31 de outubro de 2010

Feliz noite das bruxas


À meia noite, duas bruxas engraçadas e encantadoras apareceram em pleno 'Acarajé da Dinha' espalhando gracejos entre as pessoas. Em estilo que mixava pitadas de Diva baiana, Madonna, Gaultier e Helloween, elas coloriram a noite de sorrisos.



Fotos: Carmi Silva

imagiNINE


Quando a novidade cênica do filme vem dos corpos, fica difícil não reconhecer beleza. Um novelo de novelas reais se desenrola quando a inspiração consiste em dar corda às recordações de vida. Amores, temores, olhares, afetos e destroços, todos envolvidos na trama conjunta de fêmeas perfeitas que transformam a criação de um homem. Em "Nine" é assim...


Foto: Odailso Berté
Imagem pintada na camiseta do Igor

30 de outubro de 2010

Sex and the Complicity


O que vem a ser a cumplicidade? Até que ponto podemos usar seu significado para qualificar uma determinada relação?

Ser cúmplice é ser conivente, é comungar de atos, pensamentos, sentimentos e entendimentos. Dizer que duas pessoas são cúmplices uma da outra é dizer que elas compartilham dos mesmos feitos, dos mesmos crimes, dos mesmos gostos, das mesmas atrocidades, das mesmas esperanças.

Trata-se de um alto grau de adesão um ao outro e de um nível de confiabilidade que, a priori, confere ao relacionamento e às trocas um comprometimento mútuo, a partir do qual, o bem estar do outro é sempre uma meta de ambos, custe isso o que custar. Portanto, qualquer elemento que possa minar o entrelaçamento é evitado, ou, sequer, cogitado.

Dizer-se cúmplice de alguém será uma tarefa simples? Será que estamos aptos a assinar embaixo e/ou assumir junto qualquer atitude que o outro possa tomar?

Penso que existe uma certa cumplicidade implícita nos corpos quando uma relação começa. Na chamada ‘química’, ou, empatia inicial, que faz com que duas pessoas se aproximem, já existe um grau de cumplicidade ainda não maturado pelo cotidiano da relação que vai dando a conhecer o que cada um é.

A cumplicidade do momento pode levar a uma cumplicidade de convivência e esta, pode vir a ser corrompida com o passar do tempo. Nossa cumplicidade humana pode ir encontrando outros aliados com os quais o crime pode compensar mais. Assim somos nós, no fundo, cúmplices de nós mesmos e do que mais nos convém.

Invocar o teor da cumplicidade para qualificar uma relação exige o cumprimento de cláusulas éticas anteriores a qualquer encontro. Como por exemplo, não mentir ao próximo. Cumplicidade não deveria ser uma palavra bonita que funciona só na ficção, mas uma prática que, quando vivida, faz dos pares uma amálgama curiosa e bem peculiar.



Imagens capturadas em:
http://picsdigger.com/keyword/timon%20i%20pumba/

29 de outubro de 2010

It’s personal, myself and I


Há quinze dias um passo importante começava a ser dado. Sair, mover e ver eram os verbos de forte entonação. Decisão triste, todavia sábia, de dar as costas ao amor à moda antiga. Às vezes, em plena consciência, poucos e bons goles de vodka nos levam a lugares inesperados.

Optei por fazer algo em causa própria. E foi, justamente, dançando, que me movi em direção a um par de olhos que me fitavam com expectativa semelhante. Antes de qualquer formalidade em palavras, uma formalidade corporal teceu cumprimentos táteis, sensoriais e gustativos.

Decidi aceitar a proposição que me soou segura, dócil e atraente. Cor, pele e calor tramaram uma espécie de troca em que tecer redes de carinhos era o imperativo. Ficar, estar, ser, naquele momento, davam uma dimensão extra da humanidade que almejo.

Por acaso, necessidade, coincidência ou mera conveniência, os corpos cúmplices disseram sim sem nenhuma palavra. E desde então, micro-acordos vem sendo fundados pelo desejo que percorre os olhos que veem, as mãos que pegam, os lábios que tocam.

