10 de novembro de 2010

BTCA - entre poros e pétalas


Exalando florais na programação do Festival Internacional de Artes Cênicas da Bahia – FIAC, o Balé do Teatro Castro Alves – BTCA estreou, nos dias 29 e 30 de outubro de 2010, o Espetáculo ‘À Flor da Pele’, coreografado por Ismael Ivo e dirigido por Jorge Vermelho.

Diferente das demais coreografias criadas ao longo do ano de 2010, ‘1POR1PRAUM’ e ‘A quem possa interessar’, ‘À Flor da Pele’ encontra contento explorando ora a virtuosidade ora a singeleza dos dançarinos e atuando conjuntamente à Orquestra 2 de Julho. Tal elemento confere ao espetáculo uma conjugação amalgamada entre dança e música, como se fosse um coro dançante.

Ansioso pelos dançarinos no palco, o público é surpreendido quando os vê entrar pela mesma porta da qual entrou. E é no meio do público que a dança tem início, corpos dançarinos e corpos espectadores, juntos, partes da mesma cena. Com delicadeza os dançarinos pedem permissão e levam para o palco os calçados de alguns espectadores. Uma tentativa sutil de misturar cena e realidade.

No palco, uma placa de alumínio refletia e (des)configurava os corpos dançarinos, as luzes e parte dos corpos espectadores. Imagens, como que pinturas vivas, desenhavam formas que dançavam também, compondo a cena.


Entre sequências retilíneas, compartimentadas, sincrônicas e assimétricas, só de corpos, de corpos e objetos, ou de uma chuva de grãos que cobria o palco, o espetáculo traça caminhos aleatórios, permitindo ao espectador várias entradas para a interpretação. Contentando, de modo democrático, como toda dança deve ser, a gostos, desgostos e contra-gostos.

Em imagens coreográficas curiosas, belas e surpreendentes, a coreografia de Ismael Ivo e a interpretação do corpo de baile do BTCA conseguem mover a memória e as expectativas, possibilitando associações com inesquecíveis cenas de Café Müller, Sagração da Primavera e fragmentos de outros trabalhos de Pina Bausch. O que, por vezes, soa como uma bonita saudade da mestra da dança contemporânea alemã e mundial.

Para não deixar ninguém descalço, o coro dançante se despede devolvendo os calçados e retribuindo o empréstimo com flores e abraços. Transpirando primaveras, o BTCA mostra que, como sendo uma companhia de dança, tem possibilidade de se valer da virtuosidade, da singeleza e da alteridade para compor dança e proporcionar as mais variadas apreciações.


Fotos: Vera Milliotti
Capturadas em: http://www.flickr.com/photos/secultba/5142344597/in/photostream/

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