Canções/performances do episódio 17 da 3ª temporada.
30 de abril de 2012
29 de abril de 2012
Homem de salto alto
Caríssimos, embora talvez isso não seja a mais relevante das preocupações de suas vidas, não virei travesti. Até porque, ninguém vira o que já não seja. A não ser que surte, penso eu. E ser travesti também não é tão mal assim, como se pensa por aí.
Ao pensar um look para uma festa temática ("So Pop"), quantas sensações experimentei. Desde a decisão de assumir um estilo próximo ao do grupo Kazaky, passar por lojas provando sapatos femininos e viver o homem que desliza sobre saltos altos numa pista de dança.
Não que tenha acontecido, mas fiquei lembrando do xingamento que desmoraliza muitos homens: "Mulherzinha!" É ofensa na certa. Ser chamado de mulher é ser xingado? Então ser mulher é uma condição humilhante? Engraçado, a vida toda forçamos as mulheres a se sentirem incluídas no termo homem e nem por isso muitas delas aparentaram sentir-se xingadas.
Vejam o que um sapato de salto alto pode nos levar a pensar, até discursos feministas ajudam a articular. Mas o fato não se deu sem auto-transgressões. Nas lojas, eu ficava mais sem graça que os vendedores - homens - que com gentileza auxiliavam-me a calçar os ditos. Não sei adivinhar o que pensavam, mas agiam sem qualquer estranhamento.
Na festa, os olhares eram variados: de estranhamento, de impacto, de surpresa, de dúvida, de euforia, de admiração, de encantamento, de "tanto faz". Não vou dizer aqui que para usar salto alto é preciso ser muito macho, pois soa tão piegas, machista e falso. Mas a sensação de por-se sobre os tacos, enquanto homem, e encarar outras pessoas, desconstrói versões inventadas de nós mesmos, aproxima-nos de outros modos de ser e se portar. Deixa-nos à vontade para assumir e reconstruir a cada dia nossa(s) identidade(s) móveis, flexíveis e processuais.
14 de abril de 2012
Pina, com tua luz a claridade do mundo me hospeda*
Porque
Imagens
Nascem
Afetivamente
Como falar de uma obra que acaricia os sentimentos, abraça os pensamentos, enternece os conhecimentos, resignifica os acontecimentos? Pina Bausch já conseguia isso com a dança. Wim Wenders perpetua isso com o filme.
Wim articula seu filme com o elemento que movia a dança de Pina: as experiencias dos dançarinos. Lembranças, olhares, perguntas, imagens, falas, fatos que cada um viveu com ela, são pequenas maravilhas que desencadeiam e mobilizam a bricolagem não linear de cenas dos espetáculos (criados com pedaços das suas historias de vida). Essas cenas, recolocadas em cenários vivos, devolvidas ao cotidiano, geraram tão belas fotografias cinematográficas.
O modo como imagens mais antigas se encontram com imagens mais recentes - e vice-versa - sem corte, sem fade in e fade out perceptíveis, junta três gerações de dançarinos e trás a própria Pina dançando de novo no seu Café de memórias, (des)encontros e solidões. Pina e Helena - sua substituta em "Café Müller" - são duas e a mesma, ambas e uma só, com uma languidez única, olhos fechados e braços alados... Tudo isso nos chega por meio de câmeras que dançam com os dançarinos, um olhar cinematográfico que se move aos soluços, gemidos e gotas dos corpos enfocados.
Nesse passeio imagético entre arte e vida, estética e estesia, o 3D transborda a tela e se justifica em cada centímetro/segundo de sua presença. O corpo - eu e você - é tridimensional e, nesses sentidos, a tridimensionalidade da dança, a profundidade e perspectiva pluridirecionais do gesto/movimento, qualificam e dão a mais terna sensatez ao 3D do cinema.
Recordei com olhos umedecidos e garganta emudecida dos movimentos singelos de "Para crianças de ontem, hoje e amanhã", "Café Müller", "Sagração da Primavera" e "Ten Chi", obras de Pina que tive a honra, o desafio, o desejo, a carência, o prazer, a tristeza e a felicidade de ver, assentir, acolher, assistir, experienciar e guardar no corpo.