O que vai derivar disso, não sei, o futuro é sempre incerto para tudo, quanto mais para as questões afetivas de corpos humanos mutantes. No entanto, não há uma só parte do corpo que não deseje ser acariciada por aquele jeito incomparável e irrepetível.

De hoje para amanhã, só consigo pensar que o ‘extraguinho’ que tange meus ‘desacertos’ já consegue deixar saudade de algo que há tempos eu não tinha. Que a viagem dure pouco e que tudo o que desejo, nessa contra-partida, dure muito. Sem deixar que a saliência transpasse a consciência, acho tão bonitinho repartir e tão bom sentir tanto em tão pouco tempo, em apenas quinze dias.

Foto: Odailso Berté

27 de outubro de 2010

"Mostre em vez de dizer"


Cozinhando na televisão, Julia Child foi pioneira na utilização das imagens em primeiro plano, para permitir o acompanhamento das mãos movendo-se de uma tarefa para a seguinte. Da mesma forma, as ilustrações de seu livro enfatizam os procedimentos mais difícieis a serem desempenhados pela mão.

Nas instruções de suas receitas, Child tem o foco voltado para a empatia em relação ao cozinheiro, para o protagonista humano. Sua linguagem é cheia de analogias, antes vagas que exatas, por um motivo específico: 'cortar o tendão da galinha é como cortar um barbante'.

Ser "como" alguma coisa mas não "exatamente o mesmo" faz com que o cérebro e a mão se concentrem no próprio ato de cortar o tendão. Existe também uma questão emocional nas analogias vagas: a ideia de que um novo gesto ou ato é mais ou menos semelhante a alguma coisa que já fizemos tem o objetivo específico de inspirar confiança.


(...) o especialista orienta antecipando as dificuldades para o novato; associam-se a simpatia e a preensão. É o método de Julia Child. (...) instruir de maneira expressiva.


Trecho do capítulo 6 (Instruções expressivas) do livro "O Artifice" de Richard Sennett
Imagens do filme "Julia e Julie"
capturadas em:
http://www.cinemaemcena.com.br/ficha_filme.aspx?id_filme=5320&aba=detalhe

Para resgatar a confiabilidade


“Estou bem, agora que vimos um ao outro”, disse o Unicórnio, “se você acreditar em mim, acreditarei em você”.


Frase do livro "Alice através do Espelho" de Lewis Carroll.
Foto: Odailso Berté

24 de outubro de 2010

Uma nova trilha


Olhando porta afora a trilha que se abre, me sinto vivo outra vez, autêntico nas singularidades que me cabem. Recomeço simples, encanto nos olhos, coração em batidas regulares.

Se quero que algo me encontre no meio do caminho, isso é coisa a ser dita e decidida sem impulsos preocupantes. Um dia após o outro e as coisas vão se encaixando. Se nessa estrada caímos do cavalo agora, logo depois as escamas é que caem dos olhos.

Se sinto falta de você, jeito bom de ser, é porque sou acostumado a viver e amar de cara limpa. Aos poucos a maquiagem de crise vai escorrendo e sorrir ao espelho não mais demonstra aquele ar irônico de vingança. Porém, uma certa radicalidade dita merecimentos.

Tudo o que tenho , agora, é uma coragem carente que desponta e encontra referências em marcos que antes me desencantavam. Uma estadia a prolongar? Uma chance para a cidade? Olhar as cores, as pessoas, as situações e os locais, sem sensações fugidias, deixa os olhos mais livres para se relacionar com as imagens.

Um glamoroso discurso visual e perceptivo é tecido cotidianamente, mas os poros tensos de pré-ocupação pareciam só dar ouvidos aos ecos mudos de amores falhos. Todavia, o corpo se reorganiza, processa os desassossegos e despede as pré-tensões angustiantes para apenas respirar uma alívio amigo que desenha afetos pertinho do coração.

