ser amado, ingênuas dúvidas que fizeram as malas e estão partindo para bem longe, um bem querer que aponta para uma vida conjunta...

Me perdoe, caro Platão, mas isso tudo não aponta para nenhuma 'alma desencarnada'. O ambiente e o sujeito do amor é o corpo que somos.

(An)Danças que inquietam


As (an)danças dos dois últimos dias causaram extranhamentos e muitas inquietações, tanto em mim quanto em outros corpos. O II Dança na UniverCidade, realizado pelo Curso de Dança da UFS em Laranjeiras/SE, protagonizou ensaios de um encontro para refletir acerca da dança, priorizando explanações intituladas 'histórias sobre a dança', oficinas e não debates.

Invocações do tipo: 'a dança vem de dentro', 'a dança está na veia', 'dança para divertir, emocionar, estravazar', 'a dança não é só corpo e movimento, é vida, é relação', 'para além do corpo, histórias de vida', 'deficientes são missionários para mostrar a diferença', 'educação não é só o cognitivo, é jogar, brincar, se relacionar', 'já existe, em SP, uma cia. de balé para deficientes', 'a essência da dança', 'a universalidade da dança' e etc, dividiram espaço com importantes reflexões acerca das relações entre dança e educação, numa perspectiva freireana, a evolução do primeiro curso de dança do Brasil, da UFBA e dança e performatividade (observação, descrição e análise da dança).

Em sua configuração, o evento possibilitou muitas reflexões acerca dos entendimentos de dança que vem sendo disseminados em alguns dos cursos de dança abertos nas Universidades Federais do Brasil, que ora parecem apontar para uma perspectiva de construção da área de conhecimento 'Dança', ora denotam uma fragilidade reflexiva que reforça as tradicionais e hegemônicas concepções de dança enquanto uma manifestação da esfera puramente sentimental, desencarnada e subjetivista.

Enquanto dançarinos, educadores e pesquisadores, ainda temos muito a nos dar conta de como proceder na configuração da nossa área de conhecimento, a dança.

10 de maio de 2010

Tingido por tangentes

Não creio nas tendências essencialistas que inventam abismos entre uma suposta essência e a existência. Sou devoto, fiél confesso, do mais corriqueiro cotidiano que ajudo a configurar, das existências mais banais, ou acadêmicas, que resultam na vida.
Todavia, nem só de rosas é composto o 'jardim da vida', já dizia o dito popular. Disrupturas, desenlaces e contrasensos também amarram nossas ações viventes. Há que se aprender com isso.
No mais, filosófo comigo mesmo e com o universo ao meu redor, regando idéias e letras com cefé puro, mantendo espectativas sob controle e acreditando que escrever ajuda. Marcado pelas cores que me tocam, sem muito o que evitar, aceito as interfaces interpostas, interativamente, pelo constante vai e vem dos dias.

Pina e Perdas


Uma perda irreparável. Procura sem encontro. Encosto sem parede. Dança sem Pina. Tadashi Endo, no solo 'Ikiru', sem receio ou necessidade, oscila entre ser e não ser, fragmenta acessos a estereótipos de dança e cria uma ambiência cênica para homenagear Pina Bausch, em 25/04/2010, no Teatro Vila Velha, Salvador/BA.

Forte e doce, firme e terno, Tadashi dança com referências do Butoh-Ma e possibilita aproximações com o ambeinte do Café Müller, espetáculo em que Pina Bausch dançava. O tom obscuro e meditativo enseja a sensação de perda, de algo que não mais se alcança, a não ser pela saudade e pela lembrança corporalizadas. Na gestualidade ecoam aproximações do bailado de Pina por entre as cadeiras, mesas e paredes do Café Müller... Latências de perda e saudade.

Tadashi corporaliza uma 'Pina oriental' que só ao despir-se trasnparece o homem em homenagem à diva da dança contemporânea. A sutileza desse gesto não se interpõe como surpresa, mas compõe e acompanha a proposição artística com sensatez coreográfica. A homenagem é o próprio homem que homenageia.

O sentimento de perda é o sobrevivente que encosta a vida na parede e questiona o como é possível seguir sem...

Foto de Adalberto Lima, capturada em: http://www.teatrovilavelha.com.br/festivalvivadanca/?p=44