20 de julho de 2012

Sobre flores, xícaras e espadas

Quantas similaridades e colisões podem haver entre xícaras e espadas, o pó da maquiagem e o suor do esforço de uma luta... De "O Tigre e o Dragão" a "Memórias de uma Gueixa", Michelle Yeoh e Zhang Ziyi corporificam identidades femininas vestindo-se de singelezas e rigidez, firmezas e ternuras.

A jovem Jen, vivida por Ziyi em O Tigre e o Dragão, embora ostente o obstinado sonho de ser heroína, está prometida em um casamento político. Seus intuitos se dividem ao conhecer Shu Lien, uma heroína vivida por Yeoh. Entre ser irmãs e inimigas, as vidas destas mulheres se cruzam através de tradições quebradas e intensas perdas afetivas. Ambas lutam em voos sagazes, medem forças, trocam (des)afetos e padecem com a irrealização de seus amores.


A pequena Chiyo (Ziyi), em Memórias de uma Gueixa, deixa seu labor de escrava quando Mameha (Yeoh) torna-se sua mentora. Pelas hábeis mãos educadoras de Mameha, em intensas artes e ofícios, Chiyo se torna Sayuri, a mais bela e importante gueixa do local. Entre os segredos de ser uma gueixa também vivem renúncias, humilhações, ostentações, pois mais que mulher, uma gueixa precisa ser uma artista: cantar, dançar, agradar e seduzir com o simples gesto de servir uma xícara de chá.


Estas imagens de sabor oriental, chinesas e japonesas, ainda se ligam à lenda da destemida Mulan. A jovem que para poupar o pai já convalescente do alistamento imperial, ocupa o lugar deste e assume uma identidade masculina dentro do exército. Uma pequena flor desabrocha em meios às adversidades, sob o peso da honra tradicional e o ímpeto de descobrir sua própria imagem.


As mulheres que me encantam são assim, destemidas, tênues e vorazes. São corpos-fêmeas que subvertem sistemas e confrontam tradições com o toque de palavras, beijos, punhos e perfumes. Sua fragilidade se faz força quando não se calam e desatam nós enroscados em suas gargantas, dedos e joelhos. Inclinar-se a injustiças é uma prece não atendida em seus milagres furtivos. Entre ser mãe, rainha do lar, heroína, bruxa, artista, freira ou prostituta, fazem-se mulheres, desenham histórias e comovem olhares de homens como eu.

Imagens capturadas aqui, aqui e aqui.     

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