5 de fevereiro de 2011

Cisne Negro: a dupla personalidade do balé


O fabuloso enredo do Balé de Repertório “O Lago dos Cisnes” encarna numa construção cinematográfica que mistura suspense, drama e música. A lenda das mulheres cisne ‘Odete e Odile’, personalidades antagônicas, é revestida de sussurros e arrepios num lago vertiginoso de imagens espelhadas, profundas e obscuras.


“Eu só quero ser perfeita”, a frase da bailarina Nina, uma excelente atuação de Natalie Portman, que no esforço obstinado e descontrolado de protagonizar a Rainha Cisne em uma nova versão do tradicional Balé, mistura realidade e ficção, cruzando de maneira sinistra a vida e a arte.


Perfeccionismo pode ser uma das palavras que define o classicismo do balé, um estilo de dança que ainda se pretende a ‘base da dança’, quando na verdade, sem desmerecer sua importância histórica em transmutar a dança de evento social vivido para evento artístico assistido, é apenas mais uma entre as tantas modalidades de dança.


Rigor e virtuosismo talvez sejam os grandes fantasmas que perseguem as bailarinas clássicas: ser a solista, a primeira, a melhor, a princesa, a fada, a rainha cisne. Assim se esconde, sob o véu da ‘beleza artística’ que maquia a aura do balé, dores e lesões físicas, traumas psicológicos e uma disciplina quase nazista que seleciona certos corpos e descarta outros.


Ambos os cisnes, o branco – Odete e o negro – Odile, são vividos por Nina, tanto no papel que objetiva protagonizar quanto na vida de menina e bailarina meiga. Inocência e picardia, frigidez e volúpia sexual são os ingredientes de que precisa para viver a Rainha Cisne e é nos seus dramas cotidianos que ela os vai buscar.


“A única pessoa no seu caminho é você mesma”, frase que tenta questionar os objetivos alucinados da bailarina, de modo particular, e de toda pessoa, de modo geral. Alguns de nós talvez sofra com a tendência de culpabilizar os outros por nossos sonhos não realizados, quando, na verdade, somos nosso próprio problema.


Natalie Portman empresta à frágil Nina o poder de ser, além do inocente cisne branco, um cisne negro sedutor plumado a rigor, superando expectativas e arrepiando poros e olhares, penas e pesares quando sonhos são afogados num lago de anseios desenfreados.


Cisne Negro (USA, 2010), dirigido por Darren Aronofsky, assusta, questiona e comove possibilitando outros olharares para a dança e para o corpo que dança. Afinal, o que é a dança, uma doutrina de passos ou uma forma de pensar/sentir e mostrar isso com corpo?


Imagens capturadas em:
http://studioagra.blogspot.com/2010/12/cisne-negro-black-swan.html
http://www.cinemaemcena.com.br/ficha_filme.aspx?id_filme=5899&aba=detalhe

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