29 de abril de 2012

Homem de salto alto


Caríssimos, embora talvez isso não seja a mais relevante das preocupações de suas vidas, não virei travesti. Até porque, ninguém vira o que já não seja. A não ser que surte, penso eu. E ser travesti também não é tão mal assim, como se pensa por aí.

Ao pensar um look para uma festa temática ("So Pop"), quantas sensações experimentei. Desde a decisão de assumir um estilo próximo ao do grupo Kazaky, passar por lojas provando sapatos femininos e viver o homem que desliza sobre saltos altos numa pista de dança.

Não que tenha acontecido, mas fiquei lembrando do xingamento que desmoraliza muitos homens: "Mulherzinha!" É ofensa na certa. Ser chamado de mulher é ser xingado? Então ser mulher é uma condição humilhante? Engraçado, a vida toda forçamos as mulheres a se sentirem incluídas no termo homem e nem por isso muitas delas aparentaram sentir-se xingadas.

Vejam o que um sapato de salto alto pode nos levar a pensar, até discursos feministas ajudam a articular. Mas o fato não se deu sem auto-transgressões. Nas lojas, eu ficava mais sem graça que os vendedores - homens - que com gentileza auxiliavam-me a calçar os ditos. Não sei adivinhar o que pensavam, mas agiam sem qualquer estranhamento.

Na festa, os olhares eram variados: de estranhamento, de impacto, de surpresa, de dúvida, de euforia, de admiração, de encantamento, de "tanto faz". Não vou dizer aqui que para usar salto alto é preciso ser muito macho, pois soa tão piegas, machista e falso. Mas a sensação de por-se sobre os tacos, enquanto homem, e encarar outras pessoas, desconstrói versões inventadas de nós mesmos, aproxima-nos de outros modos de ser e se portar. Deixa-nos à vontade para assumir e reconstruir a cada dia nossa(s) identidade(s) móveis, flexíveis e processuais.

Aos desavisados de plantão, não estou fazendo nenhuma apologia ao salto alto para homens. Mas se quiserem viver essa experiência estético-antropológica, tenho certeza de que, além de uma dorzinha nos pés, vão provar de uma sensação majestosa, desconstrutora e ousada. Algo que, sendo homens, não nos deixa sobre, mas mais próximos delas.        

Nenhum comentário:

Postar um comentário