7 de abril de 2011

Olhos sem face


Pensando em imagens que se deformam ao longo do tempo, vejo alguns semblantes que passaram por mim e sei que se parecem tanto com o retrato de Dorian Gray.

Lugares me marcam, como também canções, toques e afetos. Mas atitudes perversas de omissão, mesmo quando a ferida sara, evidenciam uma cicatriz que se prolonga na lembrança de uma imagem corroída.

Não era pra ser assim, mas somos as escolhas que fazemos. Mesmo que Sartre tenha razão em podermos mudar aquilo que nos fazem, por vezes, somos aquilo que fazem de nós.

Inventar um outro eu é como trocar de alma com uma pintura bonita de si mesmo, é como ser um Narciso nefasto que se vende por tão pouco, se mata crente de que se ama.

É atribuir a responsabilidade de viver e se relacionar a uma imagem bonita de si mesmo, impostora, que se dilui ao menor contato com a verdade.

Ser uma imagem pintada no ensejo da relação e não previamente esboçada com os tons da mera aparência.

Ser uma imagem que me resplandeça sem maquiagens e subterfúgios, desafio inerentemente humano.

Ser uma imagem que permanece no afeto do outro e ali se mantém pela sinceridade da entrega.


Imagem do filme "O Retrato de Dorian Gray"
Capturada aqui.

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