14 de fevereiro de 2011
Burlesque: histórias comuns também brilham
Será que só as biografias de mártires, reis e rainhas rendem bons filmes? Por que as histórias comuns não (co)movem os olhares críticos?
Sem adesões ao ‘lixo cultural’ que muitos produzem, vejo um sentido inovador quando Boaventura Sousa Santos diz que todo conhecimento ou ciência deve se ‘sensocomunizar’, ser acessível, fazer sentido ao dia a dia humano. Entre aquilo que se chama senso comum e aquilo que se entende como senso erudito, há mais complementaridade do que certos críticos podem ‘achar’.
Pensando em histórias comuns, tachadas de ‘clichês’ e 'previsíveis', olho para a simplicidade burlesca de Tess (a lenda) e Ali (a estrela), personagens vividas por Cher e Christina Aguilera em Burlesque (EUA, 2010), dirigido por Steve Antin. Um filme musical com traje a rigor que assume o comum com sinceridade, brilho, maquiagem, luzes e números musicais e coreográficos de bom porte sonoro e imagético.
O enredo da garçonete que vem do interior para tentar o sucesso como artista na cidade grande, já é deveras conhecido. Todavia, o que encanta é como recriar tramas já vistas com paisagens surpreendentes.
O empenho em manter viva sua fábrica de teias e enredos, faz do artista um trabalhador incansável que dirige, costura, canta, dança, pinta e borda. Alguém que desponta no palco e conserta figurinos com o mesmo brilho. Embora pareça utopia no meio artístico, esses são egos (est)éticos, capazes de reconhecer e potencializar o talento do outro sem tê-lo como ameaça ou sombra, mas sim, como mais um protagonista no fazer artístico.
Ao invés de narrar só a ascensão da estrela, Burlesque mira o foco para o ambiente onde esta desponta. As luzes do pequeno palco onde sonhos, teias e enredos ganham vida merecem seguir acesas, como o céu que continua firme, ajam estrelas ou não.
Acredito em contos comuns, de verdade, que fazem espetáculo de coisas pequenas, que emocionam ao deixar que garçonetes mostrem a voz e a sensualidade por vezes escondidas entre mesas, aventais e bandejas. Histórias assim, fazem canção e dança com a feiúra e a boniteza que a vida tem.
Imagens capturadas aqui.
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