14 de abril de 2012

Pina, com tua luz a claridade do mundo me hospeda*


Porque
Imagens
Nascem
Afetivamente


Como falar de uma obra que acaricia os sentimentos, abraça os pensamentos, enternece os conhecimentos, resignifica os acontecimentos? Pina Bausch já conseguia isso com a dança. Wim Wenders perpetua isso com o filme.


Wim articula seu filme com o elemento que movia a dança de Pina: as experiencias dos dançarinos. Lembranças, olhares, perguntas, imagens, falas, fatos que cada um viveu com ela, são pequenas maravilhas que desencadeiam e mobilizam a bricolagem não linear de cenas dos espetáculos (criados com pedaços das suas historias de vida). Essas cenas, recolocadas em cenários vivos, devolvidas ao cotidiano, geraram tão belas fotografias cinematográficas.


O modo como imagens mais antigas se encontram com imagens mais recentes - e vice-versa - sem corte, sem fade in e fade out perceptíveis, junta três gerações de dançarinos e trás a própria Pina dançando de novo no seu Café de memórias, (des)encontros e solidões. Pina e Helena - sua substituta em "Café Müller" - são duas e a mesma, ambas e uma só, com uma languidez única, olhos fechados e braços alados... Tudo isso nos chega por meio de câmeras que dançam com os dançarinos, um olhar cinematográfico que se move aos soluços, gemidos e gotas dos corpos enfocados.


Nesse passeio imagético entre arte e vida, estética e estesia, o 3D transborda a tela e se justifica em cada centímetro/segundo de sua presença. O corpo - eu e você - é tridimensional e, nesses sentidos, a tridimensionalidade da dança, a profundidade e perspectiva pluridirecionais do gesto/movimento, qualificam e dão a mais terna sensatez ao 3D do cinema.


Recordei com olhos umedecidos e garganta emudecida dos movimentos singelos de "Para crianças de ontem, hoje e amanhã", "Café Müller", "Sagração da Primavera" e "Ten Chi", obras de Pina que tive a honra, o desafio, o desejo, a carência, o prazer, a tristeza e a felicidade de ver, assentir, acolher, assistir, experienciar e guardar no corpo.


(Vi)ver o filme "Pina" (2010) foi uma experiência que acariciou meu ser infante, aprendiz, órfão e amante. Humano demais, me deixei banhar por cada imagem que ascendeu a saudade daquela que apenas beijei com os olhos e que segue coreografando todo meu dançar. Solícito ao conselho desta diva, eu danço, danço, danço, pois do contrário estaria perdido. Dançando, me acho a cada dia e disfa(r)ço essa minha orfandade que a claridade do mundo não mais hospeda sem a luz de Pina.




Imagens capturadas aqui, aqui, aqui.
*Paráfrase de fragmento do poema "O homem humano" de Adélia Prado.

2 comentários:

  1. Apesar de não "sentir" a dança e perceber a mensagem que ela quer nos passar com interpretações corporais, vou assistir ao filme!
    Não sei se vou gostar ou mesmo entender, mas pelo menos parece que a fotografia está primorosa! E, além das boas críticas que vi, parece que o 3D foi muito bem explorado no filme. Pelo menos foi o que disseram. Vejamos...

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  2. Belo post!
    Desde que vi o filme, totalmente leiga e apenas amante e apreciadora de tudo o que se faz com amor e empenho, estou fascinada por Pina.
    Esse filme é para ver, para ver, para ver...

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