27 de dezembro de 2011
21 de dezembro de 2011
da cor que me faz esperar
Não há um só dia dessa vida que a saudade não cruze o meu caminho, zombeteira, cortante e terna. Misturando prazeres e agonias, presenças e ausências, ela me faz destilar sossegos, lágrimas e coreografias entre canções que exalam as cores que me fazem esperar por algo que nem sei mais se pode acontecer.
Set Fire To The Rain - Adele
Rumor Has It / Someone Like You - Glee
Need You Now - Glee
Somewhere Only We Know - Glee
Masterpiece - Madonna
Na imagem, Odailso Berté e Rosí Martins
Foto: Wolney Fernandes
20 de dezembro de 2011
E a dança foi proibida
Outro dia me deparei com uma situação que recorda o conflito do filme Footloose: a dança sendo proibida.
O aviso incisivo proibindo "qualquer tipo de dança" chamou-me a atenção e despertou a curiosidade no sentido de: o que teria acontecido naquele local, uma calçada de fronte a uma avenida movimentada de Goiânia/GO, para que tal proibição fosse declarada? Que corpos ali se moveram e que movimentos teriam dançado para despertar tal repúdio?
Foi então que comentei o fato com um taxista que trabalha nas redondezas e ele me explicou com muita naturalidade o acontecido:
"O dono da casa de dança (bailão), que fica ali ao lado, proibiu, pois o pessoal vinha, ligava o som bem alto e dançava ali fora mesmo sem pagar nada."
Pois é... Fiquei pensando... Então, ali, só é permitido dançar conforme a música tocada na "casa de dança", dançar mediante pagamento, dançar em lugar fechado.
E eu que tinha imaginado que a proibição teria vindo de alguma instituição religiosa ou algo dessa ordem. Mas não, a "casa de dança" foi quem proibiu qualquer tipo de dança feita fora dela. Contraditório? Antidemocrático? Ou apenas pitoresco?
Foto: Odailso Berté
19 de dezembro de 2011
Com versão profana
Eu andava à deriva, me aventurando em novidades a cada dia que passava. A sede aumentava, eu queria mais, pois o calor do mundo tomava conta de mim.
Foi então que encontrei Ele...
Ele invadiu meu ser.
Ele tem poder.
Ele curou a minha sede.
Ele é dulcíssimo (muito doce).
Ele é rosa (rosa-chiclete).
Ele é de tutti frutti (de várias frutinhas).
Assim, me entreguei a Jesus, o glorioso guaraná de São Luis do Maranhão.
Foto: Odailso Berté.
27 de novembro de 2011
Somewhere only we know
I walked across an empty land
I knew the pathway like the back of my hand
I felt the earth beneath my feet
Sat by the river and it made me complete
Oh! Simple thing where have you gone
I'm getting old and I need something to rely on
So tell me when you're gonna let me in
I'm getting tired and I need somewhere to begin
I came across a fallen tree
I felt the branches of it looking at me
Is this the place, we used to love
Is this the place that I've been dreaming of
Oh! Simple thing where have you gone
I'm getting old and I need something to rely on
So tell me when you're gonna let me in
I'm getting tired and I need somewhere to begin
And If you have a minute why don't we go
Talking about that somewhere only we know?
This could be the end of everything
So why don't we go
Somewhere only we know?
(Somewhere only we know)
Oh! Simple thing where have you gone
I'm getting old and I need something to rely on
So tell me when you gonna let me in
I'm getting tired and I need somewhere to begin
And If you have a minute why don't we go
Talking about that somewhere only we know?
This could be the end of everything
So why don't we go
So why don't we go
This could be the end of everything
So why don't we go
Somewhere only we know?
Somewhere only we know?
Somewhere only we know?
(Somewhere Only We Know - Keane)
20 de novembro de 2011
Sobre ruínas e o que pode o amanhã ser
As nuvens vão escurecendo lentamente. O azul e o cinza vão se misturando na ausência do sol que se despede ao anoitecer. Promessas de noite e chuva tomam espaço e um vento carinhoso beija meu rosto e sussurra que o tempo, em seu rotineiro movimento de "ir passando", deixa ruínas atrás de nós.
Ruínas que podem ser apreciadas por seus traços estéticos, por serem vestígios históricos, por conterem toques e guardarem gestos em segredo misterioso, velado e impingido em cores concretas, amortecidas pelos dias que se sucedem.
