8 de janeiro de 2011

Sex and the security


Há algum gesto específico, um determinado modo de olhar, ou ainda, certas palavras que trazem segurança à relação? Que tipo de situações devem ser construídas para podermos dizer 'ufa, estou seguro na relação'?

As expectativas nem sempre ajudam a deixar a relação fluir, pois podem criar um plano demasiadamente ideal que atrapalha a realidade possível. Com isso, podemos viver exigindo que o conto sonhado se realize enquanto a realidade possível vai se esvaindo no esforço de alcançar o abstrato ideal sonhado.

Em se tratando da insegurança, nem sempre se percebe de onde ela vem. De lacunas deixadas pelo outro? De traumas provindos de outras relações? De expectativas exageradas que não podem ser alcançadas? De modo geral, estar seguro, no mundo de hoje, é algo indeterminado. De modo particular, na relação afetiva, a segurança pode depender das trocas que se estabelecem, da sinceridade compartilhada, da cumplicidade construída paulatinamente. Muito embora, nada disso seja garantia de 'para sempre'.

Pessoas são seres mutantes que a cada nova situação cotidiana tornam-se imprevisíveis, indetermináveis, incompreensíveis, inseguras. Depositar a confiança em alguém é um exercício contínuo de mútuo conhecimento que consiste no desapego, no entendimento de que todos são livres, escapam ao nosso controle e nunca se entregam ou se deixam conhecer por completo. Nós somos assim.

Confiar talvez seja 'fiar com', fazer uma fiança junto com o outro. Ou ainda, 'fiar', tramar fios, tecer uma rede com o outro sem saber se virão nós, enroscos, fios arrebentados... Necessária é a vontade e o empenho de fiar juntos. Dessa vontade e desse emprenho é preciso estar seguro. O que está por vir é sempre inseguro, não está asegurado por nossas mãos.

A segurança pode estar entre os atos de segurar e soltar, na flexibilidade que pode vir desses atos. Saber soltar faz perceber outros modos de segurar, com mais ou menos intensidade, com mais ou menos afeto. O trajeto de segurar, soltar e segurar de novo mobiliza os sentidos para percebermos nossas atitudes de força, de posse, de controle e de domínio sobre o outro.

Segurança afetiva pode ser uma questão de soltura e confiança. Mesmo se essa soltura implicar em não mais poder segurar, mesmo se essa fiança conjunta trouxer prejuízos, nós, rompimentos e desalinhamentos. Relações humanas são assim. Será que estamos seguros disso?

Imagem: Penélope Cruz e José Luis Gómes no filme 'Abraços Partidos' de Pedro Almodóvar.
Capturada em: http://cinezencultural.com.br/site/2010/07/07/abracos-partidos/

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