19 de agosto de 2010

Coreografia (d)escrita


Dançava ela um tanto atônita, debatendo-se por todos os cantos da casa. Entrava e saía de uma sala escura à procura de quem a tocasse. Excitada ao último grau de sua consciência, como a feia sonhando na vitrine.

Passava pelo corredor apressada, entrava nos quartos, mas ninguém cedia às suas necessidades. Nem altura aceitável ela tinha, baixinha, pitoca, nanica, toquinho, cotôco de gente.

Na sala, ela esperava que os personagens da TV inspirassem alguma (re)ação nos presentes. Mas nada, era como se ela não existisse, ou, existindo, nada causasse em quem quer que fosse.

No banheiro, até o chuveiro parecia negar-se a molhá-la. Nem água, nem gozo, nem suor, nem bebida... Se um líquido lhe fosse possível, seu nome seria lágrima. Pobre bicho...

Descia e subia as escadas procurando um corpo para sobrepor ao seu. Mas nenhum 'pax de deux' lhe foi proposto. Não sei se adiantaria para ela implorar a ajuda de algum santo. Pobre diabo...

Cansada de andar nua, tirou a toalha que a envolvia, vestiu-se, trancou o armário, engoliu a chave, não pagou a conta, morreu de desgosto. Aplausos...

Imagem do livro "Sex" de Madonna

Um comentário: