19 de março de 2010

Boas doses de dança

"Para acordar os homens e adormecer as crianças" é como se intitula o espetáculo de 2009 do Ballet de Londrina, criado por Leonardo Ramos e apresentado no Teatro Jorge Amado - Salvador/BA nos dias 17 e 18 de março de 2010.

A partir da poética do título e do "vide bula" proposto com o programa dentro de uma embalagem de comprimidos (que alerta para ser mantida fora do alcance de crianças), esboçam-se espectativas de aproximações com possíveis dilemas relativos ao processo infante - adulto, ou, quem sabe, menoridade - esclarecimento, numa perspectiva kantiana, ou, ainda, alusões críticas ao clichê da "criança interior". Todavia, a estrutura coreográfica soa como uma desencontrada polifonia de elementos que estão agrupados e não, necessariamente, correlacionados em nexos de sentido.

Cria-se, entre as entradas e saídas, uma utópica convivência entre movimentos já recorrentes em coreografias contemporâneas, elementos esparsos de dança moderna e entonações de jazz dance. Doses de danças que não se misturam. O panorama visual esboça uma espécie de bricolagem feita de recortes de estilos e não, propriamente, uma configuração resultante da correlação entre padrões de movimento que se contaminam e se codefinem aparecendo no corpo não mais como sempre foram vistos e classificados.

O enredo se aventura por entre trocas de figurinos, alternâncias da tradicional estrutura solo - duo - trio - conjunto - grupo - pas de deux, não necessariamente nessa ordem, e do seguimento linear dos acentos musicais. Em dados momentos a obra se permite experimentos onde a dança aparece como pertinentes investigações de movimento em sequências onde os corpos aderem ao solo buscando formas de deslocamento e pontos de apoio não habituais movidas por fluxos espirais leves e precisos. Tais experimentos suscitam uma perspectiva autoral a ser explorada com mais profundidade, todavia são interceptadas pela sua brevidade cênica.

O metafórico remédio pode ter consistido em um agradável calmante para uns, um comprimido de farinha para outros e num santo remédio para outros, o que é perfeitamente normal quando se leva uma obra a público. Mais que gostar ou não gostar, achar lindo ou achar feio, importa refletir sobre o gosto, compreender o porque do gosto, pois, como dizia na bula/programa: "o espetáculo demora a contar a que veio".

Imagem capturada em:
http://www.cascavel.pr.gov.br/noticia.php?id=765

2 comentários:

  1. RSRS, papel e internet aceita qualquer bobagem escrita, falar assim de um grande espetáculo como esse é no mínino tolice, o autor deria ficar calado...
    abrços
    Luis Roberto - Bailarino

    ResponderExcluir
  2. Obrigado pela sua contribuição, Luis. até que gostei do espetáculo, mas em se tratando de dança, já passou o tempo de dizer "gostei" ou "não gostei". Entender dança exige reflexão e análise crítica, sem desmerecer a obra. Minha opinião é apenas uma das tantas interpretações possíveis, sinal de que a dança faz-nos pensar.

    ResponderExcluir