29 de setembro de 2010

Sex and the Tea


Quando adentramos no processo de customização da perda do amor, instauramos uma espécie de ‘chá das cinco’ para honrar ou blasfemar a Eros – o deus amor. Criamos um cenário meio cult e épico, momentos onde recitamos trechos de romances e poemas, nos reportamos a inúmeras cenas de filmes românticos, proferimos discursos e críticas acerca da falibilidade ou veracidade do amor a partir desse difícil momento em que ele nos mostra suas outras artimanhas que não são tão românticas.

Tomar um ‘chá de sumiço’ seria uma alternativa melhor para tornar esse processo menos dramático? Abandonar os afazeres cotidianos, mudar completamente a rotina, ou ainda, sumir da realidade posta seria mais eficaz? Para certas pessoas, reorganizar a vida, as coisas, o cotidiano, sumir da realidade na forma em que ela vinha sendo organizada até então, pode parecer uma possibilidade saudável para não beirar momentos deprimentes quando se trata de esquecer o amor que acabou.

E o ‘chá de consolo’, como pode nos ser útil nesse momento? Como compensamos a falta do amor perdido? A sublimação pode funcionar como um procedimento metafórico, ou seja, nos contentarmos com uma coisa em termos de outra. Certas substituições podem satisfazer a vontade que nasce da falta do elo perdido: amigos, festas, passeios, compras, estudo, etc. Sem contar as coisas ‘ilícitas’ que, por vezes, acabam entrando na lista de alguns amantes (de)cadentes. São possibilidades que inventamos no afã de driblar a nostalgia.

Em que medida o ‘chá de trepadeira’ pode resolver a fossa pós relação? Vale a pena compensar a falta do amor que se foi entrando no jogo do ‘prazer por prazer’? Certos de nós, ‘homo sapiens’, ou, quem sabe, ‘homo sexyens’, acreditam que a melhor forma de deletar as marcas deixadas pelo ex-amor é adentrar no ramo do sexo fácil para provar novos sabores e assim apagar o gosto do antigo. E o sexo pode ser, assim, um motivo para afogar mágoas num cálice de paliativos gozosos.

E que efeito pode trazer o ‘chá de cadeira’ nesta situação de abraços partidos? De que serve a esperança numa hora dessas? Alguns de nós se põem no modo de espera, ou seja, constrói uma agridoce ilusão de que o outro vai voltar e por isso fica sentado esperando. Outros, se colocam na postura de espera do novo amor, alguém que surja, capture e arrebate o coração esperançoso que ainda acredita no amor, apesar da rasteira que este lhe deu.

Nesse ‘chá das cinco’, que pode ser a qualquer hora do dia ou da noite, vamos nos alternando nos sabores que queremos sentir, nos efeitos que esperamos, nos novos modos de ser e estar que achamos viáveis, nas posturas a serem tomadas e nas palavras a serem usadas quando a questão for ‘amor’. E assim, entre as enxaquecas, enjôos e possíveis mal estares da perda do amor, que algumas das posturas, decisões e chás tomados nos façam ficar bons por nós próprios, entendendo que o ex-amor é um outro autônomo e não uma personagem do nosso enredo romântico.

Foto: Odailso Berté

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