21 de abril de 2011

Com Pina Bausch, "para mim tudo é Japão"


Para Pina Bausch não havia limites entre céu e terra, tampouco desmistificações a serem feitas por quem vê um espetáculo seu pela primeira vez. Para esta coreógrafa, um dos gênios que teceu pontes entre os séculos XX e XXI, tudo pode ser motivo para dançar, desde os clichês até as formas mais indiretas de se referir a um conceito, uma pessoa, um lugar.

Em “Ten Chi” (Céu e Terra), espetáculo apresentado no Teatro Alfa em São Paulo, de 11 a 19 de abril de 2011, aparecem alusões muito concretas acerca do Japão experimentado pela coreógrafa e seus dançarinos durante a estadia na cidade de Saitama.


Situações corriqueiras, frases aparentemente esparsas, coreografias que se fazem parecer aleatórias, dramas e risos que aprofundam a atenção do espectador confeccionam uma trama complexa, permeada de poesia e de belas frugalidades humanas.

Um Japão sem gueixas, samurais e sushis óbvios. Um Japão onde a gueixa, o samurai, o sushi, o kimono, o rachi, podem ser eróticos, cômicos, dramáticos, complexos, elegantes e banais. Um Japão povoado de acontecimentos que podem ser sentidos como universais. Um Japão onde a tecnologia, a espiritualidade, o medo de terremoto e a caça às baleias, entre tantas outras, tornam-se situações vinculadas às escolhas que brotam das possibilidades advindas das relações entre corpos (est)éticos.


O sono como ensejo de sonhos, o nado como convite ao mergulho nas especificidades espalhadas pelo cotidiano. Perguntas como “Você sabe roncar?” e “Você sabe o que cai bem com champanhe? Eu!” fazem as situações vividas no palco atingirem um ‘entre-lugar’, que não é, e pode ser, tanto o popular quanto o erudito. Entre as tantas falácias de ‘anti – in – definição’ do que é contemporâneo, vejo na obra de Pina Bausch um exemplo concreto de um pensar-agir contemporâneo.

Uma baleia semi-mergulhada atravessa o palco permitindo espaços para os corpos se moverem. Essa baleia em momento algum é tocada pelos corpos, eles apenas dançam momentos da vida em torno dela, com afetuoso respeito e reconhecimento dos espaços que eles e ela necessitam para dançar e viver. Cálida e continuamente a neve vai caindo e cobrindo o palco de uma brancura esvoaçante. Baleia e bailarinos desenham um nado que em nada foge das doçuras e amarguras da vida, que podem ser vividas do Oiapoque ao Chuí, do Brasil ao Japão, de Ten a Chi.


Mais que ideias prontas a serem desmistificadas, Pina Bausch deixa perguntas que fazem o pensamento e o sentimento seguirem dançando depois do espetáculo.

Imagens capturadas aqui, aqui e aqui.

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