(Vi)ver o filme "Pina" (2010) foi uma experiência que acariciou meu ser infante, aprendiz, órfão e amante. Humano demais, me deixei banhar por cada imagem que ascendeu a saudade daquela que apenas beijei com os olhos e que segue coreografando todo meu dançar. Solícito ao conselho desta diva, eu danço, danço, danço, pois do contrário estaria perdido. Dançando, me acho a cada dia e disfa(r)ço essa minha orfandade que a claridade do mundo não mais hospeda sem a luz de Pina.
Imagens capturadas aqui, aqui, aqui.
*Paráfrase de fragmento do poema "O homem humano" de Adélia Prado.
12 de abril de 2012
Sex and the Envy
Ele passou o dia ouvindo "I have nothing". E nem era a versão original, mas a interpretação de uma caloura do programa Raul Gil. Segundo ele, depois de Whitney, a melhor. Essa sensação de não ter nada deixou turvo seu olhar durante todo o dia e o fez sentir inveja de várias cores.
No ônibus, o casal "heterozinho" de adolescentes, pareceu-lhe irritantemente atraente, aos beijos e risos, ela sentada no colo dele.
A dupla de macacos, entre os tantos que transitam sobre os avarandados do campus, mesmo no ato de roubar comida, não se desgruda, um nas costas do outro.
Pela primeira vez seu facebook sugeriu entre as "pessoas que talvez você conheça", a possibilidade de adicionar seu ex. Mesmo tentado pelo afeto ainda latente, disse que não enviou a solicitação de amizade, tampouco abriu a página do sujeito. Pois sabia que lá estariam publicadas as fotos da nova relação, coisa que antes o tal ex nunca fizera.
Suspirou, várias vezes, por entre sorrisos simpáticos, vendo que um ex mais antigo, ao telefone, dava explicações verdadeiras para o novo namorado, de onde e com quem se encontrava no momento.
E foi atrás do enfadonho texto sobre arte funerária, da professora doutora que não sabia o nome do Mickey e chamava o Pluto de "cachorro peludo", que ele despencou suas memórias, afetos e invejas... Isso entre o odor de cigarro impregnado em sua mão e lágrimas bem discretas que percebi de longe.
Abandonou a carona e seguiu para casa a pé, sumindo entre os carros, as luzes e o escuro da noite. Antes ainda pude vê-lo ligar o mp3 e colocar os fones no ouvido para, certamente, entre as invejas remoídas ao longo do dia, ouvir outras tantas vezes a caloura repetir com límpida estridência: "I have nothing, nothing, nothing... If I don't have you".
Foto de Odailso Berté.
11 de abril de 2012
Sex and the Giving
Não tendo amor qualquer com que se preocupar, começo a perceber mais os amores dos outros. Coisa de quem não enxerga o próprio rabo? Coisa de quem mete a colher [...]? Dor de cotovelo? Nem tanto. Observo, ouço, vejo e comento comigo mesmo. I swear!
Lourdes, minha ex-top model predileta, terminou um namoro de seis anos - se não me falha a memória. Ele confessou a traição mas suplica o perdão dela. Ela tem se mantido firme, controlando as aproximações e as táticas de comoção da família que ele usa. Todavia, no último sábado, entre uma cerveja e outra, ela não resistiu, deixou seu senso crítico de lado e deu.
Wal, uma conhecida meio dupla personalidade, talentosa e mentirosa pra dedéu, anda naquela faceirisse de menina que volta a ser cortejada. Sabe aqueles telefonemas em que você fica meio que se derretendo, pingando e se coçando todo diante das coisas que o fulano do outro lado fala? Coincidência ou não, sempre que estamos juntos a danada recebe esses estímulos sensoriais ao pé do ouvido. O telefone funciona como vibrador. Affffff... A bonita voltou a dar.
Se isso mexe comigo? Talvez, afinal estou escrevendo sobre. Algo nisso me desafia no sentido de pensar: O que eu já dei? O que deixei de dar? Deveria ter dado mais? Ou menos? Dando a gente recebe? Devemos dar sem pensar em receber algo em troca?
Os momentos em que passamos sem dar e nem receber podem proporcionar um certo olhar de balanço diante do estoque de doações afetivas. Olhamos para o que não foi dado e está mofando, ocupando espaço, causando remorsos. Percebemos o quanto foi dado de bom e o tanto que foi dado em desperdício, que transbordou e, na verdade, só ocasionou cobranças do tipo: "se dei isso, quero receber de volta na mesma proporção".
