Romeu e Julieta, A Bela e a Fera, Alexandre e
Heféstion, Frida e Diego, Lampião e Maria Bonita... Nega e Lilu. Reais e
fictícias, épicas e populares, estas e outras histórias compõem nosso
imaginário e traduzem diferentes formas de amar. Misturando sutilezas e
intensidades afetivas, o espetáculo “Nega Lilu” impacta, comove e questiona
acerca da busca da plenitude do amor, em apresentação realizada no dia 11 de
novembro de 2012, no Teatro Goiânia.
Flora Maria e Valeska Gonçalves (foto de Lu Barcelos)
Com ousadia e sensibilidade, a coreógrafa e
bailarina Valeska Gonçalves da Nega Lilu Cia de Dança faz uma transposição do
verbal ao gestual sem produzir caricaturas ou personagens estereotipados. Em
vez de narrar linearmente o romance, a coreografia descarta obviedades captando
e traduzindo sensações e estados das protagonistas. Estes sentimentos passeiam
pelos corpos das bailarinas seduzindo e engajando o público a descobrir,
encontrar, construir quem é Nega e quem é Lilu. As surpresas, emoções, tensões
e reflexões geradas pelo espetáculo, criam uma atmosfera de diálogo entre arte
e vivências, possibilitando que o espectador entrelace a dança com suas
próprias experiências afetivas.
Os auges e tropeços, tão característicos nas
relações amorosas, ganham visceralidade com a instigante interpretação das
bailarinas Valeska Gonçalves e Flora Maria. Gestos detalhados e delicados
acentuam a profundidade de pormenores que estabelecem a reciprocidade entre
duas pessoas. A sonoridade de um sapateado flamenco entrecortado exacerba a lástima
e, ao mesmo tempo, a fortaleza de uma mulher lidando com a ausência.
Valeska Gonçalves (foto de Lu Barcelos)
A movimentação de um corpo em contato com uma
banqueta sugere nuances de uma sensualidade feminina que se enuncia entre
desejos e distância, escorregando dos fios de cabelo ao salto do sapato. São
genialidades coreográficas que possibilitam ver a dança não apenas como algo
sentimentalista, mas como uma inteligência do corpo que não separa sentir e
pensar.
Flora Maria (foto de Lu Barcelos)
O espetáculo de dança “Nega Lilu” constrói
corpografias a partir de um conto contemporâneo de Amor, mediado por contatos
físicos e virtuais, presenças e ausências. “Sem Palavras”, escrito por Larissa
Mundim, também vem sendo comentado, transformado e difundido pelas linguagens
da literatura, audiovisual, body art, street art e performance.
Na dança e no conto, os corpos escrevem uma
história que vale cada instante e inscrevem no corpo do espectador a sensação
de que o amor é eterno no tempo em que ele acontece. Estas escritas do/no
corpo, ao passo que nos deixam sem palavras, também possibilitam a enunciação
de mais de 100 palavras sobre amor, permanência, efemeridade, amadurecimento...
Que tão bem descrevem os ciclos de vida de cada pessoa.
Odailso Berté
Coreógrafo e pesquisador em dança contemporânea
Doutorando em Arte e Cultura Visual - UFG
Mestre em Dança - UFBA
Especialista em Dança - FAP
Licenciado em Filosofia - UPF
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