Nas poeirentas estrados do interior de Minas Gerais, diante de canavieiros apegados ao labor, a esperança passa montada na caravana de uma trupe circense. Assim, as belas imagens do filme "O Palhaço" (2011), dirigido por Selton Mello, sopram ventos de dramas, risos, silêncios e doçuras no picadeiro de nossa imaginação.
O gato bebe leite.
O rato come queijo.
Eu sou palhaço.
E você?
Sem tantas acrobacias, a simplicidade dessas palavras afronta as posturas cômodas em relação à identidade. Questionam metaforicamente acerca do que significa ter a identidade na mão. O documento verdinho e aquilo que identifica nosso ser no mundo que, por vezes parece complexo de conceituar, mas se nota no corpo, no que se faz, se diz, se expressa e que é de tantas cores.
Eu faço o povo rir.
Mas quem vai me fazer rir?
A vida artística itinerante evidencia, além dos risos e aplausos, certas ventanias que ameaçam as certezas da realização pessoal. Caso não se esteja seguro daquilo que se é, projetos e sonhos podem esmorecer. A magia do circo é tão humana fora do picadeiro.
A ternura de um pai que vê e ouve sem demonstrar que está olhando e escutando, instiga a saudade de casa, de aconchego, de proteção. Dá vontade de ser filho pra sempre. De pedir a benção antes de dormir. De ajudar nas tarefas cotidianas. De voltar pra casa e ser recebido com abraço apertado e lágrimas. De sentir de novo a brisa do lar.
Não se nasce com a identidade de artista. Talento não é dom que cai do céu. Ser artista é aprendizado, trabalho, esforço cotidiano, cansaços, aplausos, vaias e alegrias que se misturam ao longo da trajetória de cada um. A vida, a identidade, precisam ser constantemente ventiladas...
Imagens capturadas aqui.
Oda, que postagem mais linda!
ResponderExcluirDisse tanto com tão pouco... poético e terno como o filme também se apresenta. Adorei!