12 de abril de 2012
Sex and the Envy
Ele passou o dia ouvindo "I have nothing". E nem era a versão original, mas a interpretação de uma caloura do programa Raul Gil. Segundo ele, depois de Whitney, a melhor. Essa sensação de não ter nada deixou turvo seu olhar durante todo o dia e o fez sentir inveja de várias cores.
No ônibus, o casal "heterozinho" de adolescentes, pareceu-lhe irritantemente atraente, aos beijos e risos, ela sentada no colo dele.
A dupla de macacos, entre os tantos que transitam sobre os avarandados do campus, mesmo no ato de roubar comida, não se desgruda, um nas costas do outro.
Pela primeira vez seu facebook sugeriu entre as "pessoas que talvez você conheça", a possibilidade de adicionar seu ex. Mesmo tentado pelo afeto ainda latente, disse que não enviou a solicitação de amizade, tampouco abriu a página do sujeito. Pois sabia que lá estariam publicadas as fotos da nova relação, coisa que antes o tal ex nunca fizera.
Suspirou, várias vezes, por entre sorrisos simpáticos, vendo que um ex mais antigo, ao telefone, dava explicações verdadeiras para o novo namorado, de onde e com quem se encontrava no momento.
E foi atrás do enfadonho texto sobre arte funerária, da professora doutora que não sabia o nome do Mickey e chamava o Pluto de "cachorro peludo", que ele despencou suas memórias, afetos e invejas... Isso entre o odor de cigarro impregnado em sua mão e lágrimas bem discretas que percebi de longe.
Abandonou a carona e seguiu para casa a pé, sumindo entre os carros, as luzes e o escuro da noite. Antes ainda pude vê-lo ligar o mp3 e colocar os fones no ouvido para, certamente, entre as invejas remoídas ao longo do dia, ouvir outras tantas vezes a caloura repetir com límpida estridência: "I have nothing, nothing, nothing... If I don't have you".
Foto de Odailso Berté.
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