Ruínas adornam o sentimento de quem recorda passados, desenha futuros e, apesar dos olhos umedecerem de vez em quando, deseja que sorrisos, falas e beijos contornem os lábios para que esboços de felicidade floresçam entre as pedras.
Ruínas trazem saudade, medo do incessante tic tac, mas também encorajam a vontade de resistir, de manter-se firme apesar da fome cronológica do tempo, esse deus invisível e onipresente que a tudo envelhece.
Ruir, sentir, passar, lembrar, seguir... Verbos que se fazem carne quando pedaços de ontem atravessam o hoje e configuram aquilo que pode o amanhã ser.
Fotos da cidade de Alcântara - Maranhão
11 de novembro de 2011
(a)mar vermelho
Quando música, filme, metáforas e saudade se misturam, acontece algo como se o salgado do mar adornasse meu olfato limpando a orla para brisas frias de inverno que vão e vem num diálogo táctil.
Amor em vermelho, como em Moulin Rouge, que reconfigura canções de tantos ditos em um único enredo, para tecer idas e vindas de um romance impossível. Ou amor que perpassa por outras relações e permance até o leito de morte, por meio de recordações fatídicas que são as únicas provas de um romance profundo, como em Ao Entardecer.
Amor, esse termo absurdo, patético e absorvente, que por vezes parece a saga bíblica do Mar Vermelho, mítico, grandioso, digno de fé. Um impossível a ser atravessado para chegar à terra prometida, uma espécie de paraíso onde corre leite e mel, promessa infinita de felicidade.
Dessas imagens inventadas, permanecem aquelas provocadas por uma canção, The Sea, que fala das marés que me trazem pra casa. Amar de braçadas e ficar sem porto desola qualquer marujo, de primeira, segunda ou centésima viajem. Apesar de tragado, hei de manter a cabeça acima do nível da água, mesmo que o coração siga encharcado e essa contradição dualista invada o texto. Há sentimentos que eu deveria deixar para o mar...
Foto: João Dalla Rosa Jr. e Odailso Berté
9 de novembro de 2011
Como Marilyn
8 de novembro de 2011
Homossexualidade explica criminalidade?
Revista Trip - out/2011
Filme Como Esquecer (2010)
Os homens e mulheres das imagens acima parecem criminosos?
Talvez outros/as, que vivem a mesma situação afetiva, possam ser. Mas, via de regra, uma coisa não quer dizer a outra.
Numa reportagem apresentada em 08/11/2011, Jornal Anhanguera 1ª edição - Goiânia, foi relatado o caso de um segurança preso e acusado de violência sexual contra menores, roubo, porte ilegal de armas e de distintivos oficiais, etc. Junto da barbaridade do crime, um pormenor no discurso da repórter pareceu inquietante. Diante de uma das fotos apreendidas, em que o acusado aparece vestido de mulher, a seguinte frase: "E aqui, nesta outra foto, ele aparece travestido e inclusive ele assume, realmente, ser homossexual e talvez isso até explique um pouco dessa perversão toda." Será???
De forma alguma gostaria de desqualificar o trabalho desta competente rede televisiva que diariamente leva informação para dentro dos lares de Goiânia e região. Apenas, a partir dessa fala, proferida por tantas bocas e em tantos lugares no dia a dia, pensar acerca de certos equívocos, desinformações e preconceitos ainda muito arraigados nas nossas atitudes, falas e posturas em relação aos homens e mulheres homossexuais.
A frase refere-se ao autor desses crimes hediondos, mas a condição afetiva "ser homossexual" diz respeito a tantos outros homens e mulheres que não são criminosos e nem pervertidos. E essa má associação entre uma coisa e outra pode reforçar preconceitos e atos violentos contra esses homens e mulheres.
Homossexualidade não é, em hipótese alguma, explicação para pedofilia, perversão, estupro e demais atrocidades. Dependendo de cada situação, caso, pessoa, pode haver possíveis relações entre tais questões. Da mesma forma e na mesma proporção com que a heterossexualidade pode estar associada a tais questões. É errônea a fala equacional: homossexualidade = pedofilia + estupro... Se fosse verdadeira, então todos os homens e mulheres homossexuais deveriam ser bandidos, estupradores, pedófilos, etc.
