27 de fevereiro de 2010

(des)complicando o amor

Que pretensão nos assombra quando se trata da lembrança de um amor que passou? Quais defuntos se reviram em nossos caixões afetivos quando recordamos as águas passadas do mar das paixões? Seria um suposto resgate do elo perdido? Poderia ser um remexer nas bagunças do sótão da memória pra limpar de vez e botar pra fora possíveis bugigangas esquecidas que não servem mais?

Meryl Streep brilha mais uma vez e inspira tantas questões pela sua tão verossímil atuação. Cada olhar é um mar de revelações. No filme "Simplesmente Complicado" (EUA, 2009), dirigido por Nancy Meyers, ela nos faz rir e chorar no enredo em que interpreta um mulher divorciada que se torna amante do ex-marido.

A personagem mergulha por complexas ondas de emoções quando revive encantamentos de outrora. Claro, isso é, simplesmente, complicado. O amor parece acordar como novo ardor, mais picante, com outros olhos e mais tempo para o companheiro do passado que agora se mostra diferente.

A situação é embaraçosa e cômica. A maturidade afetiva adquirida no período da separação precisa, nesse momento, mostrar seu grau de crescimento, seus pontos de segurança, seus níveis de certeza. É um engodo a se repetir? É o amor florescendo numa primavera mais propícia?

Por mais quente que seja o desejo se ascendendo, a memória afetiva do que se passou, já tatuada no corpo, tem muito a dizer e a fazer sentir. Que espécies cultivar, agora, no quintal do coração? Que dimensões dar à nova arquitetura da casa? É possível realizar aquela reforma há tanto tempo sonhada? Como perceber se continuamos cultivando um canteiro de hortaliças sem sabor? Como discernir se os sais de banho estão mesmo espantando os fantasmas?

Vale a pena conferir. Meryl responde as minhas e as suas questões e instiga outras com gestos que alegram e nos consomem de emoção. Faz-nos reviver sem bloqueios para reconstruir e seguir... Não mais voltar.

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