13 de julho de 2012
Tecendo refrões antes da chuva
A lógica nem sempre resolve o problema. Ainda mais quando se trata dos nossos problemas. Será típico do ser humano almejar o que está além de sua alçada? Mas não me apetece o teor filosófico que pode ter a pergunta. Prefiro a insanidade cautelosa do sentimento.
Às vezes parece ser preciso buscar água na lua. Será isso, é preciso buscar água na lua? Não chegarei a tanto, tampouco transformaria areia em mar. Cada um na sua, areia areia, mar mar.
Fugir do problema sim, é possível. Mas esconder-se dele não. O bom senso toma parte da situação e reposiciona olhares e toques, somas e dividendos. Nada escapa aos princípios, nem o afeto. Desse modo, posso quase tudo, menos fingir que nada acontece.
Alienam-se os desejos aos mais remotos valores. Mesmo assim, encontraria um viés de caminho pela retina acesa, pequena e potente, que se deflagra em meio aos verbos trocados. Os ditos que aprendi desaparecem, mas essa fagulha reticente fica, pois precede o tempo.
Rir e chorar, viver e morrer, o caminho se faz no andar. Embora seja necessário enunciar a próxima pauta, o desligamento não é cartesiano, é merleau-pontyano. Pois implica sentidos, os cinco, e aqueles infinitos que imaginamos e criamos. No que vejo e que também me olha, visões deixam-se e encontram-se. Então você me olha e eu vejo que o caminho não é por aí.
Desmoronam sonhos, mas o mover das peças deixam outras formas passíveis de aconchego estético. E é por meio de refrões que teço cantigas para embalar os dias que seguem. Entre águas e possibilidades, tempos e olhares, mais uma vez entendo o que é e o que não deve ser.
Agora falemos da chuva, quem sabe...
Foto de Agno Santos.
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