Se garotos crescidos não choram, ainda preciso amadurecer mais um pouco. Mas essas gotinhas daqui, que se confundem com suor, expressam só uma saudade próxima, de quem atende chamados seguros e afugenta desconfianças apontando qualidades não mencionadas nos últimos tempos.

Enfim, nova trilha de ver, ouvir, sentir e viver...




Fotos: Odailso Berté

23 de outubro de 2010

Sex and the Apprehension


Ao tentar voltar à estrada depois de um acidente, como devem lidar os sensores em relação aos possíveis perigos? No que diz respeito aos estreitos caminhos do amor, como estar aberto e, ao mesmo tempo, ser apreensivo?

Nós humanos vivemos atando e desatando relações. Nossos convívios nos permitem tanto a necessidade quanto o receio do outro. As experiências nos mostram a que níveis pode chegar nossa humana e carente animalidade nos relacionamentos.

Gato escaldado pensa muito bem antes de passar outra vez pelo território do perigo. Os protagonistas dos relacionamentos findados podem ser considerados ‘mestres’ que deixaram alguma lição a ser considerada no caminho que segue.

Mas como não fazer das novas possibilidades de se afeiçoar palcos para fantasmas passados atuarem? Como deixar que cada experiência se desvele em sua especificidade? Como entender que cada corpo trás uma história diferenciada para dispor na relação?

Aceitar que cada momento é feito de dádivas e dúvidas nos ajuda a recompor as vias afetivas, deixando espaços de acostamento, caso uma parada seja necessária, e otimizando a legibilidade da sinalização, caso os visores embacem.

Acidentes são sempre imprevisíveis, todavia, o receio de que aconteçam não pode nos tirar dos trilhos. Amar continua sendo um caminho a ser definido pela nossa disposição em seguir adiante e pelas condições que se interpõem durante o trajeto. É difícil o andar, mas desistir da viagem é perder o rumo. Entre as idas e vindas, uma indicação de espera à beira do caminho, pode ser um sinal verde para seguir livre, ou, para ter esperança.

Imagem capturada em:
http://www.iconator.com/icon.php?IconID=1811528

20 de outubro de 2010

Big boys don’t cry


Sim, homens choram. E não há porque temer ou esconder isso. Mas o que digo é, apesar da dor e da decepção, sempre é possível recobrar as forças. E reencontrar formas de seguir pode ser uma forma de ‘engolir o choro’.

Não penso em autoajuda ao desenhar em palavras essa situação de vida, minha e de tantos outros. São nexos de cotidiano que reúno para dizer das coisas existenciais que, por mais banais que pareçam, desvelam o ser que vamos sendo.

Contos de fada nem sempre têm finais felizes, têm? Há um movimento a seguir para deixar de ser menino, entendendo que contos nem sempre são reais. São historinhas que eu conto, você contou, nós contamos.

Mas o bom é perceber que, apesar dos sustos, só estando abertos é que coisas novas nos vem, toques novos, olhares novos, canções novas... Para nos fazer sentir, de um jeito novo, o gosto de se afeiçoar. Parece tão corriqueiro, mas é verdade, depois da tempestade, vem o sol. Só, vale lembrar, que isso não nos dá o direito de lançar raios sobre as pessoas.

Grandes meninos choram, mas conseguem secar as lágrimas e tentar sorrir de novo, vislumbrando segurança e atração em situações inusitadas que, carinhosamente, mostram um caminho à frente.

I hope you know
I hope you know
That this has nothing to do with you
It's personal, myself and I
We got some straightening out to do…
(Big girls don't cry - Fergie)



Foto: Odailso Berté

‘The Black Eyed Peas’ is a ‘Fergalicious’


No horário marcado a atmosfera esquentou e o ar que, num coro unânime, a multidão respirava, tinha um delicioso gosto de ‘black eyed peas’. Logo na segunda canção do grupo, a bela Fergie, como uma Eva vestida de prata, com voz de cristal e cabelos esvoaçantes, nos convidava a encontrá-la no meio do caminho ao som de ‘Meet me halfway’.


O quarteto somava suas diferenças com simpatia e habilidade, alternando performances conjuntas e solos, que, na combinação dos tons de cada um, davam ao show uma harmonia efusiva, embalada num bom ritmo hip hop-dance e adornada por cores, traços e coreografias futuristas e tecnológicos.


Uma menção de destaque merece a cantora Fergie, que confere um brilho especial ao grupo. Regando cada performance com seu timbre cristalino, sua forte e sensual atuação e sua simpática presença, ela equilibra o apelo de diva que se instaura em seu entorno, mostrando de um jeito fascinante como integrar um grupo sem deixar sucumbir a própria identidade.


No enredo sonoro e visual que misturava canções mais antigas com as do novo disco ‘THE END’, The Black Eyed Peas embalou corpos, emocionou corações e deixou desenhadas bonitas lembranças na memória do público que compareceu ao Parque de Exposições, em Salvador/BA, na noite de 19/10/2010.


Dizendo sentir que a noite seria boa, ao som de ‘I gotta feeling’, o grupo The Black Eyed Peas se despediu sob uma chuva colorida de papel picado que regava de emoção os corações expressos nas mãos da multidão.



Fotos: Odailso Berté

18 de outubro de 2010

I want you so bad it's my only wish


Reconhecendo que, por vezes, somos borboletas inconstantes batendo asas num jardim cinzento, vemos a naturalidade com que ser ferido e deixar-se ferir acontecem numa cadência brusca e harmoniosa.

Noite e dia o vento da vida vai passando e transformando calma e habilidosamente as construções nossas de cada dia, as duras, as duradouras, as sentidas e as imaginadas.

Ao passo que leva, trás. Ao mesmo tempo que tira, põe. Outras mãos que, ao reparar os sorrisos ausentes no rosto da gente, tocam no lugar da fratura e parecem curar de um modo também natural. Bastava deixar-se tocar.

Cantar na janela, olhar-se no espelho e ver beleza, ter um momento de fama mesmo que o filme seja o triste relato da própria trajetória. Entre ser “Edie” e ser “Oda” pode haver certas ‘parecências’, principalmente, quando viver preso em si próprio depende de um toque.

Desejo único, árduo querer, intento íntimo de ainda ser feliz, amar e não ser só, pois não me basto.

Imagem pintada na camiseta do Oda (cartaz da peça teatral "Grey Gardens")
Foto e pintura: Odailso Berté

17 de outubro de 2010

Quando a vontade voltar para casa


Como filha pródiga ela saiu levando junto a esperança no amor. Arrastou consigo os ânimos de empenho e criação, tirou-me da boca o doce a ser mordido, levou de mim o gosto bom de sentir-se afeiçoado.

Qual moral devassa e devastada deixou em fagulhas o senso bom de verdade que eu tinha, fazendo-me desconfiar de sombras que nem existem, de sobras que em nada consistem. Usurpou-me um lado ainda não corrompido, um jeito ainda jovem de utopia ‘olho no olho’ que não temia um piscar de olhos e nem um desvio de olhar.

Mais que céticos, traumatizados, deixou meus sentidos de empatia antes dispostos a acolher que o ser humano é bom por natureza. Alheio a meus valores, fiquei sem reconhecer o interlocutor que antes dividia o travesseiro comigo e agora se parece mais com a estranha mão que embala o berço.

Tirou de mim noites com sossego de sono, invadiu meus sonhos trazendo pesos, pesares, pesadelos. O pedaço do meu coração que você comeu, ‘bicho papão’, mesmo que o processo seja árduo, há de regenerar-se.

Daqui a um tempo, quando a vontade arrependida revisitar-me num inesperado fim de tarde ou numa noite casual, quero poder, cordialmente, abraçá-la, dizer-lhe da falta que me causou e das coisas que aprendi nesse tempo de ausência. Verei além dos fatos em si e, de momento, acho que posso prever um toque acanhado da brisa movida pelas asas coloridas daquelas borboletas que causam friozinho na barriga.

