4 de janeiro de 2011
mal dito
Num canto sujo da casa, depois de uma garrafa de champagne que sobrou do réveillon, alguns capítulos da novela que antes o tocava e ao som de uma antiga balada, ele se viu diante dos fantasmas de sua própria voz.
Sem usar a primeira pessoa entendeu que o que lhe fora feito ainda era um mal, um estrago, uma desordem instaurada e condenada a se arrastar com ele por um tempo imprevisível.
Não para parecer dramático, apenas relatando em silêncio sua realidade, pensou em ser só, acreditando, assim, afugentar os assombros da dúvida e da insegurança.
Como estaca estes lhe foram cravados no peito por uma mente insensata e sem corpo, que sem medir conseqüências atingiu seu sentido de crença no outro.
Rapaz, menino, homem fraco, lento na libertação sonhada, assombrado por aquilo que espera ser e não é, preso em pré-ocupações que determinam suas ocupações mais espontâneas, tenso para seus feitos mais intensos.
Bem dito seja o dia em que ele acabar com isso, ou, isso acabar com ele. Bem ou mal, não faz mais mal dizer.
Foto: Odailso Berté
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