Pedofilia, estupro, violência, entre outras atrocidades, são atentados à vida, são crimes que devem ser combatidos, e os praticantes de tais atos, orientados e tratados com providências devidas. Agora, quando falamos de homossexualidade, trata-se de uma das formas que os seres tem de se relacionar, um dos modos de viver a afetividade e a sexualidade que, em princípio, nada tem a ver com a questão acima.
Os estudos de Luiz Mott, André Musskopf, Maria Berenice Dias, William Cesar Castilho Pereira (Antropologia, Teologia, Direito, Psicologia), entre tantos outros, têm auxiliado na compreensão do que seja a característica humana (e de outros seres) da homossexualidade. Fomos educados por uma sociedade cristã-ocidental dualista, branca, patriarcal, sexista e heteronormativa. Todavia, informar-se, aprender e respeitar são modos possíveis de desfazer preconceitos, atitudes e discursos homofóbicos - que também podem ser considerados atentados contra a vida.
7 de novembro de 2011
6 de novembro de 2011
5 de novembro de 2011
A pele que habito... lobo em pele de cordeiro
A impecabilidade almodovariana segue na medida certa do cinema não convencional, desta vez transitando entre a epiderme, a derme e a hipoderme.
As mínimas coisas que escolhemos fazer ou deixar de fazer, acarretam consequências previsíveis ou sequer imagináveis. Uma hora, um local, uma pessoa, certos ou errados, desencadeiam fatos que podem tecer diferentes rumos para uma trajetória. Assim é a vida, assim é trama almodovariana.
Sem nem passar perto do equívoco dualista "habitar um corpo", o enredo desfia o drama de um corpo-sujeito revestido por uma pele estranha. Experiência desoladora a de ter uma aparência exuberante que não lhe pertence. Vivência desconcertante o corpo estar revestido de uma pele que não é a sua.
Como entender a própria identidade quando, da aparência desta, restam apenas os olhos assustados?
O que nossa aparência pode dizer daquilo que realmente somos (ou somos forçados a ser)?
A quantas camadas de pele está nossa identidade?
O encontro de cores orquestrado por Almodóvar revela a delicadeza de um olhar sensível em encantar, motivar e questionar outros olhares. Os personagens hediondos, as mulheres incríveis, os gêneros duvidosos, os enquadramentos excêntricos, as situações polêmicas, tudo bricolado com a picardia ardilosa do "Pedrinho", o menino cineasta que constrói travessuras belíssimas em forma de imagens.
Para quem nunca duvidou da própria pele, convém se enxergar direito, depois de uma dose do elixir imagético do diretor Pedro Almodóvar. Nem precisa ser bom entendedor, as perguntas transpiram pelos poros involuntariamente.
"A pele que habito" (2011) pode deixar nossa indignação, ética, medos, emoções e preconceitos à flor da pele, como se as imagens nos tocassem causando arrepios e lágrimas bem no suspiro final, quando voltar para os braços da mãe pode (re)significar tudo.
Imagens capturadas aqui.
4 de novembro de 2011
Com a Capa e a Coragem
3 de novembro de 2011
O Palhaço... ventilando risos e dores
Nas poeirentas estrados do interior de Minas Gerais, diante de canavieiros apegados ao labor, a esperança passa montada na caravana de uma trupe circense. Assim, as belas imagens do filme "O Palhaço" (2011), dirigido por Selton Mello, sopram ventos de dramas, risos, silêncios e doçuras no picadeiro de nossa imaginação.
O gato bebe leite.
O rato come queijo.
Eu sou palhaço.
E você?
Sem tantas acrobacias, a simplicidade dessas palavras afronta as posturas cômodas em relação à identidade. Questionam metaforicamente acerca do que significa ter a identidade na mão. O documento verdinho e aquilo que identifica nosso ser no mundo que, por vezes parece complexo de conceituar, mas se nota no corpo, no que se faz, se diz, se expressa e que é de tantas cores.
Eu faço o povo rir.
Mas quem vai me fazer rir?
A vida artística itinerante evidencia, além dos risos e aplausos, certas ventanias que ameaçam as certezas da realização pessoal. Caso não se esteja seguro daquilo que se é, projetos e sonhos podem esmorecer. A magia do circo é tão humana fora do picadeiro.
A ternura de um pai que vê e ouve sem demonstrar que está olhando e escutando, instiga a saudade de casa, de aconchego, de proteção. Dá vontade de ser filho pra sempre. De pedir a benção antes de dormir. De ajudar nas tarefas cotidianas. De voltar pra casa e ser recebido com abraço apertado e lágrimas. De sentir de novo a brisa do lar.
