28 de junho de 2010

Entre cravos e espinhos


Desde a Grécia antiga a saga do amor vem sendo encenada por deuses e humanos. Mesmo o Deus judaico-cristão, difundido pelo mundo ocidental, é proposto como um Deus-amor que pede que nos amemos. Entre orgias e irmandades, canções e (des)ilusões, o amor é celebrado em todos os cantos do planeta.

Mas trata-se de que mesmo o amor? Algo já pronto e pré-destinado a ser buscado? Algo a ser escolhido dentre várias possibilidades? Algo a ser construído ao longo de um processo? Já temos um modelo de amor confeccionado ao qual só falta encontrar o corpo que lhe caia bem?

Acredito em ter, sim, pequenas expectativas de amor que vão se transformando ao entrar em contato com o ser amado, que não é amado de imediato, mas que vai sendo amado conforme o amor vai sendo feito no dia a dia.

Me vejo como Adélia Prado, não quero amor tanquinho...
"Eu quero amor feinho.
Amor feinho não olha um pro outro.
Uma vez encontrado, é igual fé,
não teologa mais.
Tudo que não fala, faz.
Planta beijo de três cores ao redor da casa
e saudade roxa e branca,
da comum e da dobrada.
Amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança:
eu quero amor feinho."

Não sigo procurando, sigo construindo, (re)inventando formas de amar, nas quais se (re)conhece o ser amado como ele é, imperfeito, gordinho, misterioso... Sem admirar a permanência dos defeitos ainda acredito na possibilidade de amar com exclusividade, pois intimidade não é coisa comunitária.

Livre de estereótipos de amor fabricados pelo senso de que "todo mundo faz", insisto em formas particulares de amar onde dois corpos ardem por complementariedade, satisfação, troca de saberes e de dúvidas. Amor que entende o propósito do outro, seja ele mais ou menos infante, que acolhe as dores do outro, sejam as dores que brincam ou as que queimam.

Assim, gosto muito de fazer amor.

Imagem do Espetáculo "Cravos 1982" de Pina Bausch.
Capturada em:
http://marilinealves.blogspot.com/2006/01/cravos-de-pina-bausch-lisboa-setembro.html

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