28 de setembro de 2010
Eu (in)vejo Alice
Alice, desde que você chegou de camiseta, ainda não consegui dizer que já vi você muitas vezes, porém hoje, mais atentamente e de um jeito incomum, eu (in)vejo você. O fato de você reclamar a importância das imagens nos livros sempre me causou enorme admiração. Mas agora, o motivo é outro.
Queria eu ser um desenho como você. Pudera eu ser apagado nos erros e refeito com maestria. Quisera eu receber um olhar minucioso, cálidos reparos e retoques dedicados daquelas hábeis mãos. Pois sei de como elas amam essa arte. Sei também de como elas perseguem e adentram a visceralidade do ato de desenhar e concebem cada imagem como um ser estético com o qual se pode dialogar.
Alice, que bom que você veio. Nesse tempo em que me fogem as maravilhas de outrora, a vontade de ser um desenho bonito resignifica o viver de cada dia. Você viu como as pessoas lhe elogiam quando saímos juntos? Fico tão feliz. Já lhe disse que você parece a Marilyn Monroe? Sim, olha só a inquietude do seu vestido. Ah, também adoro você equilibrando essa xícara na cabeça? Ganhou-a do Chapeleiro? Seu autor é muito astuto. Ouvi dizer que, ainda bem pequeno, ele desenhava a Mulher Maravilha nas revistas da mãe dele. Imagine só, um 'geninho' desde criança.
Hoje iremos juntos para a escola, mas temos que acomodar seu coelho e seu gato para que não atrapalhem a aula. Aliás, eles já estão bem camuflados assim. Já lhe disse que gato é meu bicho preferido? Bem, Alice, cuide de seus bichos enquanto eu estudo mais um pouco e assim, pode ser que esse meu sonho animado, de ser um desenho, tome jeito e me deixe ser eu outra vez. Eu, um des(d)enho humano. Às vezes acho que quando Deus me desenhou ele não estava namorando.
Fotos: Odailso Berté
Desenho: Wolney Fernandes
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