1 de outubro de 2012

VI Seminário... o/a DaNçA Vianna segue movendo e aproximando corpos

Só uma visita, um encontro, um olhar, não podem definir um lugar, uma pessoa, um grupo... Não que definir seja algo primordial... Mas a visita, o encontro, o olhar, o estar com, podem dar a conhecer traços, gestos e afetos que tocam, marcam e se prolongam pelo corpo, pedindo retornos, reencontros, continuidades. Assim começo a relatar alguns afetos emergidos durante o VI Seminário de Dança da Faculdade Angel Vianna - RJ, realizado entre os dias 27 e 29 de setembro de 2012, organizado por Helia Borges e Marina Magalhães.

Como agora ao recordar para escrever, destaco, ao início do evento, minha hesitação e euforia em conhecer a sábia dançarina de quem ouço falar desde que, aos 10 anos de idade comecei a dançar... Angel, a companheira de Klauss, a mãe de Rainer... A matriarca da família Vianna - o trio que deu traços particulares para a dança no Brasil. Uma família que ampliou seus laços para além de muitas fronteiras... É possível ver e sentir o/a DaNçA Vianna (se) movendo (em) tantos corpos pelo mundo.

Angel Vianna

A sede da Escola e Faculdade Angel Vianna beija-nos o olhar já na chegada, como uma casa, um lar, um aconchegante ambiente onde pessoas/corpos se encontram, aprendem, ensinam, dançam... Em meio a rostos, sorrisos e corpos tão receptivos ao encontro, lá estava ela, pequena e tão grande ao mesmo tempo, sorridente, segura, acolhedora, dançante em cada mínimo movimento, rodeada de amigos/as e admiradores/as. Hesitante, contemplei sua imagem alada envolta em tecidos vermelhos (que adorna a entrada da Escola) e aguardei por um momento que me permitisse abraçar e ouvir uma pequena palavra daquela a quem o nome me evoca uma imagem que indica seu modo de ser: ANGEL!

O Seminário, já em sua sexta edição, estruturou-se como um instigante entrecruzamento de pesquisas em dança, escritas e dançadas. Todas teórico-práticas ao mesmo tempo, se entendermos que os procedimentos sensório-motor e conceitual-abstrato do corpo nunca agem separadamente, conforme propõem Lakoff e Johnson no desafiador livro “Philosophy in the flesh” (1999). Entre interpeladoras proposições, pesquisadores/as e artistas relataram acerca de suas compreensões, modos de ver/pensar/fazer dança. Aproximações e diferenças demonstraram que a construção da dança, enquanto área de conhecimento, no Brasil, vive momentos de intensa busca e abertura de caminhos.

Letícia Nabuco, "A sua violência, A minha violência"

Entre as tantas interpelações e perguntas que as reflexões do VI Seminário trouxeram, destaco: A arte/dança somente deve servir ao gosto? Em que medida a arte/dança produz conhecimento? Que modos de conhecimento cabe à arte/dança construir? Que contribuições a relação arte e ciência vem agregando à dança? Como o próprio VI Seminário de Dança da Faculdade Angel Vianna, entre tantos outros eventos de pesquisa em dança, e os cursos de Graduação e Pós-Graduação em Dança espalhados pelo Brasil vem contribuindo para construção do conhecimento em/sobre/de dança? Como podemos considerar as pesquisas de cada participante do VI Seminário como diferentes formas de conhecimento em dança?

O corpo, que é teórico e prático ao mesmo tempo, constrói conhecimento por meio de suas ideias, sentimentos, emoções, razões, afetos, que agem sempre indissociadamente. Assim vi, experimentei e compreendi a mistura de corpos que permeou o VI Seminário. Corpos que, entre discursos mais apaixonados ou mais contidos, sentados em cadeiras ou no chão, mais ou menos móveis, falantes ou ouvintes, questionados e questionadores, demonstraram o esforço de ações concretas que vem construindo modos diversos de conhecimento em dança em suas relações com arte, educação, filosofia, clínica, política, em diferentes lugares do Brasil.


Associando-me ao que, sabia e delicadamente, disse Marina Magalhães durante a penúltima mesa do VI Seminário, Angel Vianna tem talento para congregar, aproximar, pessoas, danças, conhecimentos... O evento, Angel, cada pessoa/corpo participante, em seus diferentes modos de ver/pensar/dançar, deixaram marcas e vontades de voltar, lá estar, construir, conhecer, dançar... É como se a/o DaNçA Vianna seguisse com cada um de nós participantes, movendo nossos afetos, ideias, vidas... Fertilizando nossos pensamentos e sentimentos, fazendo do (m)eu corpo um gerador/propositor de dança enquanto um modo particular de se mover, se comunicar, se relacionar e intervir no mundo.

Odailso Berté
Coreógrafo, dançarino, professor e pesquisador em dança contemporânea
Doutorando em Arte e Cultura Visual - UFG
Mestre em Dança - UFBA
Especialista em Dança - FAP
Licenciado em Filosofia - UPF

Foto com Angel Vianna capurada aqui.
Demais fotos de Odailso Berté.

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