Na década de 1970, nos Estados Unidos, surgia uma banda de rock que fugia totalmente dos padrões previstos para esse estilo musical e, principalmente, nada convencional para o gênero que a integrava: mulheres.
Quando talento e ousadia se cruzam, quando se assume posturas, é inevitável não provocar rupturas. Um feminismo quente, riscado em cordas de guitarra, ribombar de caixas de som e vozes cálidas e estridentes.
Assim se fez a banda “The Runaways”, conforme mostra o protagonismo de Dakota Fanning e Kristen Stewart, que saem da opacidade crepuscular e brilham entre holofotes, guitarras e microfones, alçando vôo no quesito interpretação (cênica e musical).
Meninas que se fazem mulheres ao dizer ao mundo que queriam e podiam ser amantes, profissionais, artistas e roqueiras tão qualificadas quanto os homens. Com picardia mostram, por meio da música, sua força particular e sua forma única de estar no mundo.
Ao (re)construir em seu corpo Cheri Currie, Dakota Fanning explicita com segurança e simplicidade que sua capacidade interpretativa não se restringe só a um rosto simpático. Mas a uma trajetória artística que desde a infância vem lhe conferindo possibilidades de ser uma atriz sensual, inteligente e sagaz.
Já Kristen Stewart, quase congelada pelo papel da bela mocinha da saga “Crepúsculo”, assume uma identidade “runaway” e, literalmente, foge daquele padrão ultrapassando expectativas. Ela consegue recriar a cantora Joan Jett a partir de uma visceralidade corporal permeada por singeleza e timidez. Sua interpretação surpreende, convence e encanta.
Recordo uma das cenas finais onde Cheri Currie (Dakota), trabalhando num lugar comum, ouve no rádio uma entrevista com Joan Jett (Kristen) que, como se sabe, seguiu carreira solo após o término da banda, e decide ligar para o programa. A simplicidade da cena, sem emotividades alteradas, parece fazer fluir no peito uma saudade sem jeito e tímida que traz, por meio do leve sorriso de ambas, lembranças de coragem, sucesso, prazer e amor (delas e nossos), aos quais a continuidade foi contida.
“The Runaways”, a banda de rock composta por garotas dispostas a enfrentar as vaias do preconceito com escudos feitos de sonhos, deu origem ao filme “The Runaways – Garotas do Rock”, com roteiro e direção de Floria Sigismondi.
Imagens capturadas em:
http://www.cinemaemcena.com.br/ficha_filme.aspx?id_filme=8431&aba=detalhe
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