Seja sempre bem vinda de volta, vontade minha!


Foto: Odailso Berté

16 de outubro de 2010

noite pop sem pautas 1 - Por mim mesmo


Agora não mais, eu não posso voltar a viver através dos seus olhos
Tantas mentiras
E se você não sabe, agora eu não posso voltar a ser aquela pessoa
Não mais
Eu nunca tive a chance de fazer as coisas à minha maneira
Portanto, agora é hora de eu assumir o controle



E eu não tenho medo de tentar por minha conta
Eu não me importo se estou certo ou errado
Eu vou viver a minha vida do jeito que eu sinto
Não importa o que houver, eu serei o mesmo, você sabe
Tempo para mim fazer isso sozinho

(On my own - Whitney Houston)

noite pop sem pautas 2 - Mais forte


Aqui vou eu, só comigo mesmo
Eu não preciso de ninguém, melhor sozinho
Aqui vou eu, só comigo mesmo, agora
Eu não preciso de ninguém, ninguém mesmo
Aqui vou eu, tudo bem
Aqui vou eu



Mais forte que ontem
Agora não há nada no meu caminho
Minha solidão não me mata mais
Eu sou, eu sou forte

(Stronger - Britney Spears)

noite pop sem pautas 3 - Diga a coisa certa


Das minhas mãos eu poderia te dar algo que eu fiz
Da minha boca eu poderia cantar para você outro verso que eu fiz
Do meu corpo eu poderia te mostrar um lugar que só Deus conhece...



Oh, você não significa nada para mim
Não, você não significa nada para mim
Mas você tem o que é preciso para me libertar
Oh, você poderia significar tudo para mim

(Say it right - Nelly Furtado)

14 de outubro de 2010

Laudes


Que a paixão saiba cuidar de nós
Que você beba do mel do sol
E que a sombra que o verão trará
Possa descansar seu corpo
Menino
Brincando na areia


Trecho da música 'Mel do Sol' de Oswaldo Montenegro
Foto: Odailso Berté

13 de outubro de 2010

Decoração em decomposição


Sou o coro de uma litania lúgubre, arrastada por inúmeras vozes familiares, sombras dos meus medos, tremores desse coração que balbucia sozinho: ‘eu ainda amo’.

Me ordeno sacerdote de uma liturgia lacônica, composta por ritos ásperos, um cálice trincado, uma altar de oferendas perecíveis, martírios de um coração que reza um ato de contradição: ‘eu ainda desejo’.

Entrego meu corpo a uma letargia lúcida, atrelada a tantas hemorragias sentimentais, cirurgias de vontades deixadas a esmo, curas improvisadas a um coração que chora por um transplante: ‘me tire desse corpo’.

Estou submetido a um lamento latente que ri das minhas perdas, alterna as pedras para meus tropeços e se gaba por desmanchar as redes tecidas pelo meu coração artesão: ‘trama de amor desfeita’.

Hidrato minha pele com lágrimas lânguidas, movidas por uma brisa leve que vem do meu norte entristecido, gotas salgadas de um mar desiludido que encontra sua encosta quando escorre e pinga no peito, indo tocar de leve o palpitar do mesmo coração que já submerge mudo.