Não sinto inveja de Lourdes ou de Wal, acho que se elas têm estoque e têm disposição para a doação, tem mais é que dar mesmo. Contente por elas e contido por mim, só observo as doações em meu entorno e sigo com meus balanços internos... Dando tempo, dando corda, não dando bola... Dando beijos nesses momentos que me dão chances de rever os dados e pensar no que pode ser dado.
Imagem do music video "LOVE" - Kazaky
Capturada aqui.
9 de abril de 2012
Sex and the Now
A trilha desses dizeres (que seriam ditos ontem) era para ser "I will always love you", na voz de Whitney Houston. Meloso demais? Dramático? É, talvez sim. E há uma estrofe da canção que se adequa ao que ainda penso/sinto:
Eu espero que a vida te trate bem
E espero que você tenha tudo que sonhou
E desejo pra você prazer e felicidade
Mas, acima disso tudo, eu desejo pra você amor.
Embora forte e esperançoso, penso que refrão seja dispensável. Prefiro seguir com "Love", do Kazaky, que em meio a uma estética queer segura de si e com uma letra pop bem simples, me diz muito, agora:
Você me quer
Você me ama
Você me odeia
Eu não me importo.
As canções vão compondo enredos, dando tons e notas que orquestram o modo como organizo a dimensão amorosa do momento. Foi difícil chegar nesse grau de pouca importância, mas aqui estou. Sem caso, sem outro, sem amor. Dando um tempo para mim, para nós, vós, eles.
Fazendo pose de estátua, escultura, vitrine-viva, manequim que quer ser visto, contemplado como obra na qual não se toca. Uma pintura de Michelangelo, uma escultura de Rodin, uma foto de Mapplethorpe.
Corpo em evidência que faz de calçadas sua passarela. Imagem que vê e é vista. Só isso basta por hoje. Amanhã talvez o look já seja outro. Moda que vai volta numa continuidade bem descontínua.
Livre, lento, lendo o que eu mesmo escrevo, só para corrigir e postar sem maiores pretensões. Porque amor, agora, é só uma palavra que conjugo com outras, faço textos, teço fatos.
A vontade que me adentra os poros é de sexo com a cidade, pura relação corpo - ambiente. Trabalho empírico de escritor que observa os agires urbanos e (d)escreve. Se deleita com o prazer dos outros, voyeur do cotidiano.
Imagem do music video "LOVE" - Kazaky
Capturada aqui.
6 de abril de 2012
Corpus Via Crucis by Madonna
Condenação
Primeira queda
Encontro com Madonna
A ajuda do Cirineu
Enxugando lágrimas
Segunda queda
Encontro com as mulheres
Terceira queda
Despojado de suas vestes
Crucificação
Morte
Pietá
Sepultamento
Ressurreição
Imagens do music video "Girl Gone Wild" (2012), de Madonna
4 de abril de 2012
I have nothing
Andei me perguntando com que corpo devo gastar meu verbo. Os dias andam comigo mas não respondem claramente minha interpelação. Convém fazer apelação, então? Ora "inter", ora "a", ando mesmo é pelado, nu com a mão no bolso, despido de amor.
Como metáfora, encarno a lei do terceiro excluído... É que aqueles dois já pertencem a outros dois. Assim me dizem as imagens, assim me dizem as chamadas. Mesmo que não sejam pra mim, articulo hermenêuticas sentimentais e percebo que só eu estou só.
Ainda sigo fazendo despedidas... Dos beijos, dos carinhos, dos gozos, dos filmes, das canções, das verdades e das mentiras, dos prazeres e das agonias. A leveza desse adeus decora os acenos que hoje já gesticulam sorrisos. Mas guardo ambos no corpo, num altar particular.
Parece que ainda não tive a sorte de vocês, ainda não estive na hora e no lugar certo. Talvez até já tenha passado por mim, mas não foi do agrado do acaso deixar a gente flertar. It's not right but it's okay.
Sem querer parafrasear Madonna, penso que meu filme, bem hollywoodiano, poderia se chamar "W.I.". Teria referências em "Nine", para tirar dos ex-amores um pinguinho de inspiração, só um pigmento de auto e hétero-expressão. Das suas iniciais eu tiro meios e fins, um roteiro denso e clean.
Ainda há uma cor que me faz esperar, adentrar mais em mim, do tipo... deixe estar... E a demora que agora mora em mim talvez um dia faça jus, trazendo um pouco do tudo capaz de empretecer esse nada.
Imagem: foto de Odailso Berté.
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