11 de fevereiro de 2011

O Discurso do Rei: entre linhas e imagens

“Eu tenho voz!” Uma frase, aparentemente, simples de ser dita e um tanto obvia, dado que, a apriori, os humanos são seres falantes. Todavia, pode ser um discurso pesado para alguém que, movido por um sentimento de inferioridade, tropeça nas palavras de um ‘eu’ gago e receoso em expressar sua coragem.

O Rei inglês George VI, protagonizado com maestria por Colin Firth, ao assumir o trono abdicado pelo irmão, mais do que enfrentar todo o povo inglês e a iminência de uma guerra, precisa lutar com sua gagueira.


O desafio de falar em nome de um povo quando não se consegue falar direito pode ser a ruína de um reinado que depende de diplomacia, acordos e discursos.

Como manter as relações ternas quando tudo ao seu entorno torna-se frio, burocrático e simbólico?
Como reencontrar traumas passados, fatos que parecem sem importância diante da relevância de um reinado, para, a partir deles, compor uma auto-expressão e uma liderança forte?
Como dar-se conta de que as grandes posições vêm das frugalidades cotidianas?


O companheirismo de uma esposa atenta e solidária, interpretada com beleza e sensatez por Helena Bonhan Carter, apresenta traços de um afetuoso matrimônio que suporta e atenua as dificuldades.

A simplicidade e o talento de um pseudo-profissional de problemas da voz, vivido sagazmente por Geoffrey Rush, oferece o ombro, os ouvidos e o coração abertos para acolher o outro em sua pequenez sem nobreza, mostrando que entre amigos é possível ensaiar discursos onde o ‘eu’ pode se mostrar sem medo algum.


O Discurso do Rei (2010), dirigido por Tom Hooper, traz, na sutileza e na inocência de uma gagueira, a magnitude gestual de quem, embora tropeçando na verbalidade, traz reinos encantados no coração e consegue desenhá-los a toque de dedos, fazendo com que imagens beijem-nos olhos, peito e lembranças.


Imagens capturadas aqui.

Um comentário:

  1. Um filme que coloca na tela um tantão de medos impronunciáveis. Os hiatos entre o pensamento e a fala, os tropeços na elaboração oral, muito comuns do lado de cá, deixaram a narrativa ainda mais emocionante.
    Lindo texto!

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