Foto: Odailso Berté

versos do dia para pensar em como esquecer


O verão chegou trazendo a voz
Da paixão que escorre mel do sol
E incendeia o nosso coração
Menino
Brincando na areia.
(Mel do Sol - Oswaldo Montenegro)

É isso aí!
Há quem acredite em milagres
Há quem cometa maldades
Há quem não saiba dizer a verdade.
(É isso aí - Ana Carolina e Seu Jorge)

E quando a saudade insistir, insistir
Em chegar perto de mim
Imagino que você está aqui
Meu anjo, meu sonho, meu coração
Te amando, espantando a solidão.
(Imagino - Banda Calypso)

Eu conheço o medo de ir embora
Embora não pareça, a dor vai passar
Lembra se puder
Se não der, esqueça
De algum jeito vai passar.
(Estrada nova - Oswaldo Montenegro)

Foto: Odailso Berté

12 de outubro de 2010

Dedicatória a um coração menino



Mel do Sol
Tema da Branca de Neve


O verão chegou trazendo a voz
Da paixão que escorre mel do sol
E incendeia o nosso coração
Menino
Brincando na areia
Que o verão saiba cuidar de nós
Passageiros como a luz do sol
Que incendeia o nosso coração
Menino
Brincando na areia
Madrepérola de cores vãs
No vitral insone das manhãs
Que eu vi passar quanto mais
Menino
Brincava na areia
Que a paixão saiba cuidar de nós
Que você beba do mel do sol
E que a sombra que o verão trará
Possa descansar seu corpo
Menino
Brincando na areia


Oswaldo Montenegro

dói story


Depois dos noturnos pesadelos onde eu era abandonado por um amor em meio a congressistas desconhecidos, acordei. Como na época em que eu ainda tinha medo do sono, da noite, do escuro, amanheci para mais um dia da criança.

Revisitei as mãos carinhosas da mãe que me ajudava a descer das árvores quando eu não conseguia, a vontade de voar com a She-ra montado no Ventania, as garças brancas na aveia verde, as úmidas manhãs de inverno, a primeira coreografia que me fez ‘brincar de índio’, os especiais de natal da Xuxa, a coleção de figuras da Ana Raio... Tanta coisa.

Meus brinquedos, minhas vontades, minhas coreografias, hoje são outros, mais complexos e densos. Mas percebo que nada daquilo ficou perdido lá atrás, seguem intensificados em mim.

Meu rosto hoje tem traços adultos que à mercê de um simples olhar, uma lembrança, uma imagem, ganham tons infantes e novamente eu quero subir nas árvores, voar no Ventania e correr com as garças no meio da aveia.

Das garças, tenho uma imagem que ganhei de alguém especial. No caso da She-ra, comprei os DVDs. Mas da mãe não tenho mais as mãos.

No sol que agora se põe atrás dos prédios, findando o dia da criança, ouço um cantar que diz: “a tristeza tem sempre uma esperança de um dia não ser mais triste”.


Foto: Odailso Berté

Amar Perder Esquecer

Retratos coloridos que, queimados, ficam pretos, retratando queimaduras no próprio corpo, ao som de “retrato em preto e branco”. Um grande amor vivido, mesmo que a necessidade de esquecê-lo traga dores físicas. Um gosto corporal pela chuva, mesmo que venham os 40 graus de febre.

Situações dramáticas, graciosas e acadêmicas adornadas com o sabor literário de temas e nomes como ‘Virgínia Woolf’ e ‘O Morro dos Ventos Uivantes’. Cotidianos que misturam arte, intelectualidade, romantismo e vulnerabilidade.


“O que é o contrário do amor? O ódio? Não, é muito óbvio. O contrário do amor é uma constante perplexidade ferida.” Tessituras, texturas e textos que soam a naturalidade das questões vividas por humanos que assumem a existência com todas as suas nuances. Seus problemas são coisas comuns a humanos comuns: amor, morte, trabalho, moradia, etc. Seus problemas não beiram as trágicas dúvidas sobre a (homo)sexualidade, isso é algo muito bem resolvido pelos personagens em imagens onde ‘ser gay’ não é problema, mas uma entre as tantas condições humanas.


Diálogos afiados e inteligentes tornam a probabilidade deprimente da situação um cotidiano onde, entre outras coisas, se vive, trabalha, ama, sonha e sofre. Uma comum unidade, um trio de trocas de afetos, desgostos e prazeres que se demonstram sob o mesmo teto. Paredes coloridas, uma casa adequada por gostos que se discutem ou se lamentam.


