17 de outubro de 2010

Quando a vontade voltar para casa


Como filha pródiga ela saiu levando junto a esperança no amor. Arrastou consigo os ânimos de empenho e criação, tirou-me da boca o doce a ser mordido, levou de mim o gosto bom de sentir-se afeiçoado.

Qual moral devassa e devastada deixou em fagulhas o senso bom de verdade que eu tinha, fazendo-me desconfiar de sombras que nem existem, de sobras que em nada consistem. Usurpou-me um lado ainda não corrompido, um jeito ainda jovem de utopia ‘olho no olho’ que não temia um piscar de olhos e nem um desvio de olhar.

Mais que céticos, traumatizados, deixou meus sentidos de empatia antes dispostos a acolher que o ser humano é bom por natureza. Alheio a meus valores, fiquei sem reconhecer o interlocutor que antes dividia o travesseiro comigo e agora se parece mais com a estranha mão que embala o berço.

Tirou de mim noites com sossego de sono, invadiu meus sonhos trazendo pesos, pesares, pesadelos. O pedaço do meu coração que você comeu, ‘bicho papão’, mesmo que o processo seja árduo, há de regenerar-se.

Daqui a um tempo, quando a vontade arrependida revisitar-me num inesperado fim de tarde ou numa noite casual, quero poder, cordialmente, abraçá-la, dizer-lhe da falta que me causou e das coisas que aprendi nesse tempo de ausência. Verei além dos fatos em si e, de momento, acho que posso prever um toque acanhado da brisa movida pelas asas coloridas daquelas borboletas que causam friozinho na barriga.

Seja sempre bem vinda de volta, vontade minha!


Foto: Odailso Berté

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