"Irene", de Marcos Buiati
“Irene”, de Marcos Buiati, põe em relação três personagens
inspirados nas ‘cidades invisíveis’ de Ítalo Calvino. Sutilezas circenses
remetem as possibilidades interpretativas para imagens de filmes como “O
Palhaço” e “O Labirinto do Fauno”, criando uma rede de associações entre a
gestualidade dos dançarinos e as experiências do espectador. Entre mãos que
enxergam, olhares que tocam, tiras de tecido, bolinhas de gude e guarda chuva,
lúdico e afetivo tecem alegorias dramáticas por meio dos movimentos ternos e precisos
de José Villaça, Marcos Buiati e Paula Machado.
“Retalhos de Cetim” entrelaça a poesia musical de Benito Di
Paula, a acuidade coreográfica de Valeska Gonçalves e a visceral interpretação de
Flora Maria. Enquanto fragmento do Espetáculo “Nega Lilu”, da Nega Lilu Cia de
Dança, inspirado no conto “Sem Palavras” de Larissa Mundim, este solo condensa
instantes em que sensações de ambas as personagens do conto coexistem no mesmo
corpo. A coreografia exala sensualidade, paixão, saudade e convida o olhar a
vislumbrar diferentes formas de amar.
“Stamina”, coreografada por Gabriela Marques, mistura
diferentes intérpretes e inspirações como elementos naturais, desejos e a
relação mente e cosmo. Nessa rede holística, os jovens dançarinos alternam
formações coreográficas visualmente interessantes. Entre saídas e entradas,
determinadas formas de ocupar o espaço cênico e um figurino padronizado em tom
preto, o trabalho denota escolhas um tanto datadas no que tange a organização
coreográfica. A movimentação densa e maleável é instigante e, por vezes, sugere
que a intenção parece ser maior que a dança.
"Barcelona", de Martha Cano
“Barcelona”, coreografada por Martha Cano, com gestos dedilhados parece flertar com a possibilidade de ser ora ilustração ora
ironia da música. Com nuances espanholas e inspirada em
elementos de escritos de Suzana Cano, a movimentação cria cenas brincantes que
sugerem interligações entre infância, afetos, galanteios e aproximações.
“La Cosa”, enfatiza a sensibilidade da coreógrafa Valeska
Gonçalves em perceber as particularidades do corpo da intérprete Martha Cano. Criando
tensões entre mobilidade, flexibilidade e impossibilidade de deslocamento, a
coreografia dá destaque para certas capacidades do corpo, fazendo destas, motes
para a criação. Ao se inspirar no, tematizar o, se dar a ver no corpo, ‘La Cosa’
abre possibilidades para ver/pensar/entender o corpo não só como suporte da
dança e da representação, mas como sujeito que dança.
"No Crivo da Rosa", de João Paulo Gross
“No Crivo da Rosa”, de João Paulo Gross, mergulha fundo no
universo poético-literário de Guimarães Rosa e dilata tempos, imagens e
movimentos. Criando imagens que se metamorfoseiam, a coreografia (co)move e
guia o sentir-pensar do espectador por caminhos imaginários que podem ser próximos,
distantes, tortuosos, sem volta. Intercalando pó, poros e poesia, os corpos dos
intérpretes João Paulo Gross e Carolina Ribeiro traçam descobertas, inventam
percursos, trocam afetos, um no outro, um com outro, um para o outro.
Simplicidades e complexidades na configuração coreográfica situam uma pesquisa
de movimento que ora perambula no quintal daquilo que já sabe ora
salta a cerca desse quintal denotando algo novo e singular.
Entre memes conhecidos e replicados, alguns já transformados e outros inéditos, conforme os processos evolutivos naturais-culturais de expansão/transformação da dança, as coreografias que integraram o Cesta de Dança – 2012, cada uma a seu modo, instigam diferentes gostos, afinidades, identificações, opiniões, comentários e modos de ver do público goiano. Este, cada vez mais bem servido com eventos, pesquisas e criações de dança de diferentes procedências, configurações e estilos.
Odailso Berté
Coreógrafo, dançarino e pesquisador em dança contemporânea
Doutorando em Arte e Cultura Visual - UFG
Mestre em Dança - UFBA
Licenciado em Filosofia - UPF
Imagens de Odailso Berté e Larissa Mundim