Um banho de chuva na noite, um amor perdido, um guarda chuva, um gatinho perdido... Um gatinho que aparece à noite miando na janela, nova possibilidade de amar que necessita reparos e alívios:

“(...) respirar como respiraria uma montanha, fundamente, (...) um alívio selvagem: não mais depender do coração alheio. Não mais olhar o relógio com angústia, quando um atraso pode significar desaparecimento. Não estar mais ligada por um fio invisível a um corpo externo a mim do qual dependia minha paz.”


Quando esquecimento e perda dão-se as mãos na tentativa de atenuar a ferida deixada pelo amor... Assim, o corpo vai entendendo aos poucos que “o amor é sempre um pacto contra o tempo”. E que, portanto: “Esquecer mais do que nunca será ter perdido.”


Ana Paula Arósio, Arieta Corrêa, Murilo Rosa, Natália Lage e outros, com direção de Malu de Martino, fazem do filme “Como esquecer” (2010), baseado no livro “Como esquecer: anotações quase inglesas” de Myriam Campello, uma obra cinematográfica natural, forte e doce, em imagens para ver e não esquecer que somos assim, humanos que amam.


Imagens capturadas em:
http://www.m-appeal.com/M-Appeal.com/our_films/Seiten/SO_HARD_TO_FORGET.html
http://www.cinepop.com.br/filmes/comoesquecer.php

11 de outubro de 2010

Sex and the Hope


Quando, no jogo do amor, perdemos duas partidas consecutivas, ainda vale a pena apostar?

Há momentos em que parece mais viável não acreditar outra vez no amor. A sensação de que a esperança foi embora estimula o ceticismo e aciona todos os sinais de alarme quando um suposto perigo amoroso se aproxima.

Sentir na pele a partida de um bem querer nos torna meio ateus diante das juras de amor. Ficamos alijados daquela vontade boa de estar aberto para um flerte, uma paquera. Medo e descrença tomam posse do terreno que antes era habitado pelo amor.

A experiência de se desfazer, dia após dia, de um grande amor deixa doido o mais plácido dos humanos, mesmo que esse não demonstre. Refazer a imagem da pessoa amada, ver seus lábios, seus olhos, seus gestos e calar a vontade de tê-los novamente, transforma nossa condição humana relacional.

Aos poucos vamos embrutecendo o jeito de ser, encarando a realidade como ela é e aprendendo que romantismos são mesmo coisas de poemas, contos, músicas ou filmes. Alguns chamam isso de amadurecimento, perda da inocência. Outros, de perda da esperança.

Construímos muros e instalamos alarmes, enjaulamos a esperança. Queremos ser seguros e fortes a partir de nós mesmos, em outras palavras, queremos ser independentes. Não mais depender de outrem. Não mais deixar que nossos sentimentos se dobrem diante de outro. Não mais friozinho na barriga. Não mais sofrimento e lágrimas por amor.

O amor se foi a levou junto nossa esperança. Seguiremos, de agora em diante, mais pessimistas? Ou seremos mais precavidos antes de entregar nosso coração? A esperança é a ‘única’ ou a ‘última’ que morre?

Amar e esperar são dois verbos que não ganharão conjugação por um bom tempo em nossas redações. Serão apenas palavras, sem gerúndio, particípio e infinitivo, sem tempo. Guardadas no dicionário de erros de pronúncia. Palavras de efeito, rebuscadas, adornos de poesia, recursos de retórica.

Em tempos de ‘Comer, Rezar e Amar’, o que acontece com quem acredita só no primeiro verbo?

Imagem: obra "Hope" de George Frederick Watts
Capturada em: http://www.paintinghere.com/painting/Watts_Hope_430.html

Ao mestre com carinho


Luz! Câmera! Ação!



Cena: 'Entre a Cruz e a Charmosa'
Roteiro: 'Abraços volvidos'


Estampas nas camisetas do Wolney e do Oda.
Foto: Odailso Berté