Não se nasce com a identidade de artista. Talento não é dom que cai do céu. Ser artista é aprendizado, trabalho, esforço cotidiano, cansaços, aplausos, vaias e alegrias que se misturam ao longo da trajetória de cada um. A vida, a identidade, precisam ser constantemente ventiladas...
Imagens capturadas aqui.
2 de novembro de 2011
corpos que findam
E se a morte não fosse um vale de lágrimas?
E se o luto fosse sinônimo de festa?
Seríamos considerados loucos pela moral cristã-ocidental ou apenas diferentes, como os hermanos mexicanos?
Mas talvez pior que lamentar a perda dos que morrem, que é um sentimento sublime de seres que amam, é viver acreditando que "dentro de nós vive um ser".
Como assim? Se isso procede: quem sou eu? quem é o "ser"? e o corpo, é apenas um recipiente, uma casa, uma prisão? Que bobajada é essa?
Admiro o respeito com que os corpos mortos são tratados na cultura, fé, tradição em que fui educado. Mesmo que seja algo pesaroso, pois também é amoroso. E o pretinho básico até que cai bem.
Os corpos vivos também merecem o mesmo amor, pois corpo é o que somos. Se consideramos o corpo como uma coisa, não como a pessoa, então toda injustiça, violência e preconceito investidos contra ele são justificáveis. Afinal é uma coisa, não uma pessoa. É mesmo?
Não temos corpo como se tem uma casa, uma roupa, um copo. Somos corpos inseridos na cadeia evolutiva da vida. Até podemos imaginar um depois, mas demarcar espaços transcendentais, outras vidas, ou, que dentro de nós habita um ser soa quase como uma tragada além da conta no cachimbo da paz.
Embora seja triste assumir, morrer faz parte do ciclo da vida. Somos corpos que nascem, crescem, se reproduzem (ou não), amam, odeiam, erram, acertam e morrem. Somos corpos que findam e que deixam rastos no mundo, marcas em outros corpos.
Imagem capturada aqui.
1 de novembro de 2011
um por um
Os dias vão trocando de lugar entre si em cadência crescente e nós nos movemos dentro deles, passando por coisas, pessoas, momentos. Alternando situações, sentimentos, lembranças, esquecimentos.
Os acontecimentos vão sedimentando uma existência que leva o sabor das nossas escolhas. A degustação é cotidiana: picante, sem sal, gostosa, doce, amarga, azeda... Não importa, pois tem de ser provada constantemente.
O corpo eterniza as marcas daquilo que lhe é significativo. Sem rodeios e com a petulância que lhes é característica, tais marcas emergem e submergem conforme alguns trechos do dia a dia assaltam-lhes em seu sono na cama da memória.
E desse modo, embora sejamos seres relacionais, é nas clausuras subjetivas, de cara com a solidão, que juntamos os pedaços de vida, bricolamos desejos, saudades e perspectivas para tecer a constância do existir.
Todos os pedaços... Um por um, como diz a canção...
Imagem capturada aqui.
27 de outubro de 2011
15 de outubro de 2011
Sobre memórias, imagens, lembranças
Um ano depois. O que pode acontecer? Quanto pode mudar? Quem seremos? Onde estaremos? Nossas projeções determinam muitas das nossas ações, todavia, a existência é movediça, imprevisível, mutável e surpreendente.
Se há um destino, ele é extremamente flexível e maleável, sempre a mercê do acontecimento. Permanecem as lembranças de um ano atrás, as boas e as ruins. Procuro respeitar minhas memórias, pois causando dor ou alegria, elas me constituem e são insubstituíveis.
Cada pessoa deixa uma ausência própria, uma falta que, pelo menos pra mim, não se substitui com outra presença. Essa é uma lição aprendida. É preciso experimentar a perda, a lacuna, fazer o luto em meio ao féretro zombeteiro das memórias que dançam numa depressiva canção.
Para mim, Damásio está corretíssimo: Eu penso por imagens! Elas me constituem, tecem minha mente e meus sentimentos. Elas tem o poder de me derrubar, me prostrar, me fazer (arre)pendido. Elas vivem dentro e fora de mim. Algumas preciso guardar em compartimentos reservados. Preciso que elas me deem um tempo para poder articular uma reconstituição necessária.
