13 de outubro de 2010

Decoração em decomposição


Sou o coro de uma litania lúgubre, arrastada por inúmeras vozes familiares, sombras dos meus medos, tremores desse coração que balbucia sozinho: ‘eu ainda amo’.

Me ordeno sacerdote de uma liturgia lacônica, composta por ritos ásperos, um cálice trincado, uma altar de oferendas perecíveis, martírios de um coração que reza um ato de contradição: ‘eu ainda desejo’.

Entrego meu corpo a uma letargia lúcida, atrelada a tantas hemorragias sentimentais, cirurgias de vontades deixadas a esmo, curas improvisadas a um coração que chora por um transplante: ‘me tire desse corpo’.

Estou submetido a um lamento latente que ri das minhas perdas, alterna as pedras para meus tropeços e se gaba por desmanchar as redes tecidas pelo meu coração artesão: ‘trama de amor desfeita’.

Hidrato minha pele com lágrimas lânguidas, movidas por uma brisa leve que vem do meu norte entristecido, gotas salgadas de um mar desiludido que encontra sua encosta quando escorre e pinga no peito, indo tocar de leve o palpitar do mesmo coração que já submerge mudo.

Foto: Odailso Berté

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