22 de junho de 2012

Entre focos, fatos e fotos


Treze dias depois retorno à casa da escrita... Nada de incomum a dizer. As paredes e mobílias fonéticas parecem as mesmas. Todavia, o intento que move dedos e teclas (antes eu diria, a caneta) é apenas um meigo olhar, tímido e envolvente.

Um par de olhos miúdos, a quem pouco digo, mobiliza intentos graúdos a ponto de autorizar o doce querer de uma dança simplória sobre morros uivantes. Limitado ao momento em que encaro esse olhar, arremesso fins e começos para longe desse agora em que sou distante do foco que desejo ter sobre mim.

É uma e duas e percebo que mudo minhas cenas a partir das perspectivas desse olhar alheio. Olhar que me vê e me fotografa com intuito meio semiótico, com preceitos e ângulos que, mais que formatam, encantam e tecem vontades de permanecer sempre na pose, para ser por ele olhado um pouco mais.

Quando me enquadra, desenha cartografias íntimas que me fazem rir sozinho entre as pequenas paredes do cotidiano em que estamos cada qual no seu quadro. Quando penso no que poderia acontecer, os cantos da casa sorriem e aquelas fotos lançam fagulhas introvertidas, que aquecem o corpo e sussurram frases secretas entre eu, os ditos e os ouvidos.

Mas não permito que nenhuma das sensações inunde a aridez dos terrenos onde brotam meus afetos. Afinal, cada qual de nós atende interlocutores para além dos ângulos que ligam nossas retinas. Grito sem resposta, luta sem vitória, fingir sem ter, música tola que toca e apenas permite imagens que se desvanecem sem um gozo satisfatório.

Entre fotos intensas e fatos imersos, continuamos dizendo nos termos de uma amistosa convivência. Pois o dia depois de amanhã não guarda ativas esperanças. Só, talvez, mais imagens de beijos que se perdem ao foco do querer, que só permitem toques entre as meninas dos olhos, entre os meninos que guardamos nesses retratos inventados de nós.


Foto de Agno Santos.