2 de janeiro de 2011

Daniela Mercury é arte que arde

Longe de todos os clichês de mero entretenimento cantados por algumas das atuais cantoras baianas de axé music, Daniela Mercury segue fazendo arte com destacada qualidade estética e mostrando o quão rica é a cultura brasileira.


Provinda da área da dança, Daniela faz jus em exercer a profissão de artista ao fazer e ser arte com o próprio corpo, seja cantando e dançando com louvável desempenho, seja proferindo palavras de cunho cultural, afetivo, político e educativo.


Parafraseando sua música "Trio em Transe", digo que ela consegue: esculpir palavras, notas e gestos, escrever cores, desenhar versos. Daniela é a própria mercadora de sonhos e movimentos que no palco consegue ser a Kika de Almodóvar, a preta da Portela, Tieta, Dona Flor, Madalena e Gabriela.


Dona de posicionamentos definidos e declarados, não aparentando receio algum em assumir posturas e provocar rupturas, Daniela se expressa uma artista-cidadã contra os preconceitos raciais e de gênero, a favor da causa ambiental e engajada política e socialmente para longe dos discursos boçais de certos artistas pseudo-engajados.


Na 11ª edição do evento 'Pôr do Som', show gratuito realizado no primeiro dia de cada ano, no pôr do sol do Farol da Barra de Salvador/BA, Daniela trouxe "Canibália", um espetáculo de alta qualidade em todos os quesitos artísticos que o compõem: música, dança e imagem.


Numa teatralidade visual fluente o show envolve a multidão que vê, dança, canta e admira participando de um modo de fazer arte que coloca o cotidiano brincante, desafiador e crente da Bahia e do Brasil no palco, deixando a gente com uma suada vontade de ter a pele negra.


Como uma Pérola Negra Daniela exala a Benção do Samba. É como uma Preta transpassada pelo Sol do Sul que melhor mostra ao Brasil e ao mundo O que é que a Baiana tem. Com o swing de sua cor ela desperta o canto da cidade, do homem e da mulher, do preto e do branco.


Meu primeiro dia do ano arrastará esse axé por todos os 364 dias que hão de vir. O show finda e o sonho de menino, que dançava feliz ao som de Rosa Negra, se vê em grande parte satisfeito. Fica uma ardente lembrança daquela que (como ela própria canta em Oyá por Nós): assanha o céu, tudo alumia, ilumina a noite, incendeia o dia... Ela veio do vento. Daniela Mércury é arte que arde!

Fotos: Odailso Berté

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