29 de março de 2010

Avatar de Utopia

Atlântida - a mitológica cidade construída por Poseidon e afundada por Zeus, descrita por Platão... Utopia - a cidade renascentista, feliz e isolada, descrita por Thomas Morus... Pandora - o planeta da diversidade e da interdependência, criado por James Cameron no filme "Avatar" (EUA, 2009).

O sonho de viver em paz num lugar perfeito, ao longo dos tempos, se refaz no imaginário humano. Seguimos atravessando mares vermelhos, roxos, amarelos, verdes, azuis... Em busca da "Terra de Sião", prometida, mas nunca cumprida. As tempestades, maldições e guerras, que nós próprios criamos, seguem distorcendo nossas utopias.

Em "Avatar" vê-se a capacidade humana de assumir a corporeidade do outro com intuito de assimilar suas estratégias de vida, assumir seus modos organizativos e assambarcar seu potencial, seus bens e sua terra.

Após eliminar as possibilidades de vida na Terra, os humanos invadem o planeta Pandora, habitado pelo povo Navi. Sem o engodo da "descoberta de um novo mundo", vê-se a recriação fictícia (baseada em fatos bem reais) da colonização envolta num aparato tecnológico mais evoluído. Valendo-se de avatares (reproduções genéticas de corpos do povo Navi controlados pela mente humana), os humanos conseguem invadir com mais perspicácia, literalmente, vestindo-se à caráter, ou, como lobos em pele de cordeiros, para descobrir a lógica de organização, a fonte da vida, o ponto aglutinador de forças do sistema ambiental dos Navi.

A força, a violência, os aparatos bélicos, a tecnologia, a ganância e a vontade humana são usadas para fragilizar, ferir, destruir e desestruturar o equilíbrio de uma forma de vida diferente. Os Navi, um povo para o qual não existem as dissociações cultura/natureza, corpo/mente, sujeito/objeto, sagrado/mundado, humano/animal... Tudo e todos interagem como partes de uma mente ambiental ampla, codependem uns dos outros, agem, pensam e vivem em rede, conectados e conectando-se para sentir juntos. Essa "corponectividade (RENGEL, 2007)" ambiental, cultural, psicológica, corpomental, é o que mantém vivo o seu sistema de vida.

Mas, como certos animais humanos terráquios desconhecem (na ficção e na realidade) o valor disso tudo e possuem um sério problema com a alteridade, não poupam munição e nem medem as consequências. Já conhecemos essa história, ela faz parte do nosso DNA ocidental, segue inscrita em nossos corpos, somos herdeiros da brutal colonização.

A utopia (u-topos = o não lugar, lugar nenhum, ou, o lugar ainda não), pode ainda suplementar nossos modos de agir? Ou as distopias da sociedade malévola, que decretam o fim da história, já exterminaram nossas possibilidades de instaurar outras posturas?

Conforme a filósofa Marilena Chauí, em palestra no dia 26/03/2010, na Reitoria da UFBA - Salvador/BA: o utopista desloca a fronteira daquilo que seus contemporâneos consideram possível, apreende o desejo popular e desenha o novo lugar. A ação humana é capaz de transformar.

Essa é uma utopia que instaura possibilidades. A utopia pode ser o avatar que envolve nosso corpo em meio às distopias e invasões bárbaras contemporâneas. O belo planeta Pandora foi inspirado no nosso mundo real, e esse nosso mundo não é, a priori, uma caixa de maldições.

Imagens capturadas em:

2 comentários:

  1. Então pronto!
    Achei minha nova função: Ser utopista para deslocar fronteiras. Lindo texto! Reflexões enredadas no cotidiano, às vezes tão invisível aos nossos olhos!

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  2. Seria perfeito se vivessemos unidos igual ao povo na'vi.. acho que era pra vivermos assim más a ignorância e nossas vaidades fazem com que nos separamos um dos outros!

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