25 de novembro de 2012

Quando a dança 'Por Acaso' gera (des)construções

Pensando sobre crítica de dança, apreciação artística, análise estética... Ser mais romântico ou mais rigoroso? Ser marxista, positivista, semioticista, subjetivista? Ser popular ou erudito? Vulgar ou enrustido? Descrever uma experiência de construção de sentidos/significados? Narrar uma particular relação com a obra/evento/dança? Dizer ‘gostei’ ou ‘não gostei’? Apontar ‘que bom’, ‘que tal’, ‘que pena’? Determinar o que eu ‘acho’ que o autor quis dizer? Direcionar o olhar dos outros com o meu ‘achado’? Os caminhos se cruzam, as possibilidades se misturam, as vontades se abraçam.

Skatistas, patinadores, uma galera do ‘cachimbo da paz’, casais apaixonados, homens que usavam o WC feminino, música sendo ensaiada, nuvens prometendo chuva, uma bela de rosa e preto que performava poses sensuais... Entre tudo isso e tantas outras formas de vida, ação, movimento, que compunham o cenário da Praça Universitária de Goiânia/GO, no dia 24 nov. 2012, aconteceu o “Por Acaso – Tardes de Improviso”, sob coordenação do Por Quá Grupo Experimental de Dança, dirigido por Luciana Ribeiro.

Como o próprio grupo descreve, Por Acaso – Tardes de Improviso é uma jam session que busca reunir artistas para improvisar músicas e danças quentíssimas. Costumeiramente, acontece na Fábrica Cultura Coletiva, todavia, por ocasião da Mostra de Arte Insensata (22 a 24 nov. 2012), a sessão de improviso deslocou-se da Fábrica para a Praça. Dialogando com a cidade e com artistas, o Por Acaso objetiva criar encontros, intervenções e experiências sonoras, físicas, plásticas e visuais.

Esses entrelaçamentos de sensações/sentidos/experiências – que não prescindem do pensamento, pois tudo está junto no corpo – possibilitam modos de apreciação da dança que se articulam entre o assistir e o dançar junto. Ver e fazer seduzem um ao outro e se (con)fundem, abrindo possiblidades de apreciação, envolvimento, diversão, criação, diálogos sensíveis e estéticos. Os corpos, literalmente, caem na dança. Do mais ao menos iniciado, todos dançam, esgarçando as fronteiras da dança enquanto arte, área de conhecimento, profissão, entretenimento, evento social, ação-pensamento do corpo. Quer arte mais (in)sensata que isso?

Por Acaso possibilita pensar-sentir-fazer questões em torno da acessibilidade a artefatos e obras artístico-culturais; a democratização da experiência estética; a desfronteirização palco/platéia; criações coletivas; relações corpo e ambiente; contemplação e participação; crítica e apreciação; etc. Múltiplos vieses de interpretação emergem quando a dança aponta para além de si própria, abrindo canais para, por meio do corpo, ver o mundo.

Suor, ideias e sentimentos emergem do corpo ao ver os demais corpos imersos na dança e ao deixar-se envolver, dançando junto. E o crítico, é o que fica diante de? É o que se relaciona com? É o que discursa sobre? É aquele que fala o que ele próprio faria se fosse o artista?  Lembrando o filósofo Jacque Derrida, talvez a ação do crítico possa ser entendida como uma (des)construção. Crítico é o (m)eu corpo que, tocado pelo que vê, imerso no que experimenta, configura uma fala acerca disso. Esta fala pode não ser mais o visto e experimentado e sim uma desconstrução, uma outra construção, um dos possíveis modos de ver, dizer, interpretar aquilo.

Odailso Berté
Coreógrafo, dançarino e pesquisador em dança contemporânea
Doutorando em Arte e Cultura Visual - UFG
Mestre em Dança - UFBA
Licenciado em Filosofia - UPF
Fotos de Odailso Berté

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