19 de maio de 2012

a loser like me


É preciso, mas extremamente duro saber perder, assumir-se perdedor. Custa muito, pois ninguém chega a conhecer o empenho investido, a profundidade do desejo, as dores do cansaço e das tensões, a intensa paixão que nos move a lutar por um sonho, juntar tantos pedaços para construir um projeto. Isso o fazemos sozinhos, em relação com muitos, é verdade, mas solitários na árdua organização dessa construção.

É impossível não lembrar da banca de jurados que julga os festivais de coros do seriado Glee. Autoridades no ramo, celebridades das artes, pessoas renomadas. Publicamente, figuras esplêndidas, que escorrem simpatia pelos cantos do sorriso, uma diplomacia teatral. Todavia, as cenas de suas reuniões secretas, os modos e termos com que se referem aos sujeitos aos quais estão julgando - avaliando - comparando, são patéticos, grosseiros, abusivos e desprezíveis. Assim, histórias de vida, capacidades, talentos, potenciais, se tornam apenas números. Uma cifra reguladora, uma medida cartesiana, esvaziada e niilista.

As três figuras (episódio 21, 3ª Temporada), que sem nenhum esforço interpretam a si mesmos, são verdadeiros personagens... Tipo Três Mosqueteiros, As Meninas Super Poderosas, As Panteras, As Noivas do Drácula, Três Espiãs Demais, The Supremes, Lia, Diva e Vicky (as três amigas da Barbie), As Moiras (Parcas) da mitologia grega... Sei lá, algo de tipo. Lindsay Lohan (a "queridinha" da América), Rex Lee (carinha popular em seriados) e o blogueiro Perez Hilton (fofoqueiro de carteirinha).   

O legal é que isso não é apenas cena de seriado norte-americano. É realidade em tantas escolas e espaços acadêmicos bem próximos de nós. Sistemas de controle, seleção, avaliação, vigília e punição de corpos. Se pensamos que esses dispositivos de poder são coisas passadas, tipo da inquisição, doce engodo. Essa é uma das práticas mais contemporâneas, usadas nos espaços que imaginamos ser os mais esclarecidos, sábios e conhecedores.

Entre as perguntas que ficam caladas no íntimo... 6,5 é quanto eu valho? O que em mim te afronta para inscrever no (m)eu corpo essa cifra? Dos conceitos, imagens e gestos que mostro, algum te desaloja? Aponte-me onde errei e não fuja de minha presença, qual criança que fez algo escondido, sem pelo menos encerrar a sessão que você abriu.

A vocês, Moiras, "capazes" de cortar o fio da vida, mudar os rumos de uma trajetória, silencio e dedico uma canção. Ela expressa meus sentimentos de fracasso, derrota e sensibilidade para acolher a sentença que vosso poder determina. Com um "P" na testa, sigo em frente, deixando claro que este é o sentido de um perdedor como eu.


Foto de Odailso Berté 

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