10 de novembro de 2010
Continuar distante
Hoje, o mesmo mar que viu meu vale de lágrimas, beijou-me o rosto e os olhos com terna brisa. Mostrou-se azul de horizontes infinitos, bem do jeito que eu sabia que ele era, mas me recusava a ver.
Passei pela rua que antes me fora de amargura e não mais senti as angústias de outrora. As palavras agora me fluem sem esforço, como se saíssem de mim por conta própria. Que milagre oculto terá ocorrido em mim, na rua, ou no mar?
Nada como ter o foco afetivo não mais preso em lactências distintas e distantes. Nada como ter os poros abertos para inspirar e expirar afetos no ambiente onde se está inserido. Nada como estar disposto a ser acolhido pela especificidade de cada lugar.
Sigo a sina que o dia a dia vai me esboçando e que eu mesmo vou desenhando com meus gestos. São outros jeitos de viver que me vão aparecendo sem estratégias artificiais, sem galanteios de palha, sem orações de pau oco.
Percebo que, bem mais que o tempo que eu perdi, está ficando para trás tudo aquilo que me juntou ao amor transfigurado em dor. Quieto no meu canto e cabelo ao vento, vou restaurando, a passos lentos e sedentos, esse meu jeito sempre principiante de querer, que atende a pedidos inteligentes de corações e corpos que querem ser verdadeiros.
Em paz
Eu digo que eu sou
O antigo do que vai adiante.
Sem mais
Eu fico onde estou
Prefiro continuar distante.
Trecho da Música "Resposta" (interpretação de Milton Nascimento e Lô Borges)
Foto: Odailso Berté
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