15 de novembro de 2012

Corpografias de Nega Lilu

Romeu e Julieta, A Bela e a Fera, Alexandre e Heféstion, Frida e Diego, Lampião e Maria Bonita... Nega e Lilu. Reais e fictícias, épicas e populares, estas e outras histórias compõem nosso imaginário e traduzem diferentes formas de amar. Misturando sutilezas e intensidades afetivas, o espetáculo “Nega Lilu” impacta, comove e questiona acerca da busca da plenitude do amor, em apresentação realizada no dia 11 de novembro de 2012, no Teatro Goiânia.

Flora Maria e Valeska Gonçalves (foto de Lu Barcelos)
 
Com ousadia e sensibilidade, a coreógrafa e bailarina Valeska Gonçalves da Nega Lilu Cia de Dança faz uma transposição do verbal ao gestual sem produzir caricaturas ou personagens estereotipados. Em vez de narrar linearmente o romance, a coreografia descarta obviedades captando e traduzindo sensações e estados das protagonistas. Estes sentimentos passeiam pelos corpos das bailarinas seduzindo e engajando o público a descobrir, encontrar, construir quem é Nega e quem é Lilu. As surpresas, emoções, tensões e reflexões geradas pelo espetáculo, criam uma atmosfera de diálogo entre arte e vivências, possibilitando que o espectador entrelace a dança com suas próprias experiências afetivas.

 Os auges e tropeços, tão característicos nas relações amorosas, ganham visceralidade com a instigante interpretação das bailarinas Valeska Gonçalves e Flora Maria. Gestos detalhados e delicados acentuam a profundidade de pormenores que estabelecem a reciprocidade entre duas pessoas. A sonoridade de um sapateado flamenco entrecortado exacerba a lástima e, ao mesmo tempo, a fortaleza de uma mulher lidando com a ausência.
 
Valeska Gonçalves (foto de Lu Barcelos)

 A movimentação de um corpo em contato com uma banqueta sugere nuances de uma sensualidade feminina que se enuncia entre desejos e distância, escorregando dos fios de cabelo ao salto do sapato. São genialidades coreográficas que possibilitam ver a dança não apenas como algo sentimentalista, mas como uma inteligência do corpo que não separa sentir e pensar.
 
Flora Maria (foto de Lu Barcelos)

O espetáculo de dança “Nega Lilu” constrói corpografias a partir de um conto contemporâneo de Amor, mediado por contatos físicos e virtuais, presenças e ausências. “Sem Palavras”, escrito por Larissa Mundim, também vem sendo comentado, transformado e difundido pelas linguagens da literatura, audiovisual, body art, street art e performance.

Na dança e no conto, os corpos escrevem uma história que vale cada instante e inscrevem no corpo do espectador a sensação de que o amor é eterno no tempo em que ele acontece. Estas escritas do/no corpo, ao passo que nos deixam sem palavras, também possibilitam a enunciação de mais de 100 palavras sobre amor, permanência, efemeridade, amadurecimento... Que tão bem descrevem os ciclos de vida de cada pessoa.


Odailso Berté
Coreógrafo e pesquisador em dança contemporânea
Doutorando em Arte e Cultura Visual - UFG
Mestre em Dança - UFBA
Especialista em Dança - FAP
Licenciado em Filosofia - UPF

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