11 de julho de 2012

O Novo Mundo, sobre vestidos e penas, corpos e águas, perdas e banhos


Pocahontas sempre me foi uma personagem deveras estimada. Sua beleza, coragem, medos, ternura e irmandade com o ambiente e as demais espécies sempre me comoveram. Seu modo de ver os estrangeiros (invasores/colonizadores), ou seja, os diferentes, ainda me toca de modo particular.

Mais intrigado e apaixonado fiquei quando soube que Pocahontas não era só uma princesa inventada pela Walt Disney, e diga-se de passagem, entre estas, a mais desprezada. Seria porque para esse mercado, uma princesa indígena não é vendável? Enfim, Pocahontas foi uma importante líder de seu povo, por volta de 1600, no estado da Virgínia, Estados Unidos.

Entre memórias e poemas, como uma salmodia romântica e dramática, o filme "O Novo Mundo", dirigido por Terrence Malick, constrói uma narrativa aleatória e coesa para recontar a história da colonização dos territórios norte-americanos pelos ingleses.

O ritmo desacelerado da trama, sem desmerecer o drama e a força dos acontecimentos, torna mesmo as batalhas imagens/memórias que tremulam afetuosamente quando recontadas pelos personagens que encarnam os protagonistas da história passada. O cenário, que pertence ao território onde os fatos ocorreram, vivifica o enredo com pertinência impactante.

A fotografia se demora deixando pungente a perspectiva de imagens, ou melhor, a flexibilidade de um ambiente vivo que reconta e preserva, qual visita/mergulho in loco, impactos culturais, vestígios encobertos, memórias que pairam, pegadas apagadas, carícias trocadas, mortes lamentadas, acordos insanos. Como se nos desenhos geográficos de lá, ainda ressoassem as cantigas, as crenças, as chegadas, os beijos, os lamentos, os passos, os banhos, as partidas...

A suavidade da atriz Q'Orianka Kilcher, dá vida à uma Pocahontas terna e firme, que segue, às duras penas das escolhas que se interpõem, um caminho de perdas irreparáveis, mas que conecta corporalmente o cruzamento entre o velho mundo invasor e o novo mundo invadido. Sua sutileza simples e transparente dança no ambiente evidenciando a conexão humano/animal, cultura/natureza que hoje parece tão esquecida e devastada.

E o coração da índia princesa, quantos golpes acalentou, quantos dias contou, por quanto de amor definhou. Entre as penas que abandonou e o vestido que aceitou, um corpo vermelho permaneceu, tênue de certezas, laico de avarezas, prenhe de sentidos e livre para o fim que a esperava do outro lado das muitas águas. E o rio que ficou, chorou por não mais trocar com ela seus beijos molhados de amor.

Imagem capturada aqui.

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