Especificamente essas de que falo, nasceram há um ano atrás, emergidas de uma escolha sincera, uma entrega e tantas esperas. Um ano depois, não escolhi nada externo, nem títulos, nem privilégios, apenas a mim. E me contesto, me contenho, me constituo com essas tantas imagin(ações).
Imagem do filme "Brilho eterno de uma mente sem lembranças"
Capturada aqui.
5 de outubro de 2011
Elvis e Madona, um conto de amor (trans)viado
Quando o inusitado inunda nossa percepção de amor, risos e ousadia... O romance entre Elvis (Simone Spoladore), uma lésbica, e Madona (Igor Cotrim), uma travesti, ao parodiar os nomes do rei do rock e da rainha do pop, abraça nossos sentidos e dá um choque no preconceito.
Imagens capturadas aqui, e aqui.
Entre pizzas, um show, um bandido e um bebê, a trama tece possibilidades de ser, de amar, de se relacionar, de sonhar, de perder e ganhar. Spoladore e Cotrim desfiam sutilezas na interpretação fazendo de seus personagens pessoas de verdade, sinceras, bonitas, ousadas, meigas, ousadas, ciumentas, sonhadoras... Como todos nós, assim, diferentes e únicos.
Madona é cabelereira e sonha ser uma estrela. Elvis é entregadora de pizza e sonha ser fotógrafa. O cotidiano de ambas vai revelando detalhes e situações onde: a estrela tem um brilho que se expande do salão de beleza, pelas calçadas de Copacabana, até o palco; a entregadora de pizza, ao se deparar com as belezas frugais do cotidiano, registra e cria imagens a partir de um olhar sensível.
Para quem acredita que o amor vale a pena, independente de sua forma e dos padrões que regem a pretensa "boa conduta" das relações de gênero, o filme "Elvis e Madona" (2011), dirigido por Marcelo Laffitte, traz sentidos cheios de graça e de razão. Da ousadia, simplicidade e esperança de Madona, guardo a frase: "Às vezes a vida te tira tudo. Mas se você precisa e merece, no momento certo ela te dá de volta".
Madona é cabelereira e sonha ser uma estrela. Elvis é entregadora de pizza e sonha ser fotógrafa. O cotidiano de ambas vai revelando detalhes e situações onde: a estrela tem um brilho que se expande do salão de beleza, pelas calçadas de Copacabana, até o palco; a entregadora de pizza, ao se deparar com as belezas frugais do cotidiano, registra e cria imagens a partir de um olhar sensível.
Para quem acredita que o amor vale a pena, independente de sua forma e dos padrões que regem a pretensa "boa conduta" das relações de gênero, o filme "Elvis e Madona" (2011), dirigido por Marcelo Laffitte, traz sentidos cheios de graça e de razão. Da ousadia, simplicidade e esperança de Madona, guardo a frase: "Às vezes a vida te tira tudo. Mas se você precisa e merece, no momento certo ela te dá de volta".
Imagens capturadas aqui, e aqui.
2 de outubro de 2011
(vi)vendo proximidades
27 de setembro de 2011
... in Rio
Não me furto de pensar sobre o que poderia ter sido possível e não foi. Considerar possibilidades engrandece nossa atuação entre os demais humanos que estão à nossa espera e pelos quais esperamos. Convivo entre fantasmas que cantam ocultos em minha ópera afetiva e, assim, me esforço para resignificar certas experiências vividas.
O duelo entre a minha exigência e a sua displicência contornaram meus pensamentos e passeios pela cidade maravilhosa. O Rio é lindo! Merece os elogios que lhe são atribuídos. Lembro que há um mês me senti preterido por esse lugar. Troca justa. Meus contornos talvez sejam menos atrativos. Lá no fundo da minha percepção, imaginava pedaços do teu olhar encantado ao ver tudo isso.
Ao escrever isso, me dou conta que hoje somo outro dia 27 e quieto recordo aquelas celebrações a dois, coisas pequenas que inventamos e que vão ficando para trás. Considero que esquecemos facilmente aquilo que é superficial. Árduo é esquecer aquilo que com o tempo regamos e ganhou raízes profundas, difíceis de arrancar. Nada que uma viagem de duas semanas apague.
Mas ainda tenho três dias de Rio e, enquanto finda o Rock in Rio de um lado, de outro saboto a atitude de turista e descubro monumentos não credenciados, momentos a só, descanso, passeios despretensiosos, amizade rara que desponta à distância, cruza o tempo, traz risos e afeto para sobreviver muito mais tempo.
