12 de outubro de 2010

dói story


Depois dos noturnos pesadelos onde eu era abandonado por um amor em meio a congressistas desconhecidos, acordei. Como na época em que eu ainda tinha medo do sono, da noite, do escuro, amanheci para mais um dia da criança.

Revisitei as mãos carinhosas da mãe que me ajudava a descer das árvores quando eu não conseguia, a vontade de voar com a She-ra montado no Ventania, as garças brancas na aveia verde, as úmidas manhãs de inverno, a primeira coreografia que me fez ‘brincar de índio’, os especiais de natal da Xuxa, a coleção de figuras da Ana Raio... Tanta coisa.

Meus brinquedos, minhas vontades, minhas coreografias, hoje são outros, mais complexos e densos. Mas percebo que nada daquilo ficou perdido lá atrás, seguem intensificados em mim.

Meu rosto hoje tem traços adultos que à mercê de um simples olhar, uma lembrança, uma imagem, ganham tons infantes e novamente eu quero subir nas árvores, voar no Ventania e correr com as garças no meio da aveia.

Das garças, tenho uma imagem que ganhei de alguém especial. No caso da She-ra, comprei os DVDs. Mas da mãe não tenho mais as mãos.

No sol que agora se põe atrás dos prédios, findando o dia da criança, ouço um cantar que diz: “a tristeza tem sempre uma esperança de um dia não ser mais triste”.


Foto: Odailso Berté

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