23 de setembro de 2011
Devaneio regado a merlot
Tomo tudo que me tem sido dito, feito, prometido, apontado, mentido, mostrado... E rezo sozinho, uma prece irônica, diante de uma taça de vinho, um cigarro e a música que diz tudo o que sinto agora.
Essa canção narra minha sina, habituada a amar depois da hora certa. Se eu pudesse, dava tudo o que tenho para que hoje fosse 27 de novembro de 2010. Eu já não sei bem quem sou e nem aonde vou, mas vim...
Não encontro moedas pelo chão, não vejo ninguém pra me abraçar nem pra me dar a mão... Nem sei se mereço. Talvez esteja querendo demais.
Minha carne dói. Cada músculo soletra as letras do nome bordado no teu uniforme. Íntimo desejo. Gosto amedrontado. Olhar incomum. Restos de amor em pedaços.
Ouvi dizer que você está bem... E nestes sorrisos encontro o muito que deixei para viver este pouco. Ah, tentei falar, mas você não soube ouvir.
11 de setembro de 2011
Rolling in the deep
Amanheci querendo uma imagem para dizer algo mais junto da linguagem comum das palavras. Uma imagem inspirada por uma canção. Um postagem motivada por um momento. Um homem impelido por um sentimento. Um corpo apropriado de um pensamento.
Volto constantemente para a canção que tem se feito um hino diário. Nela encontro uma força quase religiosa, como dizem por aí, embora eu desconfie disso. "Rolling in the deep", a qual recomendo para quem ainda guarda dizeres presos no espaço entre a garganta e o coração.
Não sinto nem penso as coisas num mundo de ideias, elas palpitam e ardem na carne. Nesses músculos, ossos e veias caminham inteligências que nem posso contar. Se as histórias que meus neurônios criam pudessem ser ouvidas a "ouvido nu", não poderia me responsabilizar pelos escândalos que causariam. Típico de um bicho de corpo.
A batida segue me dando os passos. Obediente e travesso, danço e persigo a melodia e na imagem realizo desejos não ditos, guardados depois da mensagem apagada. Simples como uma pomba e ousado como uma serpente, alimento meus demônios emocionais e permito que me amem errado até a corda arrebentar e o precipício tragar aquilo que poderíamos ter.
Assim, apocalíptico, sigo com meus afazeres que precisam mais das minhas energias do que certos princípios encantados que passam a noite no baile e deixam o principal chorando as penas de um velório romântico.
Imagem: fotografia "The Taser's Macrorgasmic Dominium Sense" (2009) de Alessandro Bavari
Capturada aqui.
9 de setembro de 2011
Dança como protesto afetivo
(M)eu corpo quando capturado pelo que ouve, vê, toca, faz festa, ritual, protesto. Sai à rua, se veste, se pinta, se enfatiza para demarcar espaços que são seus, terrenos e tetos dos quais não quer ficar sem. Esse corpo dança - se diz - se dá - se mostra - e assim dialoga com o mundo de outros tantos corpos.
Mais gordo ou mais magro, dando um mínimo de crítica aos padrões, me entorpeço de (des)afetos para deliberar vontades em tardes e noites que fazem irromper calores guardados, afoitos por se lançarem contra. Chama-febre que me tira da escuridão, me faz brasa. Rolando lá no fundo, transbordando por minhas arestas.
Se saudosa e desapercebidamente espio por cima do ombro, vejo se apagando atrás de mim aquilo tudo que podíamos ter tido... Daquele modo, incondicional. Coração, palma, mão... Brincando, em uma displicente forma de amar que destituiu a segurança de ficar. O aviso da perda iminente não foi o suficiente para demover sua armadura.
Dançar se faz meu protesto, minha quebra dos pratos, minha tempestade em quantos copos d'água forem necessários. Bebo a música, me embriago em sua batida e a inauguro como hino que me move a sacrifícios, liturgias profanas para desestabilizar quaisquer laços entre céu e terra, pois abomino, a cada dia mais, qualquer dualismo.
A lágrima e o suor desse corpo que sou se fundem no calor desse movimento que me escorre de ponta a ponta. E assim me refaço a cada instante, me entendendo como membro-bicho da evolução das espécies. Danço e derreto em afetos que ardem, protesto, vermelho, materialista, histórico, amante.
Imagens do vídeo clip "Rolling in the deep" - Adele.
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